O grupo intitulado “Guardiões de Crivella”, formado por servidores municipais comissionados que agiam em ações coordenadas a favor do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), não se limitou somente em atuar na área da Saúde.
De acordo com reportagem exibida no jornal O Globo nesta segunda-feira (07), os servidores também estão infiltrados em grupo de mães de alunos de uma escola municipal e até em grupos de expositores de feira artesanal.
Segundo o texto, integrantes de um grupo de mães de alunos da Escola municipal Eurico Dutra, no IAPI da Penha, descobriu que uma de suas integrantes não tinha sequer filho matriculado na unidade: era uma “guardiã de Crivella”. Daniela Rocha Pinto de Jesus, que ganha R$ 6.600 brutos da prefeitura, teria se infiltrado no grupo de WhatsApp das mães para atuar a favor do prefeito, diz a reportagem.
“A Daniela, uma das guardiãs do Crivella, estava no nosso primeiro grupo (de mães). Até fiquei desconfiada dela. Entrou no grupo falando que trabalhava na área da saúde e, depois, saiu dizendo que estava sem tempo. Fomos enganados. A gente só queria que nossos filhos recebessem o que têm direito”, diz Andreia Cardoso, que fundou o grupo “Supermães” e tem dois filhos na escola. O grupo luta por direitos dos alunos.
A maior parte dos guardiões são funcionários comissionados da prefeitura. Entre as 67 pessoas lotadas no gabinete de Crivella, 59 delas não são servidoras públicas. Segundo dados do gabinete da vereadora Teresa Bergher (Cidadania), o gabinete do prefeito, que possui integrantes do grupo, tem despesa bruta de R$ 380.597,48 com funcionários comissionados.
“O prefeito Crivella criou uma milícia de cabos eleitorais para impedir críticas à sua gestão, pagos com dinheiro público. Já temos elementos que comprovam a existência de organização criminosa atuando na estrutura do município e onerando os cofres municipais. A CPI dos Guardiões do Crivella vai investigar e ouvir essas pessoas para que sejam devidamente punidas”, disse a vereadora ao O Globo.
O grupo de guardiões atua também em feiras artesanais. Marcos Paulo de Oliveira Luciano, conhecido como ML e suspeito de chefiar as ações dos apoiadores do prefeito, controlaria as feiras de Nelson Mandela, em Botafogo, e a da Independência, na Tijuca.
Apesar de apenas Feirartes e feiras livres terem autorização para funcionar, a feira de Botafogo voltou há um mês. Expositores precisariam pagar R$ 135 por dia para participar dela. A da Tijuca, por sua vez, foi autorizada e cancelada na última quinta (3).
“Essas duas feiras são controladas pelo ML. Quero trabalhar de cabeça erguida, pagando alvará e ISS, sem dar propina a ninguém”, afirmou Márcio Alves Ávila, organizador de feiras.
CPI
O requerimento para a Câmara instalar a CPI dos “Guardiões do Crivella” foi publicado nesta quarta-feira (09).
A partir de agora, os blocos partidários devem apresentar suas indicações para a formação do grupo responsável por investigar o uso de dinheiro público para financiar os “guardiões”.
Na sessão de ontem, a vereadora Teresa Bergher (Cidadania) reclamou da demora na publicação: depois de aprovados, os pedidos de CPI devem sair no Diário Oficial em até 72 horas. Bergher deve presidir o colegiado de cinco parlamentares, com um prazo de 120 dias para apresentar suas conclusões.