Presidente do Instituto Butantan destacou eficiência do imunizante na redução dos óbitos e descartou necessidade de reforço da vacina em 2021. “Prioridade é imunizar a população”
Após Jair Bolsonaro criticar a eficácia da CoronaVac no Brasil e no Chile e dizer que a vacina desenvolvida pela biofarmacêutica Sinovac e produzida no país pelo Instituto Butantan não deu certo, Dimas Covas, presidente da instituição paulista rebateu.
Em entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo”, ao ser questionado sobre o que leva as pessoas a tentarem escolher a vacina que querem tomar, Dimas Covas pondera que “o critério para aprovação das vacinas é o mesmo”, portanto “uma vez aprovada, significa que demonstrou que tem segurança e eficácia”.
Para ele, a conduta de Bolsonaro contribui para esse tipo de comportamento. “Agora, por que o indivíduo quer a da Pfizer? Por que não quer a do Butantan e da AstraZeneca? Por que é americana? Não sei. Mas, sem dúvida, a colaboração enorme que aconteceu aqui foi a tentativa de desconstrução da vacina do Butantan feita pelas autoridades federais. Foi um movimento sistemático. As autoridades federais, principalmente relacionadas ao Poder Executivo, mas também à Saúde, em um determinado momento passaram a descredenciar a vacina”.
Perguntado se isso ainda continua, o presidente do Instituto Butantan frisou que “continua”. “Vez por outra, o ‘mandante mor’ do Brasil fala alguma coisa. Obviamente há uma legião de comandados que obedecem cegamente”.
Questionado se há alguma possibilidade da CoronaVac ter eficácia menor do que a apontada na pesquisa clínica, como sugeriu Bolsonaro, Dimas Covas explicou que “a eficácia depende do desenho do estudo clínico” e continuou: “Eficácias entre estudos diferentes não são comparáveis. É diferente fazer estudo clínico em profissionais de saúde e entre a população em geral. De qualquer maneira, alguns desses estudos apresentam a eficácia secundária, que é o que importa para uma vacinação, a proteção contra os casos sintomáticos. São pouquíssimas as que protegem contra a infecção. São as com efeito neutralizante”.
“No estudo inicial, a proteção contra casos leves foi de 83% e contra casos graves e moderados, de 100%. Recentemente fizemos estudo em Serrana, esse um estudo de eficiência, com mais de 95% da população adulta vacinada. Proteção contra sintomas: 80%; contra internação: 86%; e contra óbitos: 95%. Um desempenho excelente. Isso vem corroborando com dados de estudos de eficiência não controlados e a queda dos óbitos na população com mais de 60 anos, majoritariamente vacinada com a CoronaVac”, ressaltou Dimas Covas.
Sobre a argumentação usada por Bolsonaro de que no Chile, afirma-se que a vacina é eficaz contra casos graves, mas não tão eficiência para inibir o contágio, Dimas Covas desmistificou tal teoria.
“No Chile, há muita especulação. Fala-se que tem um aumento acentuado de casos apesar da vacinação. Houve uma redução importantíssima dos casos, de internações, de óbitos. E a incidência tem sido principalmente na população não vacinada. Os dados do Uruguai mostram uma queda acelerada em internações e óbitos também. Esse conjunto de dados, que são robustos, atesta que a vacina tem segurança, eficácia e eficiência”.
O presidente do Instituto Butantan ainda falou sobre como as denúncias de corrupção envolvendo os contratos de compra de vacina, contribuíram para o atraso da vacinação no país.
“O estudo da Federal do Rio Grande do Sul mostra que, se a vacinação tivesse começado um mês antes, teríamos salvo 46 mil vidas. Até o fim do ano passado a vacina era secundária, não era prioritária para o governo federal. A vacina de repente passou a ser prioritária quando a Economia disse que o melhor plano era vacinar a população. Demorou para chegar a essa conclusão. A (vacina) do Butantan não foi relegada a segundo plano, foi relegada a terceiro plano. Poderia ter sido a primeira a ser adquirida. Foi uma das últimas a ser contratada, só em janeiro, e mesmo assim foi a que iniciou o programa de vacinação”, afirmou.
Dimas Covas ainda destacou que não há entre o Instituto Butantan e o Ministério da Saúde intenção de não realizar mais contratos de compra e venda da CoronaVac.
A afirmação se deu após a participação do ministro Marcelo Queiroga na CPI da Covid, onde ele teria insinuado que não contrataria mais a vacina do Instituto Butantan porque haveria alto índice de vacinados se contaminando…
“O Marcelo Queiroga falou durante a CPI, e depois, que existiriam dúvidas em relação à vacina e ele poderia em um segundo momento contratar a Butanvac. Ele não falou em nenhum momento que poderia descontinuar a CoronaVac”, explicou Dimas Covas.
“Eu questionei depois disso e ele me disse que em nenhum momento isso foi discutido. Pelo contrário, solicitaram que se adiantasse fornecimento e eventualmente se acrescentasse o adicional de 30 milhões de doses, que não respondemos porque temos compromissos com o Estado. Então, não bate com a verdade. Semana passada saíram dados do Uruguai. A CoronaVac reduziu mortalidade em 97% e a Pfizer em apenas 80%. Internações em UTI com a Pfizer caíram 95%, e com CoronaVac em 99%”, destacou o presidente do Instituto Butantan.