O Egito, Alemanha, França e Jordânia lançaram, nesta terça-feira, uma declaração conjunta na qual rejeitam categoricamente o plano israelense de anexação de 30% da Cisjordânia.
Horas antes o primeiro-ministro da Inglaterra ligou para o israelense Bibi Netanyahu para dizer que se opõe “veementemente” a qualquer passo israelense para anexar partes da Cisjordânia. Uma semana antes, Johnson publicou artigo no jornal israelense, Yediot Achronot, deixando claro que a “anexação é uma violação da lei internacional” e que a Inglaterra “não reconhecerá quaisquer mudanças nas linhas fronteiriças de 1967 [referindo-se à anexação de áreas ocupadas por Israel durante a Guerra dos Seis Dias]”.
Além da importância das declarações e ações desta série de países, há o fato de que estes líderes se mostram decididos a tratar o assunto sem a participação dos EUA, aliás de Trump, que, no afã de ganhar votos dos setores mais direitistas dentro da comunidade judaica e de evangélicos fanatizados, elaborou com Netanyahu o fiasco que chamou de “Acordo do Século” – que os palestinos e defensores da paz Israel/Palestina agora denominam de “Roubo do Século” – que estimulou o governo israelense a dizer que declararia anexados a Israel 30% das terras palestinas da Cisjordânia no dia 1º de julho.
A proposta indecorosa foi imediatamente rechaçada pela Autoridade Nacional Palestina e, a seguir por lideranças, governos, organizações árabes e judaicas em todo o mundo, inclusive em Israel.
Não é à toa que veio o dia 1º de Julho, o governo israelense adiou a desastrosa proposta e Netanyahu disse que o assunto estava “sendo estudado”.
Diante da reprimenda telefônica de Boris Johnson, Netanyahu tentou desconversar, na maior cara de pau, dizendo que “Israel está preparado ficou acertado que para conduzir negociações com base do plano de paz do presidente Trump que é ao mesmo tempo realista e criativo”. Tudo indica que a brilhante colocação de Bibi não empolgou muito ao premiê inglês que insistiu no fim da ilegalidade unilateral que Netanyahu ainda diz planejar. Ao final ficou acertado que a questão será debatida entre os ministros do Exterior de Israel, Gabi Ashkenazi e da Inglaterra, Dominic Raab.
Ao final do encontro, ambos voltaram ao que interessa: a dramática situação da pandemia nos dois países – com a maior parte da responsabilidade recaindo sobre eles – e prometeram colaborar mutuamente contra o Covid-19.
“ANEXAÇÃO IMPACTARIA RELAÇÕES DE ISRAEL”
Na sua declaração conjunta, França, Jordânia, Egito e Alemanha deixam claro que a medida israelense “viola a lei internacional e também terá impacto nas nossas relações com Israel”.
Segue a declaração lançada após vídeo-conferência reunindo os ministros do Exterior da França, Alemanha, Egito e Jordânia:
“Nós debatemos o atual status do processo de paz no Oriente Médio e seu impacto regional. Nós somos unânimes em acreditar que qualquer anexação dos territórios palestinos ocupados em 1967 violaria a lei internacional e colocaria em perigo as fundações do processo de paz. Não vamos reconhecer quaisquer mudanças nas fronteiras de 1967 que não sejam acordada por ambas as partes do conflito.
“Também concordamos que tal movimento teria graves implicações para a segurança e estabilidade da região e seria um obstáculo maior aos esforços para se alcançar uma plena e justa paz. Ele também teria um impacto nas relações com Israel. Nós enfatizamos nosso forte compromisso com uma Solução de Dois Estados negociada com base na lei internacional e nas relevantes resoluções da ONU. Nós debatemos como um recomeço construtivo pode ser adotado pelos lados de Israel e Palestina e oferecemos nosso apoio em abrir caminho para negociações”.
CRISE DO CORONAVÍRUS
Além disso, ao voltar sua atenção e energia para o assunto da anexação, Netahyahu, sem dados ou acompanhamento coerentes e confiáveis, proclamou vitória sobre o coronavírus que levou israelenses a lotar de praias a bares e casamentos, para levar a população a experimentar uma das mais duras recidivas do vírus em todo o mundo. O desastre chegou a tal ponto que o professor Eli Waxman, chefe do painel de especialistas que assessora o Conselho Nacional de Segurança sobre a questão da pandemia, declarou que “a nova situação é a mais dramática crise na história do Estado de Israel”.
O que atinge não só a população israelense mas também o estouvado Netanhyahu, a quem o jornalista Amos Harel chamou – em matéria da terça-feira do jornal Haaretz – de “serial killer”, depois dele engavetar as recomendações que o professor Waxman lhe fizera chegar no início de maio.