O e-mail usado por Bolsonaro para fazer o login de acesso ao ConecteSUS era o de Cid até o dia da viagem para os EUA. Depois, o e-mail usado para “apagar” a vacinação falsa já era de outro. A PF quer explicações
A Polícia Federal identificou que o e-mail usado por Jair Bolsonaro como login de acesso à conta dele no aplicativo ConecteSUS foi alterado no finalzinho do governo. Ele passou de Mauro Cid para o coronel Marcelo Costa Câmara, auxiliar que seguiu ao lado do chefe pós-Presidência. O fato fez a PF pensar que Mauro Cid não atuou sozinho na fraude do cartão de vacina. Há fortes suspeitas de que houve associação criminosa.
Segundo a PF, o login de Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS estava associado ao e-mail de Cid até o dia 22 de dezembro do ano passado. No dia 21, foi gerado um certificado de vacinação do então chefe do Executivo com o registro falso de duas doses da vacina da Pfizer. Minutos depois, o e-mail de login foi alterado para o do coronel Marcelo Costa Câmara, então assessor especial da Presidência que foi nomeado para auxiliar Bolsonaro após o final do mandato.
Seis dias depois, em 27 de dezembro, os dados de vacinação de Bolsonaro foram apagados do sistema por uma servidora da prefeitura de Duque de Caxias (RJ), que justificou a exclusão com a anotação de “erro”, de acordo com a PF. O login usado já era de Câmara.
Havia dúvida por parte do entorno de Bolsonaro se não haveria restrições à entrada ou mesmo em alguns lugares nos EUA por conta da falta da vacina. Ele já havia sido impedido de entrar num restaurante por conta disso em outra ocasião (foto).
Deve ser essa dúvida que fez com que a fraude fosse perpetrada. Essa cronologia, bem como as suspeitas de irregularidades verificadas até aqui, será explorada nos depoimentos desta semana. Ainda faltam as oitivas de Bolsonaro e do coronel Câmara.
A mudança se deu porque Cid estava prestes a deixar a função de ajudante de ordens de Bolsonaro, informa a PF. Não estaria mais nesta função nos EUA. A partir de 1º de janeiro deste ano, o ex-presidente passaria a ser assessorado por oito auxiliares, sendo um deles o coronel Câmara, homem de confiança do ex-mandatário que viajaria com ele para a Flórida.
As vacinas registradas em nome de Bolsonaro foram inseridas no sistema da Saúde no dia 21 de dezembro do ano passado, às 18h59min e às 19h, antes de embarcar para uma viagem aos Estados Unidos. Segundo esse registro falso, o ex-presidente teria tomado a primeira dose da Pfizer em 13 de agosto e, a segunda, em 14 de outubro, no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
As quebras de sigilos das mensagens de Cid revelaram também uma atuação ativa na articulação do esquema de falsificação dos documentos de imunização, segundo a PF. Dados falsos de Mauro Cid e de sua esposa e filhas também foram inseridos no sistema da Saúde, segundo os investigadores, o que torna o faz-tudo de Bolsonaro beneficiário das fraudes apuradas.
Mauro Cid trocou de advogados após a sua prisão. Ele contratou a assessoria de Bernardo Fenelon, especialista em delações premiadas e em lavagem de dinheiro, o que foi interpretado como um recado de que não vai querer pagar o pato sozinho. O defensor anterior, Rodrigo Roca, também atua para Flávio Bolsonaro. Na sexta, os agentes vão ouvir a mulher de Mauro Cid, Gabriela Santiago, que também teve dados falsos inseridos no sistema do Ministério da Saúde.