
Em comemoração ao 13 de Maio, dia em que foi abolida a escravidão no Brasil, há 132 anos, o Congresso Nacional Afro Brasileiro (CNAB) realizou uma série de palestras, online, “Contra o racismo, em defesa da vida e da democracia”, em memória aos heróis do povo brasileiro que lutaram por liberdade.
A atividade contou com a presença de professores, militantes do movimento social e representantes de organizações de classe como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O presidente do CNAB, Alfredo de Oliveira Neto, lembrou que “a oficialização da abolição não caiu do céu, foi uma luta árdua, longa e cheia de idas e vindas, sendo o Brasil o último país das Américas a abolir a escravidão. Isso demonstra como essa luta teve suas complicações. As leis que surgiram a partir de 1831, que tentavam proibir a entrada de novos escravos, foram sempre desrespeitadas, como denunciavam os abolicionistas, sendo a maior parte delas uma encenação. Foi proibido o tráfico de escravos, mas não a propriedade de escravos contrabandeados.”
“A lei dos sexagenários previa a liberdade para os escravos que completassem 62 anos, isto é, para os mortos. A lei do ventre livre concedia liberdade à criança, mas não ao pai e a mãe. Onde viveria esta criança livre senão na senzala com os escravos? Era esse o tamanho da luta que reuniu amplos setores no Brasil para a extinção da escravidão. O 13 de Maio não foi caridade, não foi concessão. É uma data fruto da nossa luta, como dizia o saudoso professor Eduardo de Oliveira”, completou Alfredo.
O diretor de juventude do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Rodrigo de Morais, também promoveu em suas redes sociais um debate sobre a importância do 13 de Maio e lembrou que a luta por libertação do povo negro “foi um grande divisor de águas na luta social brasileira. Luta essa que durou décadas, com muita luta, pressão social, muita luta política que culminou na assinatura da Lei Áurea. É claro que a luta por libertação da população negra dura até os dias de hoje e talvez seja a mais importante atualmente por ser um país majoritariamente negro, um país negro. Construído com suor e sangue dos negros.”.
Carlos Lopes, diretor de redação do HP também participou do debate, e afirmou que para enfrentar os atuais impasses da conjuntura brasileira, e combater a ameaça fascista que paira sob o país com Bolsonaro na presidência, é necessária uma unidade do povo enquanto nação.
“O problema em nosso país, não está em lutarmos para que isso seja uma coleção de etnias. Está em lutarmos para que todos sejamos brasileiros e que exista um caráter nacional. Claro que essa luta não começou hoje […] a possibilidade de nós brasileiros construirmos uma nação justa, desenvolvida, surge com a luta pela abolição da escravidão no país e, por consequência, pela República, uma vez que o império era o representante da escravidão.”
Carlos defendeu a necessidade da constituição do caráter nacional e lembrou que “luta pela abolição formou essencialmente o Brasil moderno, tanto na esfera econômica quanto na esfera cultural”.
“Hoje está mais presente do que nunca, porque o Brasil está sob uma ameaça seríssima de ditadura, está sob uma ameaça seríssima de fascismo. Uma ameaça racista, que não se preocupa se o povo morre de coronavírus”, continuou.
O Dr. Ademir Jose da Silva, presidente da Comissão da Verdade Negra da OAB de Campinas e membro da Executiva Nacional do CNAB, lembrou que o 13 de Maio representa a passagem do negro, considerado coisa, para a condição de sujeito de direito. “Transformou em sujeito de direito aqueles que ainda sob o jugo da cangalha, da escravidão, apesar da lei, que possuía apenas 2 artigos, não deixou aos negros oportunidades. Mas a luta continua e hoje estamos comemorando 132 anos dessa passagem, estamos lutando”, disse.
A professora Dra. Alessandra Ribeiro, historiadora e Doutora em Urbanismo pela PUC/Campinas, lembrou da importância de se resgatar a história de luta do povo negro no Brasil, como forma de dar as condições do povo de construir uma sociedade mais justa.
“Se as nossas crianças negras pudessem conhecer a história de nossos líderes, pudessem conhecer a história de homens como o professor Eduardo de Oliveira, o Hino à negritude e outros símbolos, possivelmente estariam mais preparadas para lutar por igualdade”, defender Alessandra.
A Dra. Alessandra disse que em seus estudos quis entender e resgatar a memória povo negro. “Descobri que a maior avenida da cidade de Campinas, a Avenida Francisco Glicério, era em memória a um homem negro. Não aprendi isso na escola. Também não sabia que Carlos Gomes tinha suas raízes negras, afro-indígenas. Informações como esta, mudam a nossa formação e a nossa forma de olhar o mundo.”
“O nosso povo tem uma característica geral, isso não quer dizer que não haja diferenças, mas a característica geral do nosso povo é a miscigenação e isso não é apenas uma questão de cor, é uma questão cultural”, defendeu Carlos Lopes.
“A abolição da escravidão foi uma vitória do povo negro, da luta do povo negro, do povo brasileiro que se manifestou. Não havia outra saída que não abolir a escravidão no Brasil. Conseguimos derrotar os escravagistas, ainda que em condições desiguais. Esse dia é o símbolo da luta de Zumbi, de Dandara, de Ganga Zumba e muitos outros desconhecidos. Agora essa luta está em construir a soberania do nosso país”, disse Ubiraci Dantas de Oliveira, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB).
“Diante desse quadro, só existe uma solução para esse país e para o povo negro, porque nós somos a população brasileira, são o país, são a nação e é disso que nós precisamos nos apropriar no momento. Para isso é fundamental a defesa da democracia que atualmente está em seríssimo risco no Brasil”, completou.
Também participaram da atividade o Dr. Humberto Adami, membro do Conselho Federal da OAB e Presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra, André Bezerra, membro Comitê Central PCdoB e Secretário de Organização PCdoB/SP, Manoel Júlio Vieira (Julião), secretário de Igualdade Racial PCdoB/SP, Rozina de Jesus, assessora da deputada Leci Brandã, Irapuan Ramos Santos, membro da executiva nacional do CNAB e Presidente CNAB-RJ, Ana Maria Rodrigues, representando a Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), José Francisco de Oliveira, filho do Prof. Eduardo de Oliveira e membro da executiva Nacional do CNAB, Flauzino da executiva Nacional da executiva da CGTB, presidente da CGTB-DF, Leny Campelo Pará, entre outros.
RODRIGO LUCAS PAULO