A Casa Branca baixa norma retirando do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) a função de centralizar e divulgar os dados sobre a evolução da pandemia no país
O governo dos Estados Unidos determinou que os hospitais ignorassem – deixando de passar informações – ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças, CDC, órgão que trabalha na proteção da saúde pública da população, fornecendo informações para embasar decisões quanto à saúde e que desenvolve parcerias com departamentos estaduais de saúde e outras organizações.
A nova orientação é de que a partir de quarta-feira, 15, passem a ser enviadas todas as informações dos pacientes do Covid-19 para um banco de dados em Washington.
A medida preocupou especialistas em saúde porque o CDC realizava o trabalho compartilhando informações com os setores de saúde do país e temem que agora os dados sejam mascarados e escondidos do público.
Em um documento pouco visível no site do Departamento de Saúde e Serviços Humanos apareceram as novas instruções, comunicando genericamente que a partir de agora o departamento – e não o CDC – coletará relatórios diários sobre os pacientes, o número de leitos e ventiladores que cada hospital dispõe e outras informações chaves para rastrear a propagação do vírus.
O banco de dados de Saúde e Serviços Humanos que passará a receber as novas informações não é aberto ao público, e isso poderia afetar o trabalho dos pesquisadores e funcionários da saúde que dependem dos dados para fazer projeções e tomar decisões cruciais. O CDC não as colocava na gaveta, as divulgava. O governo justifica a mudança dizendo que irá simplificar a coleta de dados e auxiliar a força-tarefa do coronavírus da Casa Branca na alocação de suprimentos escassos, como equipamentos de proteção pessoal e medicamentos.
A direção do CDC não segue a cartilha de Trump. Durante sessão do Comitê de Energia e Comércio da Câmara de Representantes (equivalente à nossa Câmara de Deputados), na semana passada, Robert Redfield, diretor do órgão, assinalou que as capacidades básicas de saúde pública do país norte-americano não contaram com o financiamento suficiente durante muito tempo e necessitavam um investimento urgente.
Quatro dos ex-diretores do CDC, incluindo as administrações republicana e democrata, declararam em um artigo publicado terça-feira, 14, no The Washington Post, sua preocupação de que Trump, nas vésperas da eleição presidencial, esteja politizando a ciência e minando os setores especialistas em saúde, em particular o CDC, para se livrar da responsabilidade pela situação crítica que o país vive diante da pandemia.
“A centralização do controle de todos os dados sob o guarda-chuva de um aparato inerentemente político é perigosa e gera desconfiança”, disse Nicole Lurie, que atuou como secretária assistente do ex-presidente Barack Obama. “Parece cortar a capacidade de agências como a CDC para fazer seu trabalho básico”, completou.
Trump tem elevado o tom da hostilidade ao órgão em especial a sua principal liderança, Dr. Anthony Fauci, que tem alertado para a negligência de Trump em relação à gravidade da dimensão que a pandemia tomou nos EUA. Leia matéria relacionada:
O CDC colhe dados de coronavírus por meio de sua Rede Nacional de Segurança em Saúde, que foi expandida no início da pandemia para rastrear a capacidade dos hospitais e as informações dos pacientes específicas do Covid-19.
A deputada Donna E. Shalala, da Flórida, que foi secretária de saúde do ex-presidente Bill Clinton, disse que o CDC foi a agência adequada para coletar dados de saúde. Se houver falhas nos sistemas do CDC, elas deveriam ser corrigidas e não mudar para outra administração, declarou.
“Somente o CDC tem o conhecimento necessário para coletar dados”, disse Shalala. “Acho que qualquer movimento para tirar a responsabilidade das pessoas que têm o conhecimento é politizar”, criticou.
Robert Redfield enfatizou ainda a necessidade de continuar aumentando o número de rastreadores de contato das pessoas infectadas com Covid-19, assinalando que hoje os EUA contam com 28.000 e, segundo sua opinião, deveriam chegar a 100.000. Os especialistas da CDC consideram que estes mecanismos também são uma prioridade urgente para deter a propagação do vírus.
No momento em que os Estados Unidos têm quase 3, 5 milhões de casos confirmados e 137.000 mortos, Redfield fez uma avaliação dos gastos econômicos que devem ser assumidos para enfrentar o surto do Covid-19. “Provavelmente vamos gastar 7 bilhões de dólares”, disse.