O desinteresse do governo federal, sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro, inviabilizou a compra dos imunizantes em tempo hábil, a fim de evitar a tragédia sanitária que ora acomete o Brasil
“O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro. No final de dezembro, o mundo tinha aplicado um pouco mais de 4 milhões de doses. E nós tínhamos, no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas e mais 4 milhões em processamento”, disse o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (27).
O diretor do Instituto Butantan é o 11º depoente a ser ouvido pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga as ações, omissões e inações do governo federal na gestão da pandemia da Covid-19. O inquérito na Casa completa nesta quinta-feira um mês.
A comissão foi instalada em 27 de abril, depois de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que determinou a instalação das investigações, cujo requerimento foi protocolizado no início de fevereiro, cujo primeiro signatário foi o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
“PERCALÇOS” NÃO FORAM SUPERADOS
“Sem contato com o ministério. Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou?”, indagou Dimas Covas ao plenário da CPI.
“Nós já tínhamos as doses, estavam disponíveis. E eu, muitas vezes, declarei de público que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação”, enfatizou. E acrescentou: “não fossem os percalços que nós tínhamos que enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato, como do ponto de vista também regulatório.”
“Quer dizer, a regulamentação para uso emergencial das vacinas no Brasil saiu em dezembro pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Em outros países, em meados do ano passado, já existia essa regulamentação”, lembrou Covas.
BUROCRACIA
“Então, isso também causou aí, vamos dizer, um atraso nesse processo. Poderíamos ter começado antes seguramente se houvesse uma agilidade maior de todos esses atores, se tivéssemos trabalhado em conjunto, o que seria absolutamente normal. Então, houve outras iniciativas obviamente”, criticou o diretor.
“O ministério tentou, inclusive, incorporar outras vacinas. Tinha um contrato com a AstraZeneca para o oferecimento de 100 milhões. Isso começou a ter dificuldade no começo do ano. Isso também foi amplamente noticiado. Tentou-se buscar as vacinas na Índia. Teve problema com o fornecimento”, detalhou.
Diante da catástrofe, com muito atraso, o governo federal demandou a contratação para aquisição dos imunizantes. “O fato é que essas dificuldades, no dia 6 de janeiro, levaram o ministério, obviamente, a nos solicitar, de fato, aí sim, a assinatura de um contrato. E fizemos uma oferta, no dia 6, ao ministério de 100 milhões de doses, mas já com um cronograma diferente”, asseverou.
Dimas Covas: “O cronograma que nós tínhamos ofertado lá [em 2020] já não era mais possível de ser cumprido. Por quê?”.
“Porque os parceiros internacionais, a Sinovac, já tinham outros compromissos. O ambiente internacional era outro, de falta de vacinas. Portanto, era possível o fornecimento de 100 milhões de doses, mas num outro cronograma, não mais até maio. Nós já estávamos falando em agosto e setembro deste ano”, esclareceu Dimas Covas.