O estado de São Paulo registrou nesta terça-feira (2) o maior número de mortes por Covid-19 em 24h desde o início da pandemia, com 468 novos óbitos, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde. Com os novos registros, o estado chegou a 60.014 mortes provocadas pela doença.
As novas confirmações em 24 horas não significam, necessariamente, que as mortes aconteceram de um dia para o outro, mas que foram contabilizadas no sistema neste período. Os números costumam ser menores aos finais de semana e segundas-feiras, por conta da subnotificação nessas datas.
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde, também foram registrados 10.168 casos da doença nas últimas 24 horas, totalizando 2.054.867 casos confirmados do novo coronavírus desde o início da pandemia. A média móvel de casos diários está em 9.188 nesta terça.
A média móvel de mortes, que leva em consideração os registros dos últimos 7 dias e minimiza as diferenças das notificações, é de 259 óbitos por dia nesta terça. O número representa uma alta de 18% em comparação com o valor registrado há 14 dias, o que para os especialistas indica tendência de estabilidade. Como o cálculo da média móvel leva em conta um período maior, é possível medir de forma mais fidedigna a tendência da pandemia.
Nos últimos dias, o estado vem batendo recordes sucessivos de pacientes internados com quadros mais graves da doença. No sábado (27), o total de pacientes internados em UTI superou o valor de 7 mil pela primeira vez desde o início da pandemia.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o maior valor anterior durante o primeiro pico da doença havia sido registrado em 29 de julho, com 6.250 pacientes em UTI. A gestão estadual vê risco de colapso no sistema de saúde nas próximas semanas.
INTERNAÇÕES
As novas internações por Covid-19 aumentaram 18,3% no estado de São Paulo na última semana, em relação à semana anterior. A velocidade do aumento verificado nos últimos dias preocupa autoridades sanitárias, que temem colapso no sistema de saúde do estado.
Na semana entre 14 e 20 de fevereiro, em média 1.541 pacientes eram internados por dia no estado. Já na semana entre 21 de fevereiro e o último domingo (28), o valor saltou para 1.823 por dia.
“Precisamos da colaboração da população. Não adianta abrir mais leitos. Nós estamos abrindo, estamos expandindo. Estamos fazendo a nossa parte, mas nós temos a limitação, tanto de espaço, mas também de recursos humanos”, afirmou o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, nesta segunda.
De acordo com o secretário, as pessoas precisam colaborar para evitar aglomerações que possam disseminar o contágio pelo vírus.
“Nós temos que parar com a velocidade e a instalação da pandemia no nosso meio. Nós imploramos, nós já não pedimos, que a população colabore. Precisamos ter responsabilidade. Estamos todos no mesmo barco. E todos estamos em risco.”
MEDIDAS
Diante da piora da epidemia em todo país, autoridades e saúde e conselho de secretários pedem que medidas mais duras de restrição à circulação de pessoas sejam tomadas.
No estado de São Paulo, começou a valer na sexta-feira (26) a restrição de circulação das 23h às 5h, batizada pela gestão João Doria (PSDB) de “toque de restrição”. O objetivo é aumentar a fiscalização no período noturno para coibir aglomerações e festas clandestinas.
A medida, no entanto, não tem poder de proibição, e é diferente de um “lockdown”. Após a lotação de leitos, algumas prefeituras como a de Araraquara e de municípios do ABC paulista já decidiram adotar proibições que vão além do que é determinado pelo governo estadual.
HOSPITAIS PARTICULARES
Pelo menos quatro grandes hospitais privados da capital paulista, o Albert Einstein, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa e São Camilo, afirmam que atingiram nos últimos dias 100% de ocupação de UTI para internados com Covid-19.
Os hospitais afirmaram que já trabalham na abertura de novos leitos. Ao contrário da Prevent Senior que decidiu suspender as cirurgias eletivas para evitar superlotação, as unidades consultadas afirmam que continuam realizando os procedimentos considerados de não emergência.
