Um deputado à procura de confusão, que está fácil encontrar, sob a presidência de seu pai
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), manipulou nas redes sociais, nesta segunda-feira (29), a morte do policial militar Wesley Soares no último domingo (28) em Salvador (BA) e insinuou que o policial foi morto por ter sido contra as medidas de restrição do governador da Bahia, Rui Costa (PT).
“Aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar”, disse Eduardo Bolsonaro, que também compartilhou suposta frase do PM morto: “Eu não vou deixar, não vou permitir, que violem a dignidade humana de um trabalhador”.
A partir daí, as redes sociais bolsonaristas tentam transformar o PM, numa clara manipulação psicossocial, em herói. Ele disparou tiros de fuzil contra agentes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) depois de aparente surto psicótico no Farol da Barra, em que lutou a favor dos trabalhadores na pandemia.
Ao fim e ao cabo, o policial é vítima do bolsonarismo, que deseja e busca o caos para justificar motins e afins contra a democracia, que segue combalida sob Bolsonaro.
O PM Wesley Soares foi morto após atirar em policiais militares, com aparente descontrole emocional. Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) tentaram negociar com o policial por 3 horas e meia, mas não tiveram sucesso.
Segundo o portal Metrópoles, a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados, também manipulou, nas redes sociais, a morte do policial, mas apagou a postagem logo em seguida, em razão das críticas que recebeu dos colegas deputados.
“Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora, a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal”, escreveu.
NARRATIVA BOLSONARISTA
Diante do fato trágico e em busca de construir narrativa mentirosa para atacar o governador do Estado, alvo de críticas recorrentes do presidente da República, parlamentares bolsonaristas pregam motim das forças policiais no Estado.
Bia Kicis e o deputado estadual Soldado Prisco (PSC-BA) foram às redes sociais rapidamente incitar o motim, afirmando que Wesley Góes “disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia”.
A líder do PSol na Câmara, Fernanda Melchionna (RS), que também é coordenadora do partido na CCJ, criticou duramente o discurso da bolsonarista e afirmou que “qualquer condescendência com as atitudes de Bia Kicis é cumplicidade com crimes”.
“É inacreditável que a presidente da CCJ, que deveria ser um exemplo de respeito à Constituição, se sinta à vontade para espalhar notícias falsas. Há tempos o PSol alerta para os efeitos nefastos, para toda a população, do adoecimento mental dos policiais. Bia Kicis utilizou o fato de o PM em surto ser morto ao atacar colegas a tiros na Bahia para faturar politicamente com a tragédia. Anuncio que iremos trabalhar com todas as forças para inviabilizar o funcionamento da CCJ enquanto ela seguir presidida por esta fascista. O limite do bom senso já foi superado há muito tempo e qualquer condescendência com as atitudes de Bia Kicis é cumplicidade com crimes”, declarou Melchionna, em nota.
O vice-líder da Minoria na Câmara, o deputado Afonso Florence (PT-BA), repudiou as declarações de Kicis.
“É lamentável que uma deputada federal tente politizar uma tragédia, mas infelizmente não me surpreende. É mais um ataque oportunista e criminoso orquestrado pelo gabinete do ódio em Brasília. Esse discurso de ódio, baseado em mentiras e interesses políticos, tem sido fortalecido por parlamentares que deveriam respeitar o povo e a constituição”, disse o parlamentar.
Desconsiderando o problema de saúde do soldado, Bia Kicis associou o surto às medidas restritivas adotadas na Bahia de combate ao coronavírus, afirmando em suas postagens que “o policial morreu porque se recusou a prender trabalhadores”. O que Florence rebateu veementemente “Se o presidente tivesse feito sua parte e trabalhado para garantir as vacinas, não estaríamos vivendo esta situação de colapso em todo Brasil. Vacina salva vidas e salva a economia”.
PMBA
De acordo com o coronel Paulo Coutinho, da Polícia Militar da Bahia, a PM só disparou contra o soldado após ter sido alvo de tiros de fuzil. Ele disse que os agentes seguiram todas as recomendações dos protocolos internacionais de gerenciamento de crises, mas tiveram que reagir, pois estavam sendo alvejados por tiros de arma de alta letalidade.
“Não obstante todos os recursos que nós utilizamos de isolamento e contenção, ele direcionou essa arma para a tropa e efetuou disparos que poderiam ter atingido mortalmente não só policiais militares, mas também a comunidade”, contou o coronel Paulo Coutinho em entrevista à imprensa.
M. V.