O jornalista, escritor e produtor, Zuza Homem de Mello morreu na noite de domingo (4) aos 87 anos ao sofrer um infarto agudo do miocárdio enquanto dormia. Zuza era um dos maiores fãs da arte produzida no Brasil pelos brasileiros e por isso dedicou sua carreia a estudar a música brasileira.
Zuza marcou a história da música brasileira por trabalhos com nomes como Elis Regina, Milton Nascimento e Gilberto Gil. Dirigiu festivais como O Fino da Música e o Festival de Verão do Guarujá e apresentou o programa “Jazz Brasil”, na TV Cultura.
Atualmente, Zuza se dedicava também à “Playlist do Zuza”, programa da Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles, que em São Paulo é retransmitido pela Rádio USP.
Em 2018, sua trajetória foi contada no documentário “Zuza Homem de Jazz”, dirigido por Janaina Dalri. O longa, inclusive, resgata a época em que morando nos EUA, nos anos 1950, estudou na prestigiada Juilliard e compareceu a shows de Duke Ellington, Ella Fitzgerald e Billie Holliday.
O paulistano dedicou sua vida a identificar gêneros e repertórios da música brasileira para não sucumbirem no tempo. José Eduardo Homem de Mello, mais conhecido como Zuza Homem de Mello, nasceu no dia 20 de setembro de 1933
“Para mim, o que conta é aquilo que vai vingar por mais tempo, para sempre”, disse o musicólogo em uma entrevista ao SESC-SP.
Na juventude, enquanto estudava Engenharia, tocava contrabaixo acústico profissionalmente, até que, encorajado pela mãe, colocou a mochila nas costas e foi estudar música nas conceituadas escolas School of Jazz e Juilliard School, nos Estados Unidos. Trabalhou em festivais nacionais e internacionais, além de produzir shows e discos de Elis e Milton.
Desde 1958, Zuza realizou palestras e cursos sobre Música Popular Brasileira e jazz no Brasil e no exterior, tendo sido também jurado de alguns dos mais importantes festivais de música no Brasil. Desde 2018, Zuza ocupava a cadeira 17 da Academia Paulista de Letras.
Zuza escreveu livros como: ‘Música Popular Brasileira Cantada e Contada’ (Melhoramentos), ‘Música com Z’ (Editora 34), entre outros. Em 2018, o musicólogo lançou ‘Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção (1929-1958)’, pelas Edições Sesc em parceria com a Editora 34. Recentemente, ele finalizou a biografia de João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (1931-2019), a ser lançada em 2021 pela Editora 34.
Com o último livro que deixou pronto antes de falecer, Zuza esperava que houvesse ali material capaz de inspirar produtores e dramaturgos para a obra a montagem de um musical em homenagem ao pai da Bossa Nova. Até o momento não há concretização de um espetáculo teatral baseado em João Gilberto.
A morte de Zuza foi lamentada por diversos artistas. Para Caetano Veloso, ele foi uma “das grandes figuras do meu Brasil”. “Eu o visitava em Sampa pra conversar e ouvir música, e ele me mostrava tudo. É um conhecedor da música, apaixonado por jazz e íntimo da MPB. E que homem elegante, educado, civilizado!”, disse o compositor.
“Nos melhores momentos, a gente aproveita a pessoa e não se preocupa com a qualidade da foto. Meu grande amigo se foi. Um brasileiro imenso, profundo conhecedor e apaixonado por nossa música. O mais importante pesquisador cultural que já tivemos. Sentirei muita saudade. Descanse em paz, Zuza”, escreveu João Bosco em seu Instagram.
“Perdemos um cavalheiro. Figura que amava o Brasil mais bonito, ajudou a criar esse lugar que tentamos manter e nos é tão profundo. Zuza Homem de Mello deixa o exemplo do incansável, da sensibilidade e dedicação à cultura do nosso país. Que em paz descanse e meus sentimentos à família”, lamentou Yamandu Costa.
“Acordei hoje com a notícia da passagem do Zuza. Um dos maiores conhecedores e pesquisadores da música brasileira , tive o prazer e a honra de trabalhar com ele este ano e no ano passado. Foram dias alegres e cheios daquela energia de quem respirou música durante uma vida. Generoso e vibrante, um presente ter convivido com você em estúdio e no palco”, Anna Seton, cantora e compositora.
O cantor e compositor nordestino, Chico César, também se despediu do amigo por meio das redes sociais: “Ah, Zuza! Meu amigo, mestre. Grato pela sua vida tão generosamente musical. Fico com seu abraço, seu afeto, sua sabedoria de bem viver em troca e consonância. Ouvidos e coração abertos, é certo. Sempre”.
Ouça algumas edições da “Playlist do Zuza”, da Rádio Batuta: