Os seguidores de Bolsonaro e do autodenominado filósofo, o fundamentalista Olavo de Carvalho, alojados na Secretaria Especial da Cultura, têm elaborado dossiês ilegais e apócrifos de outros funcionários que não compartilham das ideias estúpidas do olavismo ou que não seguem a cartilha retrógrada de Bolsonaro no setor.
Eles estigmatizam estes funcionários com os quais não simpatizam, chamando-os de esquerdistas ou petistas e recomendam que sejam demitidos ou perseguidos.
Já os aliados do olavismo são apontados como modelos, heróis, exemplos a seguir e a patrocinar ou promover.
O material elaborado por eles é enviado para a direção da Secretaria, encabeçada por Mario Frias, geralmente por WhatsApp ou email, sem assinatura.
Segundo o Painel, do jornal Folha de S. Paulo, numa planilha chamada “mapeamento Funarte 2020-2021”, seis servidores aparecem como militantes esquerdistas ou do PT e que por isso devem ser exonerados.
“Servidora, há anos e é militante esquerdista, tirar cargo de gratificação. Faz movimentos na Funarte contra governo. Companheira de Marcos Teixeira [Campos, presidente substituto da Funarte na gestão de Regina Duarte], turma do Humberto Braga [presidente da Funarte no governo Michel Temer (MDB)], levantar açãos contra o governo (sic)”, descreve a planilha.
Um dos alvos da planilha foi exonerado da presidência da Funarte no mês passado. É o coronel da reserva do Exército, Lamartine Barbosa Holanda. Ele é caluniado no dossiê por supostamente esconder informações e acobertar falhas.
“Proibiu Coordenadores, servidores, colaborabores e diretoria de passar informações para auditoria e jurídico. Em sua gestão há sérios problemas com editais que não estão sendo pagos, o que se espalha nas redes sociais. Soluções morosas. E não direcionamento de forma formal o que informar aos cobradores (sic)”, diz o texto sobre o coronel.
Após sua demissão, o coronel divulgou uma carta de despedida onde explica que não pôde aceitar as imposições esdrúxulas de Mario Frias.
Entre as imposições, Lamartine Barbosa citou a nomeação de pessoal sem correta análise de perfil, descompromisso com pequenos produtores e propostas equivocadas de parcerias público-privadas de equipamentos, como o Teatro Cacilda Becker (RJ) e o Teatro Brasileiro de Comédia (SP).
“A cultura é movida pela emoção e não podemos comparar equipamentos culturais da Funarte com um trecho de estrada a ser privatizado. A cultura tem artistas, palcos, som, iluminação e alma, muito diferente de praças de pedágio, asfalto e piche”, escreveu o coronel Lamartine Barbosa, o quinto presidente da Funarte no governo Bolsonaro.
Outra que é vítima do material clandestino é Ivone Santos, chefe da representação regional Sul/Sudeste da fundação. Ivone é acusada de tentar transferir a Funarte para SP.
Noutro documento mais recente tem a secretária-adjunta da Cultura, Andrea Paes Leme, como alvo. O texto mostra supostos tuítes de Andrea do primeiro turno das eleições de 2018 em apoio a João Amoêdo (Novo) e nos quais ela diz que a disputa estava dando desespero. O material diz que o cargo de número 2 da Cultura para ela é uma humilhação para Bolsonaro.
“A Secretária Especial Adjunta Andrea Abrão Paes Leme se deu bem: enganou o Secretário Especial Mario Frias e sabendo ser o Bolsonaro Bozo bobo acertou em cheio. Saiu do DNIT e agora manda na Cultura. Que humilhação para um Presidente da República dar o segundo posto no comando da Cultura para quem na boca da eleição e 10 dias antes de ser esfaqueado estava ridicularizando-o como uma opção equivalente ao PT (sic)”, diz trecho do documento.
Já os aliados do olavismo são descritos da forma mais elogiável possível, Luciana Lago, produtora cultural evangélica que era diretora da Escola Nacional do Circo. “Atriz, circense, gestora e empresária artística e produtora cultural, por mais de 28 anos”, diz sua ficha.
Ela foi nomeada para o cargo em junho de 2020, quando Luciano Querido, ex-assessor de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), estava interinamente como presidente da Funarte, à qual a escola está subordinada. Ela foi exonerada em março por decisão de Lamartine Barbosa.
Um advogado é descrito como “jovem conservador ativo”. Outro aparece como “secretário da ala conservadora da OAB-RJ, reconhecido jornalista conservador por nomeação”.
Quero ver quando o cipó mudar de mão Mario Frias.