O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o filho 01 de Bolsonaro, disse que vai entrar com uma representação contra o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) no Conselho de Ética do Senado.
Flávio Bolsonaro deve alegar na sua representação que houve uma suposta quebra de decoro por parte de Kajuru ao divulgar a conversa entre o senador e Jair Bolsonaro. No áudio, Bolsonaro pressiona para esvaziar a CPI da Covid-19 e estimula o impeachment de ministros do STF.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou na quinta-feira (8) que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalasse imediatamente a CPI da Covid-19, que estava engavetada desde o dia 4 de fevereiro, quando foi protocolada com a assinatura de apoio de 30 senadores. Depois, outros quatro aderiram ao requerimento da CPI.
O mundo de Bolsonaro caiu e ele passou a atacar desesperadamente a decisão do ministro do STF, provocando várias declarações de apoio a Barroso.
A liminar de Barroso pela instalação da CPI deverá ser julgada pelo plenário do STF na quarta-feira (14).
A representação de Flávio, se houver, é vazia porque não há proibição voltada para atitudes como a do senador do Cidadania, já que Kajuru era um dos participantes da conversa. Além do mais, há quem diga, como os ministros do STF, que a conversa foi armada para ser mesmo divulgada. Uma encenação.
Segundo o ministro Marco Aurélio, decano do STF, “o presidente nada de braçadas quando se tem crise. Ele fomenta a crise para desviar o foco e apresentar ‘serviços’ entre aspas à nação”.
Bolsonaro reclamou da divulgação da gravação e cobrou autorização judicial. “A gravação é só com autorização judicial. Agora, gravar o presidente e divulgar… E outra, só para controle, falei mais coisas naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da minha parte, tá?”, disse Bolsonaro, apesar de se queixar.
Depois disso, Kajuru divulgou um novo trecho da gravação. Nele, Bolsonaro diz que “teria que sair na porrada” com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição na Casa.
A declaração se deu após Kajuru afirmar que não participaria de uma CPI que tivesse como foco esmiuçar somente a omissão do governo federal no combate à pandemia.
“Se você não participa, daí a canalhada lá do Randolfe Rodrigues vai participar. E vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desse”, responde Bolsonaro.
Leia o primeiro trecho do diálogo entre Kajuru e Bolsonaro:
Bolsonaro: Então uma CPI completamente direcionada à minha pessoa.
Kajuru: Não, presidente, a gente pode convocar governadores.
Bolsonaro: Se você não mudar o objeto da CPI, você não pode convocar governadores.
Kajuru: Tá, mas eu vou mudar. Eu quero ouvir os governadores.
Bolsonaro: Se mudar [trecho inaudível], porque nós não temos nada a esconder.
Kajuru: Não, eu não abro mão de ouvir governadores em hipótese alguma.
Bolsonaro: Então, olha só…
Kajuru: Eu só não quero que o senhor me coloque no mesmo joio.
Bolsonaro: Olha só, você tem que fazer, tem que mudar o objetivo da CPI. Tem que ser ampla.
Kajuru: Ampla, claro.
Bolsonaro: CPI da Covid no Brasil. Daí você faz um excelente trabalho pelo Brasil.
Kajuru: Exato. O que eu quero fazer é isso. Eu não vou manchar meu nome de forma alguma.
Bolsonaro: Você não é o autor da CPI, então o objetivo do autor, que eu não sei quem é, como tá lá, é investigar omissões do governo federal no combate à covid.
Kajuru: Não é meu caso.
Bolsonaro: Tudo bem.
Kajuru: Eu acabei de declarar para o Augusto Nunes, mas eu quero dizer que eu não posso ser colocado no mesmo joio, não é, presidente? Nas suas entrevistas, o senhor coloca como se todos nós fossemos iguais. Aí não é certo.
Bolsonaro: A CPI hoje é para investigar omissões do presidente Jair Bolsonaro. Ponto final.
Kajuru: O senhor pode dizer: ‘Não é o que pensa o senador Kajuru que quer fazer uma investigação completa’.
Bolsonaro: Kajuru, se não mudar o objetivo da CPI ela vai só vir para cima de mim.
Kajuru: Mas não vai, presidente. Tem a opinião de outros. São 11 titulares e 8 suplentes. A opinião de um não prevalece. Vai prevalecer a quem concordar. Eu não concordo com coisa errada, presidente.
