Em entrevista exclusiva para o HP, Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), conclamou todas as entidades democráticas da sociedade civil a concentrarem seus esforços na mobilização para o ato no 7 de Setembro, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, a partir das 14 horas.
“Quebramos o monopólio bolsonarista nas ruas”, declarou Adilson. “O Manifesto do sistema financeiro, do agronegócio e dos industriais é sinal do isolamento de Bolsonaro”. O presidente da CTB avaliou que “ao teimar pelo voto impresso, Bolsonaro antecipou sua derrota” e, segundo o dirigente sindical, “o Senado fez justiça” ao rejeitar a MP 1045 que tirava quase todos os direitos dos trabalhadores.
HP – Este 7 de Setembro o que significa hoje para o povo?
O 7 de Setembro de 2021 precisa ficar marcado na história como o verdadeiro grito de liberdade. No estágio em que o Brasil se encontra, mais do que nunca, fica justificado a população ganhar as ruas. A sociedade vai compreendendo mais e melhor quantos males o Bolsonaro tem provocado à nação brasileira, muito motivada pela quebra do monopólio das ruas pelo bolsonaristas. As manifestações se espalharam pelo Brasil afora. Isso passou a ser uma coisa irreversível. Daí a necessidade da nossa gente estar nas ruas para dizer basta ao desemprego, basta à carestia dos alimentos, basta à entrega das empresas estratégicas, em defesa dos Correios, da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, da Eletrobrás, da vida. Ganhar as ruas é também um ato heroico para o povo. É acumular forças para alcançar a liberdade.
A batalha de 2022 sinaliza ser uma batalha épica. Bolsonaro antecipou as eleições. Neste 7 de Setembro as centrais sindicais, os movimentos sociais e todas as entidades democráticas da sociedade civil devem localizar seus esforços para que a gente possa, num curto espaço de tempo, criar as condições para termos um Brasil mais humano e mais igual. Este é o sentido de defender o desenvolvimento nacional. Bolsonaro não tem aptidão para crescimento econômico, para geração de emprego e renda, com a perspectiva de uma sociedade mais igualitária. Então é assim: romper com o ópio do atraso, do fascismo, do negacionismo é a síntese desse 7 de Setembro. É o 7 de Setembro da liberdade.
HP – Qual o significado dos manifestos do setor financeiro, do agronegócio e da grande indústria que circularam na imprensa nos últimos dias?
Atestam que Bolsonaro se constitui uma ameaça para o país. Sinalizam que a saída deve ser um movimento mais profundo e mais amplo de isolamento de Bolsonaro. Estes setores deram sustentação à eleição de Bolsonaro. Está ficando mais claro que não existe outro caminho. Temos que nos unir para salvar o país desse desgoverno que vai dilapidando a nação.
O governo está querendo ver o circo pegar fogo. Está pouco, ou nada, preocupado com a crise sanitária, que ceifou a vida de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras. Se não bastasse faltar vacina, faltaram máscara e álcool em gel, faltou até respiradores. A tragédia econômica só não foi maior porque o Congresso aprovou o orçamento de guerra em 2020 e o auxílio emergencial, que evitou com que a queda no PIB fosse mais abrupta. Bolsonaro não manifesta nenhuma preocupação com o aumento da energia, ou com a propagação da variante Delta.
HP – A derrota no Senado da MP 1045, na qual estava inserida uma reforma trabalhista, tirando mais direitos, é resultado desse isolamento?
Ele segue em declínio nas pesquisas, cresce a sua rejeição. Não tem apresentado nada em relação aos graves problemas que sofremos. Essa era uma MP para refazer o programa de proteção ao emprego, chamado Bem, Benefício Emergencial. Alcançou 22 milhões de acordos, sendo que 9 milhões de trabalhadores tiveram o contrato suspenso. Passado o período de estabilidade, sem o programa, muita gente foi mandada embora. Contando os desalentados, são 22 milhões de desempregados. De acordo com a PNAD Contínua, são 80 milhões de trabalhadores em idade ativa fora da força de trabalho.
O que contribuiu muito para derrubar a 1045 foi a pressão exercida pelo movimento sindical, porque essa reforma era um assalto. Ela foi pensada originalmente para dar continuidade ao programa de proteção ao emprego. Os jabutis que foram introduzidos deformaram totalmente o texto. A 1045 legitimada seria um atestado para o trabalho análogo ao escravo, na forma da lei, sem 13º, sem férias , sem a assistência do sindicato e com isenção quase total da contribuição previdenciária. A decisão do Senado foi ato de justiça.
HP – Qual o desdobramento do 7 de Setembro?
O sentido do 7 de Setembro é também a necessidade de disputarmos a narrativa. Esse governo tem um projeto que ficou exposto na fatídica reunião do dia 21 de abril do ano passado, quando o Weintraub propõe invadir o STF, o Ricardo Salles diz que com a pandemia é o momento de passar a boiada, o Paulo Guedes diz que tem que transformar o Brasil num grande polo turístico, onde não vai sobrar espaço para quem só tem um dinheirinho, e que vamos acabar com os direitos do funcionalismo público com tapinha nas costa para colocar granada no bolso e dois anos sem reposição da inflação.
Agora, com a PEC 32, é para vida toda. Esse governo diz que o custo da Constituição não cabe no Orçamento. Que custo é esse? O artigo 6º diz que são direitos sagrados a saúde, a educação, a moradia, a segurança. O Paulo Guedes queria cortar à metade o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Isso que nós temos que discutir com a população.
Você imagina o que seria da tua vida se não tivéssemos o Sistema Único de Saúde? Com essa pandemia! Bolsonaro antecipa a sua derrota na medida em que quer impor a todo custo o voto impresso.
HP – A situação do povo é dramática. Você vê uma solução imediata?
O capitalismo tem se revelado cada vez mais incapaz de sustentar a tese do estado mínimo. As economias em busca de sua recuperação têm feito orçamentos muito superiores à sua arrecadação, tanto na União Europeia quanto nos EUA, para garantir reativação das atividades econômicas, seguro desemprego, auxílio emergencial. Joe Biden, presidente dos EUA, aprovou 1,9 trilhão de dólares. O Reino Unido, 1,9 mil libras esterlinas de auxílio emergencial para os autônomos. Aqui, a opção é pelo corte e pela prioridade aos bancos, que batem recordes de lucratividade, enquanto 19 milhões morrem de fome. Desse governo não podemos esperar nada. Como constatado pela CPI da pandemia, a coisa dele é fazer caixa para enriquecer as milícias.
Precisamos responder aos desafios presentes. Estamos diante de uma encruzilhada. Junto com as emergências, temos que apresentar o programa de reconstrução do país. Se coloca como questão central a reindustrialização do país, pela capacidade de criar empregos de qualidade. Ao destinar investimento público para saúde, pesquisa, tecnologia e inovação, vamos colocar nossa indústria em condições de competitividade. Por outro lado, temos que discutir a nossa soberania alimentar. Do que chega à mesa da família brasileira, 70% vem da agricultura familiar, que precisa ter uma atenção, investimento. E o mais importante, o trabalho.
No serviço público, não alcançamos nem a regulamentação das convenções 151 e 158 da OIT, garantia do direito de greve, de negociação coletiva e organização sindical. Temos que valorizar o trabalho, os direitos, a aposentadoria, o salário mínimo, até porque um trabalho valorizado contribui para a Previdência. Contribui com o consumo. É equivocada a ideia que tem que precarizar o trabalho para criar emprego. As pessoas quando perdem massa salarial deixam de comprar.
CARLOS ALBERTO PEREIRA
Colaboração: VITOR SOLEMAR PEREIRA