MAMEDE SAID MAIA (*)
No dia em que a figura combativa e amorosa de Dom Pedro Casaldáliga nos deixa, outra notícia triste: o Brasil atingiu a marca (oficial) de cem mil mortos pela Covid-19. Marca essa que poderia ter sido evitada, não fosse o fato de a crise sanitária ter sido tratada com desleixo e desdém por quem tinha a responsabilidade maior de enfrentá-la.
Uma crise como a da Covid-19 teria que ter um enfrentamento que reunisse numa só direção os governos e a sociedade, sob a coordenação do governo federal, como seria de se esperar. Sem reconhecer a dimensão da crise, porém, o governo Bolsonaro se pôs contra o isolamento social, ocultou dados e apostou em remédios milagrosos. Ao invés de coordenar uma estratégia eficiente de combate à doença, deu as costas para a ciência, destratou governadores e prefeitos e adotou uma postura que deseduca, reverberando o discurso diversionista de que é preciso “salvar empregos”.
No auge da crise sanitária, dois ministros da Saúde saíram enquanto um general sem familiaridade com a gestão do sistema de saúde passou a responder pelo Ministério, numa interinidade sem data para acabar. Como resultado, os dados de novos casos e óbitos diários seguem em ritmo acelerado, com a doença saindo das grandes cidades e tomando conta das cidades do interior.
Não é possível considerar natural que o país registre uma média de mais de mil mortes por dia. Não é possível normalizar a doença e a morte. É preciso que a sociedade reaja, pois não será Bolsonaro, com seu negacionismo e displicência, que irá conduzir o país na superação da crise que em menos de cinco meses já ceifou cem mil vidas. Um número maior que o de brasileiros mortos na Guerra do Paraguai (50 mil) ou na gripe espanhola (35 mil).
(*) Mamede Said Maia é direto da Faculdade de Direito da UNB