No dia 7 de abril completou dois anos do “caso dos 80 tiros”, atentado que executou o músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, a tiros de fuzil em uma ação de militares do Exército, em Guadalupe, no Rio de Janeiro, numa tarde de domingo.
A vítima estava com sua família dentro do carro a caminho de um chá de bebê, quando teve seu carro alvejado por mais de 80 tiros. O músico estava dirigindo um carro Ford Ka branco, junto à sua esposa, o filho de 7 anos, seu sogro Sérgio Gonçalves e uma amiga da família.
O processo, que se arrasta na Justiça desde 2019 é uma preocupação para Luciana Nogueira, esposa de Evaldo. A data do julgamento chegou a ser marcada para essa semana, mas a audiência foi suspensa por conta do agravamento da pandemia no Rio de Janeiro e não tem previsão para ocorrer. “Será que eu vou ter Justiça se as coisas estão caindo no esquecimento?”, pergunta.
Luciana é técnica em enfermagem e se diz “esgotada, cansada”, como toda a sua classe profissional, durante a pandemia. Ela foi obrigada a largar um dos dois empregos que tinha para cuidar do filho, hoje com 10 anos de idade.
Em entrevista à Agência Pública, Luciana fala sobre temor e da angústia de que o caso seja esquecido e que os culpados não sejam punidos.
“Por causa da forma que tudo aconteceu, da dimensão que tomou a situação, que o Brasil todo viu, achei que as coisas poderiam ter um retorno mais rápido. Infelizmente já vai para dois anos e até agora eu não tenho certeza de nada. Quando perguntam como está o processo, como estão andando as coisas, eu ouço de algumas pessoas: ‘você sabe que não vai dar em nada, porque foi o Exército brasileiro, principalmente que o nosso presidente é militar também’, ‘o que eles vão tentar é te dar um ‘cala a boca’, ‘você sabe que isso não vai dar em nada porque vai ser julgado por eles mesmos [militares]’”, contou.
Luciana diz que não consegue esquecer as declarações de Bolsonaro de que “o Exército não matou ninguém”.
“Eu não consegui digerir o que o presidente falou”, disse, lembrando que “ali era uma pessoa do bem, que não passava perigo nenhum para os militares, não tivemos atitude suspeita, nada que justificasse a atitude que tiveram com a minha família. Eu não consegui digerir o que o presidente falou, porque a dor foi minha, o choro foi meu”.
Luciana e o filho recebem acompanhamento psicológico a cada 15 dias e tomam antidepressivos, desde o atentado que matou Evaldo. Mesmo com o temor de que as o caso seja esquecido, Luciana guarda a esperança de que os culpados sejam punidos.
“Eu gostaria que as pessoas que vão estar nesse julgamento do caso, que se colocassem no meu lugar, ou sentissem pelo menos a minha dor, para ver se eles vão decidir de uma maneira positiva. Se eu não acreditar, a gente acaba esmorecendo, e a gente precisa seguir, por mim e pelo Davi. E tenho certeza de que, se fosse o contrário, o Duda faria o mesmo por mim”, diz Luciana.