Cresce concentração na rede varejista
O grupo francês Carrefour informou, na quarta-feira (25), a compra do Grupo Big (ex-varejista americana Walmart no Brasil) por R$ 7,5 bilhões. O Grupo BIG é controlado pelo fundo americano Advent International e pelo Walmart. É dono de marcas como BIG, Super Bompreço, Maxxi Atacado, Walmart e Sam’s Club no Brasil.
Com a compra do BIG, o Carrefour deverá alcançar 60 milhões de clientes. Hoje, são 45 milhões no país. O Grupo BIG, controlado pelos americanos, é o terceiro maior conglomerado varejista de alimentos do Brasil, operando com cerca de 400 lojas e 13 postos de gasolina.
O gigantismo dessa operação evidencia o processo acelerado de monopolização da estrutura de distribuição de alimentos e demais produtos básicos utilizados pelas famílias brasileiras. A nova situação vai deixar elevado percentual do mercado brasileiro nas mãos de dois grandes grupos estrangeiros, o próprio Carrefour e o Cassino (GPA – com as bandeiras Pão de Acúçar, Compre Bem e Extra), ambos controlados pelos franceses.
Esse processo de concentração reduz as condições de negociação da indústria, especialmente das indústrias nacionais, que ficam submetidas ao poder desses grandes grupos, visto que as multinacionais de alimentos, higiene e limpeza, etc., estão no mesmo patamar de monopólio. O consumidor brasileiro, com isso, ficará cada vez mais à mercê dos preços cartelizados. A concentração acaba com a concorrência, com as feiras livres, com o comércio nos bairros populares, além de impor preços abusivos.
Hoje, você pode ir a uma loja do Pão de Açúcar e comprar pãezinhos chegados algumas horas antes de Paris. E cada vez mais vemos produtos importados, inclusive gerando faturamento para suas matrizes. Como se, por exemplo, o modelo de padarias em São Paulo, as “padocas”, não tivessem a ensinar aos melhores padeiros e confeiteiros estrangeiros.
No ano passado, em plena pandemia, a inflação de alimentos disparou comendo a renda dos brasileiros, por outro lado, os supermercados e grandes atacadistas viram seus lucros baterem recordes, comparáveis aos anos 90.
Segundo balanço do Carrefour, as vendas brutas do grupo cresceram 20% em 2020, para R$ 74,7 bilhões, e o lucro líquido mais que dobrou, de R$ 1,3 bilhão em 2019 para R$ 2,8 bilhões no ano passado. No quarto trimestre, a receita bruta avançou 24,5% e o lucro, 35%, para R$ 1 bilhão.
Em defesa do consumidor, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que seria o principal instrumento de controle de cartéis, é tão leniente com a cartelização que corre solta que os responsáveis pelo negócio do Carrefour e do BIG já dão como certa a aprovação do órgão.
“Não vemos muitas dificuldades no Cade porque são modelos completamente diferentes. Eles têm supermercados onde não temos muito, repartição geográfica onde temos poucas presenças”, disse Noël Prioux, CEO do Carrefour Brasil, em coletiva de imprensa para falar sobre a transação.
Mas ao mesmo tempo confessa: “A aquisição do Grupo Big expandirá a presença do Carrefour Brasil em regiões onde tem penetração limitada, como o Nordeste e Sul do País, e que oferecem forte potencial de crescimento. A rede de lojas do Grupo Big, portanto, apresenta forte complementaridade geográfica”, diz a companhia, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A participação do setor supermercadista na economia brasileira responde por 6,02% do PIB brasileiro e 86,1% das vendas de bens de consumo diário.