O desemprego e a redução do auxílio emergencial em meio à pandemia foram determinantes para o aumento do endividamento dos mais pobres, diz levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
Em abril, 22,3% da população com renda de até R$ 2.100 se declarou endividada – um patamar recorde da pesquisa, apenas observado em junho de 2016, no auge da crise econômica do governo Dilma.
O endividamento vem crescendo em todas as faixas de renda, mas a situação é mais dramática para os mais pobres que não contam com nenhuma poupança.
A redução do valor da renda emergencial e a interrupção do pagamento das parcelas entre janeiro e março explica o maior endividamento, não porque o recurso fosse destinado para pagar dívidas, mas porque, sem o benefício, famílias acabaram se endividando até mesmo para comprar comida e pagar as contas básicas.
“Na verdade, não é nem uma poupança. É guardar um dinheiro este mês para poder pagar as suas contas no mês que vem e ter um pouco mais de tranquilidade”, diz Viviane Seda, pesquisadora do Ibre.
Enquanto isso, a carestia aumenta, pressionando ainda mais o orçamento das famílias. De acordo com índice elaborado também pela FGV, os alimentos que compõem a base das refeições dos brasileiros, como o arroz e feijão, ficaram 60% mais caros nos últimos 12 meses. Gás de cozinha, aluguel, conta de luz e transporte são outros itens cujos preços não deram trégua nos últimos meses.
Pobreza cresce sem auxílio emergencial
Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) identificou um crescimento exponencial da pobreza e da extrema pobreza no país após os meses sem auxílio emergencial e o retorno no programa reduzido em abril.
O estudo aponta que o número de pessoas vivendo em situação de pobreza chegou este ano a 61,1 milhões; outras 19,3 milhões vivem em situação de extrema pobreza. Os dados coincidem com o pior momento da crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19 no país e, também, com o corte e redução da renda emergencial mesmo com o desemprego atingindo níveis recordes.
“Isso deve ter um impacto não só para a população vulnerável, mas também um efeito macroeconômico muito grande. Então é um problema para os mais pobres e para o Brasil como um todo”, observou Luiza Oliveira, uma das economistas responsáveis pelo estudo.