
Na última sexta (9), o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, deu uma entrevista em que, segundo a agência Reuters, indicou uma tendência de arquivamento do inquérito contra Temer. Na avaliação do chefe da PF, as investigações não confirmaram pagamento de propina pela empresa Rodrimar. A declaração caiu como uma bomba dentro e fora da PF, afinal o inquérito está em andamento e os indícios do envolvimento de Temer são muito fortes.
Na entrevista, ele disse também que o delegado responsável pelo caso, Cleyber Malta Lopes, pode até ser investigado, se houver uma reclamação formal da Presidência da República. A declaração foi interpretada como uma intromissão indevida no inquérito e, mais do que isso, uma ameaça ao delegado que conduz o caso.
As reações às declarações de Segóvia foram imediatas. Associações de delegados e associações de integrantes da Polícia Federal protestaram contra a intromissão. Eles criticaram os comentários sobre uma investigação em andamento e consideram que a as explicações de Segóvia até o momento são insuficientes.
Em reação, o ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, decidiu pedir explicações ao delegado. Em telefonema ao ministro, Segóvia tentou se justificar dizendo que foi mal interpretado. Barroso não ficou satisfeito e quer a presença de Segóvia no STF para que ele esclareça de forma mais aprofundada sobre quais eram as suas intenções ao fazer essas declarações. Há fortes suspeitas de que Segóvia, indicado por Temer, está tentando livrar Temer.
Recusando as pressões da cúpula, a Polícia Federal decidiu pedir a prorrogação do prazo do inquérito no qual o presidente Michel Temer é suspeito de beneficiar a empresa Rodrimar na renovação de concessões no Porto de Santos, num decreto editado em maio do ano passado.
O prazo termina no próximo dia 20, mas de acordo com investigadores, apesar de a apuração ter avançado, ainda é preciso esclarecer alguns pontos, há diligências em andamento, e várias outras pendentes. Peritos da Polícia Federal sugeriram ao delegado responsável que peça a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos investigados, inclusive de Temer. Além disso, depois do carnaval, o ex-diretor da J&F Ricardo Saud e um dos donos da empresa, Joesley Batista vão prestar depoimento. Rocha Loures ofereceu a Saud que Ricardo Mesquita, executivo da Rodrimar, fosse intermediário de propinas.
A renovação do prazo e a autorização para medidas como a quebra de sigilos dependem do relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. O inquérito foi aberto em maio do ano passado com base na delação premiada de Joesley e Saud.
Telefonemas gravados com autorização do STF mostraram auxiliares de Temer conversando sobre o decreto – entre eles, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, famoso por ter sido flagrado com a mala de R$ 500 mil entregue pela J&F. Rocha Loures aparece em uma conversa gravada com Gustavo Rocha, subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, defendendo interesses de empresas que atuam nos portos brasileiros. Eles falam sobre uma mudança no decreto dos portos que poderia beneficiar também quem conseguiu concessões antes de 1993, caso da Rodrimar.
Gustavo alertou que Temer ficaria exposto demais e o decreto dos portos foi assinado sem incluir as concessões anteriores a 1993. Por isso, a defesa do presidente diz que não houve benefício à empresa no decreto e, portanto, não há corrupção no episódio. A Rodrimar também nega irregularidades e obtenção de benefício com o decreto. Permanece a suspeita de que Rocha Loures agia em defesa dos interesses da Rodrimar dentro do governo.
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapf) criticou o diretor-geral da PF, Fernando Segovia e exigiu que ele se retrate imediatamente dos comentários que fez sobre o inquérito relacionada a Temer. “O dirigente tanto extrapolou em suas funções, que são precipuamente administrativas, quanto avançou no sentido de garantir o entendimento futuro do Ministério Público Federal, a quem cabe legalmente o pedido de arquivamento de investigações criminais, e do Poder Judiciário, a quem cabe a decisão final pelo arquivamento ou não”, diz a federação em nota divulgada neste sábado.
Segundo o texto, “os policiais federais esperam uma retratação pública desse posicionamento, além de uma mensagem dirigida ao público interno, com um firme posicionamento atrelado a um rol de condutas isentas do dirigente maior da PF, que garantam o bom funcionamento dos nossos trabalhos, sem qualquer risco de que estaríamos vivenciando uma era de ingerências políticas em nossas investigações”.