Bolsonaro: Kajuru, olha só: Tem que fazer para ter uma CPI que realmente seja útil para o Brasil. Mudar a amplitude dela, bota governadores e prefeitos.
Kajuru: Sim, vou mudar.
Bolsonaro: Presidente da república, governadores e prefeitos.
Kajuru: Eu fui o primeiro a assinar para governadores e municípios. O senhor pode ver lá. Portanto, eu concordo com a amplitude.
Bolsonaro: Tá ok. Se mudar a amplitude, tudo bem, mas se não mudar, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa para fazer um relatório sacana.
Kajuru: Isso ai eu não faço nunca, pela minha mãe.
Bolsonaro: Vamos lá, Kajuru, coisa importante aqui: A gente tem que fazer do limão uma limonada. Por enquanto o que está aí é um limão, e tá para sair uma limonada. Acho que você já fez alguma coisa. Tem que peticionar o Supremo e colocar em pauta o impeachment também.
Kajuru: E o que eu fiz? O senhor não viu o que eu fiz não?
Bolsonaro: Parece que você fez. Fez pensando em investigar quem?
Kajuru: O Alexandre de Moraes, ué.
Bolsonaro: Tudo bem.
Kajuru: O do Alexandre de Moraes meu já está lá engavetado pelo Pacheco, só falta ele liberar, correto?
Bolsonaro: Você pressionou o Supremo, né?
Kajuru: Sim, claro. Eu entrei contra o Supremo. Entrei ontem às 17h40.
Bolsonaro: Parabéns para você.
Kajuru: Eu só queria que o senhor desse crédito para mim nesse ponto.
Bolsonaro: Kajuru, de tudo o que nós conversamos aqui, nós estamos afinados, nós dois. É CPI ampla, investigar ministros do Supremo.
Kajuru: E nunca revanchista.
Bolsonaro: Dez para você. Tendo a oportunidade, eu falo com as mídias e sinto que a minha conversa contigo, ampla CPI do Covid. E também o Supremo.
Kajuru: Exatamente. Se ele fez com a CPI tem que fazer também com o ministro.
Bolsonaro: Sim.
Kajuru: Quer dizer, então é a coisa justa. O que é difícil pra mim é que eu tenho uma posição dessa, presidente, e aí todo mundo vem contra mim porque a fala do senhor generaliza todo mundo. Não é só eu não. Acho que o senhor precisa separar o joio do trigo.
Bolsonaro: Kajuru, olha, qualquer pessoa que eu conversar vou dizer o seguinte: ‘O Kajuru foi bem intencionado, só que a CPI era restrita. Só que agora ele vai fazer o possível para ter uma CPI ampla. Da minha parte, não tem problema nenhum. Ele inspecionou o Supremo, que deve ser o Barroso.
Kajuru: Deve ser não, tem que ser, por causa daquela palavra jurídica “pretento”, então juridicamente ele é obrigado a opinar, ele não pode botar na mão de outro ministro.
Bolsonaro: É “prevento”. Ele vai ter que despachar.
Kajuru: Ele não pode colocar na mão de outro. Modéstia à parte, eu acho que fui bem nessa.
Bolsonaro: Bem não, você foi dez. Acho que o que vai acontecer, eles vão ponderar tudo. Não tem CPI nem tem investigação do Supremo.
Kajuru: Ou bota tudo, ou zero a zero.
Bolsonaro: Eu sou a favor de botar tudo pra frente.
Kajuru: É, claro, vamo pro pau.
Bolsonaro: A questão do vírus, ninguém vai curar, não vai deixar de morrer gente infelizmente no Brasil. Um dia morre menos gente se os prefeitos todos pegassem recursos e investissem em postos de saúde, hospital.
Kajuru: Presidente, eu sou justo. Nunca pedi uma agulha para o senhor.
Bolsonaro: Estamos 100% assinados.
Kajuru: Eu só quero pedir justiça, presidente.
Bolsonaro: Se você me pedir algo, sei que vai fazer bom uso.
Kajuru: O senhor me ajudou no que foi o único presidente da república da história do Brasil que ajudou a diabetes. E isso aí é toma lá da cá?
Bolsonaro: Tem nada a ver.
Kajuru: Pelo amor de Deus, não é?
Bolsonaro: Tá certo.
Kajuru: Abraço para você. Bom final de semana e saúde.
Bolsonaro: Valeu, até mais.