O desmonte e destruição de órgãos e instituições estratégicas para o país promovidos pelo governo Bolsonaro atinge agora o supercomputador Tupã, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que gera relatórios de previsão do clima que abastecem o Operador Nacional do Serviço Elétrico (ONS), que coordena a geração e a transmissão de energia elétrica em todo o país.
Por falta de verba – o orçamento do Inpe para 2021 é o menor da história -, a decisão é que o supercomputador seja desativado até agosto, por falta de recursos para o pagamento de energia elétrica.
Com o alerta atual de crise hídrica, devido à estiagem que já afeta os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, o desligamento do Tupã, que faz a previsão de estiagem, é ainda mais grave, pois deixa o governo às cegas para tomar decisões sobre o assunto.
Para o ex-diretor do Inpe, Ricardo Galvão, “é uma situação crítica que o governo nunca poderia ter deixado acontecer”.
“Eu entendo que eles estejam com dificuldade orçamentária, mas esse governo não tem nenhuma preocupação na manutenção da qualidade dos serviços científicos. Isso que o Inpe está passando não faz sentido”, diz o cientista, que foi perseguido e exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro, em 2019, por divulgar alertas de aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia e outros biomas brasileros.
Segundo Galvão, “não existe prioridade dentro do governo para colocar o recurso nos locais corretos. Em situação de crise, temos que fazer escolhas estratégicas para a manutenção de serviços essenciais. Esse serviço é essencial e o governo está simplesmente varrendo isso para debaixo do tapete”, afirmou em entrevista ao G1.
O coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), que pertence ao Inpe, Gilvan Sampaio, considera o desligamento do supercomputador “extremamente grave”.
“É um prejuízo enorme para o país, estamos diante de uma crise hídrica. É extremamente grave. Se você não tem uma ferramenta como essa, você não consegue prever até quando vai essa crise, se ela vai se estender”, diz.
Segundo Gilvan Sampaio, além da verba não ser suficiente para os 5 milhões por ano da energia despendida pelo Tupã, não há verba para pagar o contrato de data center, onde são armazenados os dados gerados pelo supercomputador, o que também força a decisão de desativar.
Esse ano, o orçamento do Inpe teve uma queda de 18% em relação ao ano passado, que já era considerado pela sua direção como insuficiente. Além disso, pela demora na aprovação do orçamento federal, houve atraso na liberação dos recursos que são repassados ao órgão pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Com a diminuição da verba, além da desativação do supercomputador Tupã, o instituto já teve que fazer cortes em sua estrutura, como redução de internet e telefonia, suspensão de publicações de pesquisa e bolsas de pesquisadores e até serviços de limpeza e manutenção.