
Seguem os principais trechos da coluna da jornalista inglesa que viajou à Síria em meio à batalha pela libertação de Alepo e desmistificou a organização Capacetes Brancos e, em especial, o filme premiado com o Oscar de melhor documentário, ‘Os últimos homens em Alepo’, que tentava glorificar a organização financiada pelos serviços secretos dos EUA e Inglaterra e que se propalava neutra e de resgate humanitário, na verdade dedicada a corroborar as versões de guerra química assacadas contra o Exército sírio, pretexto central para justificar a intervenção norte-americana quando os bandos terroristas financiados pela CIA desmoronavam rumo à derrota. (N.B.)
VANESSA BEELEY*
Os manequins dos terroristas denominados de Capacetes Bancos recebem um resgate excepcional por parte de Israel ao sul da Síria, atendendo a solicitação urgente da Otan.
É como se a história se repetisse nesta nova versão da operação Paperclip (a que resgatou criminosos de guerra nazistas para acelerar programas militares nos Estados Unidos). Desta vez, militantes da Al Qaida e organizações terroristas associadas são transferidos às pressas.
O papel principal dos Capacetes Brancos, agora resgatados, foi o de corroborar alegadas estórias de ataques com armas químicas sobre civis sírios por parte do Exército da Síria, para justificar a intervenção da coalizão militar montada pelos Estados Unidos, tanto direta, como por procuração (através do apoio a bandos terroristas na Síria) contra uma nação soberana.
Décadas depois da importação de cientistas nazistas para os EUA, antes da chegada das foças soviéticas, a América retira seus clientes extremistas que operam sob disfarce na Síria, para que sua verdadeira identidade não seja descoberta através da aproximação das forças sírias e russas às regiões liberadas.
Israel, com um governo que não se sente na obrigação de dar satisfações sobre o assassinato da enfermeira Razan Al Najar, que socorria manifestantes feridos em Gaza, atingida por uma bala nas costas, é flagrado em meio ao resgate de terroristas, com filmes nos quais se oferece chá e água a integrantes de facções criminosas e agentes da inteligência dos EUA e da Inglaterra que se deslocam em segurança para Israel em ônibus munidos de ar condicionado e, de Israel, são levados para a Jordânia.
Este último país já recebeu [até o final de julho] 400 destes celebrados “humanitários”. A sua exploração, no interior da Síria, pelos interesses intervencionistas, desonra os termos que se atribuíram, enquanto a Defesa Civil Síria e outras organizações de resgate médico recusam-se a correr da zona conflagrada onde dão socorro verdadeiro a civis vítimas de terroristas, negando-se a embarcar em ‘botes salva-vidas’ israelenses.
Não é a primeira vez que os Capacetes Bancos e bandos armados, aos quais dão cobertura, recebem proteção “excepcional” dos seus financiadores e apoiadores ocidentais.
Requisições especiais para a sua retirada de Alepo Leste e de Ghouta Leste foram submetidas a agências da ONU nas batalhas finais para a liberação destas duas áreas ocupadas por bandos extremistas bancados por Estados do Ocidente e do Golfo, incluindo os da Frente Al Nusra [famigerado bando que teve bandidos se orgulhando de comer o fígado de soldados sírios caídos em combate].
Em 16 de março de 2018, do representante permanente da Síria na ONU, Dr. Bashar Al Jaafari, declarou ao Conselho de Segurança da ONU: “O maior escândalo é que uma agência da ONU solicite a evacuação de 76 membros dos Capacetes Brancos de Ghouta Leste enquanto não dá a menor atenção ao risco de vida que correm milhares de civis”.
O maior escândalo, na verdade, é esta imersão do Ocidente no pesadelo de outra tentativa de mudança de regime que reduziu uma nação soberana a um palco de violência e conflito, destroçada por sanções econômicas que punem coletivamente o povo sírio por resistir a uma invasão e tentativa hostil de desmonte de seu Estado secular. Os mesmos grupos armados, que conduziram seus ataques brutais e sectários às expensas de seus financiadores ocidentais, também acabam de se valer dos serviços de Israel para escapar das consequências de sua violência e atrocidades cometidas contra o povo sírio, enquanto eram ajudadas e encobertas pelos “intocáveis” Capacetes Brancos.
* É fotógrafa e jornalista investigativa. Editora associada do portal 21st Century Wire e que tem concedido entrevistas à agência Russia Today – RT.