O pesquisador e epidemiologista Pedro Hallal afirmou que o Brasil precisa adotar duas medidas para “colocar os números no chão” do coronavírus.
De acordo com o epidemiologista, além de aplicação de 1,5 milhão de doses diárias de vacinas contra a Covid-19, seria necessário adotar lockdown de três semanas para frear a circulação do vírus. “O Brasil precisa parar, integralmente, por três semanas”, disse.
Hallal iniciou a exposição dele explicando a importância de utilizar números relativos para estabelecer comparações estatísticas. Com base nisso, ele rebateu a afirmação de que o Brasil é o quarto país que mais vacina no mundo —argumento utilizado pelo governo Bolsonaro.
“É lamentável essa afirmação ser feita. Em números relativos, o Brasil não está entre os 70 que mais vacinam. Assim como não é verdade que o Brasil é o segundo país com mais mortes no mundo. É o nono ou oitavo país”, explicou.
Segundo boletim divulgado na quarta-feira (23), pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde), o País registrou 115.228 novos casos, um recorde desde o início da pandemia, e 2.392 mortes.
A CPI da Covid-19 no Senado ouve, nesta quinta-feira (24), o pesquisador da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e epidemiologista Pedro Hallal e a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e representante do Movimento Alerta, Jurema Werneck.
A audiência pública estava prevista para a sexta-feira (25), mas foi antecipada em um dia. O depoimento de Filipe Martins, assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, estava marcado para esta quinta, mas foi adiado.
Hallal e Werneck foram convidados a pedido do relator, Renan Calheiros (MDB-AL). Aos senadores, eles estão falando sobre a importância das medidas não farmacológicas no enfrentamento da crise sanitária e dados coletados sobre mortes causadas pela pandemia.
“NEGACIONISMO FOI PROPAGADO PELO PRESIDENTE”
O epidemiologista disse que, apesar de o Brasil ter tido quatro ministros da Saúde, “a principal personalidade responsável por propagar mensagens anticiência foi diretamente o presidente da República”.
“Os senadores defendem ações do governo federal e do Ministério da saúde, mas não existe como defender a promoção de aglomeração sem máscaras e uma série de posturas adotadas pelo presidente da República”, acrescentou.
“A postura do presidente, como líder maior da Nação, é a pior de todas as posturas que observamos durante a pandemia”, asseverou.
“MINISTÉRIO DA SAÚDE FALHOU TERRIVELMENTE”
Questionada pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre a responsabilidade do Ministério da Saúde em evitar mortes causadas pela pandemia, a pesquisadora Jurema Werneck afirmou que a pasta “falhou terrivelmente”.
“Ao não colocar em prática, ao não mover o SUS com o potencial de liderança, de indutor do sistema, ao não fazer previsões necessárias e investimentos necessários, não há dúvida de que o Ministério da Saúde falhou terrivelmente. Poderia ter sido diferente. Segue falhando”, acrescentou Jurema Werneck.
“SETE PECADOS”
À CPI, Hallal listou “sete pecados” do Brasil no enfrentamento à crise sanitária causada pela Covid-19. De acordo com o especialista, são estes:
1) pouca testagem da população, rastreamento de contato e isolamento; 2) demora na compra de vacinas e desestímulo à vacinação; 3) promoção de tratamentos comprovadamente ineficazes; 4) falta de liderança do Ministério da Saúde; 5) desestímulo ao uso de máscaras; 6) uso de uma abordagem clínica contra a visão epidemiológica; e 7) falta de comunicação unificada.
O governo Bolsonaro, frente à pandemia fez tudo errado; em nada acertou e o resultado, hoje, são mais de 500 mil óbitos por Covid-19, escore atingido no último sábado (19). Nesta quinta-feira (24), o número de mortes chegou à trágica cifra de 509.392.
NEGROS E INDÍGENAS
O epidemiologista afirmou que um slide apresentado à CPI, nesta quinta-feira, foi retirado de apresentação que seria feita em evento no Palácio do Planalto.
“Este slide foi censurado na coletiva de imprensa do Palácio do Planalto na qual apresentei os dados”, disse.
“Fui informado pela assessoria de Comunicação que o slide tinha sido retirado da apresentação. Fui comunicado 15 minutos antes”, acrescentou.
Hallal também relatou que, semanas depois daquela apresentação, o Ministério da Saúde decidir interromper o EPICovid-19, pesquisa que tinha o objetivo de estimar o percentual de brasileiros infectados com o coronavírus por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica.
BRASIL CONCENTRA 13% DAS MORTES POR COVID-19
Hallal também citou o fato de o Brasil possuir 2,7% da população mundial, mas concentrar 13% de todas as mortes causadas pela Covid-19, para afirmar que, mesmo após 1 ano e meio do início da crise sanitária, a pandemia está fora de controle.
“Ontem, uma a cada três pessoas que morreram por Covid-19 no mundo moram no Brasil. Ou seja, 33% das mortes por Covid-19 ocorreram num país que tem 2,7% da população mundial”.
M. V.