O primeiro debate entre Manuela D’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (PMDB), que disputam o segundo turno das eleições municipais, realizado pela TV Band na noite de quinta-feira (19), foi marcado pelas diferentes formas como os candidatos propõem resolver as questões mais sensíveis para a população: a pandemia, a geração de empregos, o sistema de transportes da cidade e a segurança pública.
Um dos pontos mais acalorados do debate foi quando a Carris, companhia estatal de ônibus, e o transporte público da capital gaúcha, ganharam o centro da discussão.
Manuela questionou Melo sobre os motivos do adversário para querer privatizar a Carris, estatal dos transportes de Porto Alegre.
Em resposta, Melo afirmou que não vai criar pedágios, nem dentro e nem fora da cidade e que também não vai taxar os aplicativos – tais como Uber e 99 – para “criar fundo, como a senhora disse que vai”.
Só depois, Melo falou sobre a Carris – e afirmou que irá “repactuar o contrato que está aí”. Prometeu “reduzir os ônibus nos horários com menos passageiros” e colocar uma frota noturna para quem trabalha em bares e restaurantes.
Porto Alegre tem uma das passagens mais caras entre as capitais do país, R$ 4,55. Até uma semana antes do primeiro turno da atual eleição, era a mais cara de todas.
“Para a senhora, o mais importante é a Carris ser pública, para mim o mais importante é ter transporte de qualidade. Para mim, temos que repactuar, ela [a Carris] é responsável por 22%, mas ela pode ser pública ou privatizada, vai depender do processo de repactuação. Quero ônibus bom e com preço que caiba no bolso”, disse Melo.
Manuela rebateu: “A verdade é que o senhor quer privatizar e sabe que, num momento de crise, a Carris foi a única empresa que assumiu as linhas que chegam nos bairros mais pobres, e, mesmo assim, as passageiras e os passageiros seguem com enormes dificuldades com os horários”.
E continuou:
“Eu fico bastante satisfeita que a mentira, que circula pela internet, tenha chegado finalmente no debate. É mentira. Nós não queremos taxar os aplicativos. Eu estava junto, defendendo o trabalho dos cobradores e a não taxação dos aplicativos na Câmara de Vereadores. O que nós queremos é o contrário, queremos criar um aplicativo próprio, para que os motoristas de aplicativo paguem menos, porque hoje eles são altamente explorados e chegam a pagar 40% do valor da corrida para a empresa mediadora. Esse é o meu lado desde sempre – e com a Carris pública”.
PANDEMIA
Logo no início do debate, quando se discutia a reabertura do comércio durante a pandemia, Melo deu a entender que Manuela defendia o fechamento a qualquer custo, o que foi rebatido pela candidata, que pontuou a realidade:
“É uma mentira que alguém vai abrir a cidade inteira ou fechar a cidade inteira. Eu vou ser a prefeita que vai trabalhar para a cidade não fechar, para a cidade não fechar, nós precisamos lutar pela vacina. A verdade, candidato Sebastião, é que o presidente Bolsonaro, que lhe apoia, é contra a vacina, e tem boicotado sistematicamente todos os esforços para que o Brasil possa vacinar a população. Ele chegou a comemorar a morte de um voluntário que se prontificou a fazer os testes para garantir que a população esteja imunizada”, denunciou Manuela.
“Nós vamos garantir que a economia esteja aberta. Para isso, vamos trabalhar com a gestão própria da vacina, deslocando os recursos do Fundo Covid, que são mais de R$ 150 milhões, para garantir testagem dirigida e brigadas. Desta maneira, Porto Alegre não precisará fechar, mas é preciso trabalho sério, com comitê de crise – e sem negar a existência da pandemia”, concluiu Manuela.
Em resposta, Melo tentou se distanciar, algo toscamente, de Bolsonaro: “Os bolsonaristas votaram em mim e são muito bem-vindos. Mas que eu saiba o presidente Bolsonaro não está me apoiando”.
Melo acabou por concordar com a proposta de Manuela de criar um comitê de gestão de crise para a pandemia.
SEGURANÇA
Outro momento de destaque do debate foi quando a Segurança Pública foi abordada. Melo questionou quais eram as propostas de Manuela sobre o tema.
A candidata do PCdoB disse que irá manter o cercamento eletrônico, iniciado na gestão Marchezan, que ajudou a diminuir o índice de furtos e roubos de carros na cidade. E também propôs a criação de centros comunitários de segurança em cada bairro “para integrar a comunidade e que ela estabeleça diretrizes e possa proteger a população – e também para implementar políticas de cultura, esporte, porque isso tem um grande impacto na diminuição da violência”.
Manuela também falou sobre a violência contra a mulher e disse que a Guarda Municipal terá um papel central nisso em seu governo. A Guardiã da Penha, que agirá em conjunto com as outras polícias para proteger as mulheres vítimas de violência. A candidata destacou ainda a necessidade de e a iluminação pública em toda a cidade e não só nas regiões centrais.
Em seguida, Melo quis reivindicar a criação do cercamento eletrônico para a gestão de José Fortunati (PTB), da qual foi vice-prefeito. “O centro integrado de comando, ele vem de 2015, ali estão ligadas todas as câmeras, desde as escolas, todas as câmeras espalhadas pela cidade. Então, essa não é uma obra do atual governo, ela vem de outros governos e que foi aperfeiçoada e que está correto, do cercamento eletrônico e ele precisa ampliar, inclusive, requisitando as câmeras do setor privado que estão viradas para área externa para ajudar”.
Em seu direito à tréplica, Manuela relembrou o estado grave em que a gestão em que Melo foi vice-prefeito deixou a segurança pública na cidade. “Em 2015 e 2016, a revista The Economist disse que Porto Alegre era uma das 50 cidades mais violentas do mundo, nós sabemos quem governava a cidade naquela ocasião. O candidato Sebastião Melo era vice-prefeito, ou seja, um dos responsáveis por nós alcançarmos um nível tão triste”.
“Nós, mulheres, sabemos como é sair nas ruas quando sentimos medo. É por isso que nós integraremos um conjunto de políticas para garantir segurança na nossa cidade. Uma ação integrada entre as polícias, vagas nas creches e nas escolas, fazendo a gestão democrática nas nossas escolas para que elas sejam ambientes ainda melhores para as nossas crianças, fazendo com que cada escola seja o principal espaço da cidadania em cada comunidade. É isso que eu sonho como candidata a prefeita, fazer de Porto Alegre uma cidade educadora, uma cidade que dispute as nossa crianças, que qualifique os nossos jovens para o mercado de trabalho”.