O desgaste que Jair Bolsonaro vem sofrendo desde o início da pandemia, devido a seu comportamento errático e negacionista, se acentuou a partir do final de 2020, não apenas pela demora na vacinação contra a Covid-19, mas também por causa da crise econômica, com o aumento do desemprego.
É o que apontam as últimas pesquisas sobre a popularidade do presidente nas redes sociais. As sondagens mostram que a confiança em Bolsonaro sofreu um abalo significativo entre seus aliados tradicionais.
A morte do ator e humorista Paulo Gustavo, vítima do novo coronavírus, também foi responsável por uma forte onda negativa que avançou sobre sua imagem nas mídias digitais.
A comoção, misturada à indignação com a falta de vacina e o desrespeito às medidas sanitárias, levou o presidente a ser alvo de palavras nada elogiosas, como “verme”, “monstro”, “cínico”, hipócrita” e “desgraçado”.
Não pegou bem, ainda, a manobra encenada por Bolsonaro na tentativa de mudar a imagem de desprezo às vítimas da doença, usando as redes para expressar “pesar” pela morte do ator.
Nem isso, porém, fez com que o coro de “Fora Bolsonaro” diminuísse.
Segundo levantamento feito pela consultoria AP Exata, a pandemia afetou a percepção dos internautas sobre o presidente nos últimos meses. Entretanto, o estrago causado pelo desastre da política econômica de Paulo Guedes foi maior.
Até agosto do ano passado, as publicações que manifestaram confiança em Bolsonaro eram cerca de 24%, de acordo com o estudo. A partir de setembro, o índice começou a registrar queda. Em novembro, ficou em 20%. Em dezembro, quando foram pagas as últimas parcelas do auxílio emergencial de R$ 300, caiu para 16%.
O levantamento mostra que o índice de confiança, no entanto, começou a oscilar negativamente em setembro, quando a alta dos preços se tornou mais visível. Naquele mês, a variação mensal da inflação havia saltado de 0,24% para 0,64%. A sequência continuou até dezembro, com o pico de 1,35%.
Um estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV) indicou que Bolsonaro vem perdendo força nessas mídias. Facebook, Instagram e YouTube registram queda no engajamento em torno do presidente ao longo de 2020, aponta o relatório.
A Bites Consultoria também avaliou o desempenho de Bolsonaro. A pesquisa, realizada por encomenda do jornal “O Estado de S. Paulo”, analisou o desempenho do presidente desde 2019 em suas quatro principais redes sociais – Twitter, Instagram, Facebook e YouTube. O resultado mostra uma desaceleração de Bolsonaro nas redes, ao longo dos anos: em 2019, cada “post” dele tinha, em média 129 mil interações. Em 2020, este número caiu para 113 mil, e finalmente para 95 mil neste ano.
Bolsonaro costuma guiar seu comportamento político por avaliações de usuários nas redes sociais, deixando em segundo plano as tradicionais pesquisas de opinião.
Quem cuida de suas mídias digitais é o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho, que comanda o chamado “gabinete do ódio” – núcleo de auxiliares que desempenha papel de ‘milícia digital’ contra opositores do governo.