Depois de Wassef e Queiroz, agora é Márcia Oliveira, a terceira a ameaçar revelar tudo que sabe sobre a organização criminosa montada no gabinete do atual senador
Frederick Wassef, ex-advogado de Flávio Bolsonaro, chamado de “01” por Jair Bolsonaro, afirmou há alguns dias à CNN que ele e Bolsonaro eram a mesma pessoa. “Se bater no Fred, atinge o presidente”, disse o causídico, numa clara ameaça à família Bolsonaro que, a esta altura, já preparava sua demissão.
Mas, não é só o Fred que está mandando recados para o Planalto. Agora é a vez de Márcia Oliveira de Aguiar, que está foragida e é mulher de Fabrício Queiroz. Ela lançou sinais claros de que poderia fazer um acordo de colaboração premiada, segundo o jornal Valor Econômico. Com isso, ela segue o marido, que também já havia apontado nesta mesma direção.
Márcia ocupava um cargo fantasma no gabinete do filho do presidente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro junto com sua filha Evelyn Mello. A outra filha, Nathalia Queiroz, apesar de ser uma personal trainer no Rio, era lotada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, em Brasília. Todas elas participavam no esquema de lavagem de dinheiro montado nos gabinetes de Jair e Flávio.
Elas foram exoneradas, inclusive Queiroz, entre os dois turnos da eleição de 2018, quando este último ficou sabendo que a PF estava de posse de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) incriminando seu chefe e ele próprio.
Depois que estourou o escândalo, a família Queiroz passou a se esconder e fugir do Ministério Público do Rio, órgão que investiga o caso.
Pelas informações obtidas no telefone de Márcia, capturado pela polícia numa operação de busca e apreensão, os investigadores descobriram que Queiroz foi albergado por Wassef em Atibaia e Márcia cuidava dos interesses do marido no Rio de Janeiro.
A polícia descobriu que ela recebeu R$ 174 mil em dinheiro vivo, que ela intermediou solicitações de milicianos da Zona Oeste do Rio ao Queiroz, que ela pagou despesas do marido e foi enviada por ele, junto com outro advogado de Flávio, Luis Gustavo Boto Maia, ao interior de Minas, para conversar com a mãe de Adriano da Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, que está escondida a mando de Queiroz. Ou seja, a mulher de Queiroz sabe muito.
Em uma das mensagens entre Márcia e Queiroz, por exemplo, ele diz à esposa que o “Anjo”, nome dado por eles a Frederick Wassef, pretendia escondê-los todos em São Paulo, caso a liminar do Toffoli suspendendo as investigações baseadas em relatórios do Coaf caísse. Márcia à época resistiu à ideia.
Disse que só aceitaria se fosse decretada a prisão deles. Márcia sabe qual foi a proposta feita pelo advogado de Flávio, Boto Maia, ao miliciano Adriano da Nóbrega na reunião realizada em 4 de dezembro de 2019, na cidade de Astolfo Dutra. Ela estava presente na reunião. Dois meses depois, Adriano foi morto numa operação policial de captura na Bahia.
Mesmo com os recados, Wassef foi afastado da defesa de Flávio. Ele, que tinha trânsito livre nos palácios em Brasília, agora está jogado à própria sorte. O “Anjo” participou de todas as tramas, inclusive da escolha dos advogados de Queiroz e de Adriano da Nóbrega. Paulo Emílio Catta Preta, que, por coincidência, é advogado da ex-mulher de Wassef, assumiu a defesa de ambos, Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega.
Queiroz, que está preso, também andou sinalizando que não vai aceitar ser jogado aos tubarões sozinho. Por isso fez vazar a notícia de que estaria negociando colaboração premiada. Márcia Oliveira segue na mesma direção. Fez chegar a público que pode falar. A notícia é para o público, mas o recado é para o Planalto.