Na semana passada, a escalada de casos de novo coronavírus, somada às internações de pacientes com doenças crônicas, colocou pressão em hospitais particulares de elite de São Paulo, que já operavam com taxas de ocupação superiores a 90% nos leitos de enfermaria e de UTI, considerando alas Covid-19 e para outras doenças.
Com 153 internados por covid-19, na manhã de segunda-feira, 1º, a ocupação total no Hospital Israelita Albert Einstein era de 100% para pacientes com o novo coronavírus e outras enfermidades. Na quinta-feira passada, 24, era de 99%, sendo a principal causa da lotação a realização de cirurgias eletivas que ficaram represadas nos primeiros meses da pandemia e foram retomadas. Mesmo com o cenário preocupante, por enquanto, o Einstein não prevê cancelar os procedimentos eletivos.
Dados divulgados nesta terça-feira, 2, pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz mostram que há 140 pacientes internados com covid-19, sendo 82 em unidade de internação e 58, na UTI. A taxa de ocupação é de 85% e 100%, respectivamente. Já a taxa de ocupação total para pacientes com o novo coronavírus e outras doenças é de 87%.
A Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP) afirma que também registrou na segunda-feira uma taxa de ocupação de 100% com um total de 97 pacientes com covid-19 internados. Desses, 47 estão em leitos de UTI e 50, em unidades de internação. Na semana passada, a taxa era de 97,87% nas UTIs.
Com cenário semelhante, a Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo afirma que na segunda-feira estava com 203 pacientes internados para tratamento de Covid-19 em suas três unidades, número que vem sofrendo oscilações. No momento, a taxa de ocupação dos leitos destinados à doença atingiu o nível máximo da rede.
“Novos leitos serão disponibilizados ao longo dos próximos dias. A maioria dos pacientes internados apresenta comorbidades e idade média em torno de 55 anos”, afirmou o São Camilo, que mesmo diante do momento atual mantém a realização de cirurgias eletivas.
Considerando as três unidades hospitalares, o Grupo Leforte afirma que está com uma taxa de ocupação de 99% de seus leitos de internação e UTI destinados aos pacientes com covid-19. Segundo a instituição, houve uma queda de 31% nas cirurgias eletivas desde o início da pandemia, em razão das restrições ou mesmo suspensões impostas por autoridades de saúde e pelo receio dos próprios pacientes.
“No entanto, desde o fim de 2020 esse volume vem sendo gradativamente retomado. Hoje, em todas as áreas, esses procedimentos estão sendo realizados normalmente, com a adoção de fluxos e equipes separados e a adoção de rígidos protocolos de segurança”, disse.
No Sírio-Libanês, as eletivas também estão mantidas. A taxa de ocupação total no hospital chegou a 96% na semana passada e a 91% nesta terça-feira. Segundo a unidade, há 170 pacientes internados com suspeita ou confirmação de Covid-19, sendo que 49 pacientes estão na UTI. Levando em consideração todas as enfermidades, 497 leitos estão ocupados.
Já a taxa de ocupação dos leitos para pacientes com Covid-19 no Hospital 9 de Julho retornou nesta segunda-feira para 85%. Na unidade, além de tratamento para o novo coronavírus, as especialidades mais procuradas são oncologia, urologia, ortopedia, neurologia, gastroenterologia e intervenções em casos de politraumatismo.
“Desde o início da pandemia, o Hospital 9 de Julho criou fluxos seguros de atendimento para pacientes com covid, com alas separadas das alas não-covid”, disse, em nota.
Em contrapartida, para evitar superlotação diante do avanço da covid-19 e surgimento de novas variantes, a Prevent Senior decidiu suspender a realização de cirurgias eletivas e consultas presenciais de casos sem gravidade.
Segundo a maior operadora de saúde voltada ao público da terceira idade, a decisão foi tomada para proteger seus mais de 500 mil beneficiários. “As consultas já agendadas serão realizadas por telemedicina nos mesmos horários e datas, sem prejuízos aos pacientes”, disse a Prevent Senior.