Levantamento realizado pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems-SP) aponta que 591 dos 1.514 serviços municipais de saúde estão com os estoques zerados de remédios do chamado “kit intubação”
Para a pesquisa, o Conselho buscou dados das 645 cidades paulistas por meio do Sistema de Monitoramento de Consumo e Estoque dos Medicamentos do Kit Intubação (MedCovid), desenvolvido pela Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Quando analisado o abastecimento de bloqueadores neuromusculares, um dos medicamentos do “kit intubação”, foram identificadas atualizações de 265 municípios, representando 1.514 serviços de saúde.
Os neurobloqueadores são usados para relaxar a musculatura, a caixa torácica e ajudam os pacientes a permanecer com ventilação mecânica e a suportá-la. Entre os mais usados no país, estão atracúrio, rocurônio e cisatracúrio.
Dentre estes serviços, 39% estão zerados e 20% ainda possuem o medicamento, mas por até uma semana.
As cidades do estado também foram analisadas pelo Cosems-SP sobre os sedativos, que também compõem o “kit intubação”. 275 municípios tinham atualizações, representando 931 serviços de saúde.
Dentre estes serviços, cerca de 36,5% estão zerados e 24% ainda possuem o medicamento, mas por até uma semana.
De acordo com o Cosems-SP, a falta dos remédios está relacionada à escassez desses insumos no mercado nacional, distribuição insuficiente pelo Ministério da Saúde, atrasos dos fornecedores, e ampliação do consumo devido à intensificação da pandemia da Covid-19.
A secretaria estadual da saúde confirmou que o saldo de “diversos itens se esgotou na primeira quinzena de março”, e acusou o governo federal de ter enviado, no último fim de semana de março, apenas 1,9% do número de ampolas necessárias para atender a demanda mensal da rede pública paulista.
“O governo federal liberou, no final de semana, somente 65.770 ampolas de neurobloqueadores e anestésicos, o que corresponde a apenas 1,9% do que é preciso para atender a demanda mensal da rede pública de saúde de SP, de 3,5 milhões de ampolas. Essa quantidade equivale à necessidade para consumo por cerca de 12 horas na rede pública de saúde”, disse a secretaria da Saúde de SP.
Ainda, nesta pesquisa, pelo menos 591 serviços municipais de saúde do Estado de São Paulo estão com os estoques de bloqueadores neuromusculares zerados. Os sedativos estão em falta em 342 serviços. Médicos estão recorrendo a remédios mais antigos, já fora de uso, para suprir a escassez.
Não só hospitais, mas também Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), pronto-socorros e até postos de saúde têm recebido pacientes graves de Covid-19 por causa do recrudescimento da pandemia no Estado. A Secretaria Estadual de Saúde diz que o Ministério da Saúde não está enviando os medicamentos nas quantidades necessárias.
“Estamos usando sedativos e bloqueadores mais antigos, tentando resgatar os medicamentos que usávamos lá atrás para que ninguém fique sem assistência”, afirmou Geraldo Reple, presidente do Cosems-SP e secretário municipal de Saúde de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. “Estamos revendo todos os protocolos.”
O abastecimento do oxigênio também preocupa, principalmente pela logística de distribuição. “O problema é a logística. Com o aumento dos casos, os cilindros de oxigênio precisam ser trocados com muito mais frequência. E isso é complicado em cidades mais distantes”, disse Reple
Outro levantamento divulgado na quinta, desta vez pelo Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), indica que, em todo o Brasil, gestores de 1.068 municípios relataram preocupação sobre o estoque de cilindros de oxigênio e até mesmo do risco de desabastecimento nos próximos dias se a curva de casos de Covid-19 se mantiver em alta e houver novos entraves junto a fornecedores.
AVISO
Há 15 dias, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) também fez um levantamento com instituições privadas e identificou que as unidades enfrentam graves riscos de falta de medicamentos do “kit intubação”.
Segundo o relatório, metade dos hospitais que participaram da pesquisa tinham estoque de medicamentos para apenas uma semana.
Na semana passada, médicos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) da cidade de São Paulo também relataram escassez de medicamentos para intubação. Para contornar a falta dos produtos, os profissionais estão mudando o protocolo de atendimento, e utilizando outros remédios para sedar os pacientes internados e prepará-los para o procedimento de intubação.