“Eu acho que, daqui a trinta dias, nós teremos condições de estar apoiando um processo de impeachment do presidente da República na Câmara dos Deputados”, sentenciou a senadora
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), parlamentar que tem se destacado nos trabalhos da CPI da Covid, afirmou na sexta-feira (9), em entrevista ao Estadão, sobre as descobertas feitas pela comissão, que “há indícios muito fortes de crime de autoridades”.
“Nesse aspecto jurídico, nós temos elementos, sim. A primeira etapa está clara. Tem elementos jurídicos. Vamos, agora, para o segundo passo. Houve perda da popularidade do presidente da República? Como está a economia? Nenhuma CPI, nenhum impeachment, andou sem estar a economia abalada e sem a perda de apoio popular. Os dois (elementos) estão presentes”, afirmou.
Na opinião da emedebista “ainda, não chegou ao ponto, a meu ver, de o presidente perder apoio parlamentar, dentro da Câmara dos Deputados”. Eu não acredito que se tenha, ainda, números para a instauração. É preciso aguardar esses trinta dias da CPI. Eu acho que, no quesito de regularidade de contratos, muita coisa vai vir à tona. Nós teremos, a partir daí, provavelmente, novos elementos que possam reforçar a perda da base parlamentar do presidente da República”, avaliou a senadora.
“Eu acho que, daqui a trinta dias, nós teremos condições de estar apoiando um processo de impeachment do presidente da República na Câmara dos Deputados”, sentenciou. “A prevaricação no governo, em relação ao contrato da Covaxin, existiu”, prosseguiu Tebet, lembrando que “houve a conversa (na qual Luis Miranda e seu irmão, servidor da Saúde, alertaram Bolsonaro sobre as irregularidades) no dia 20 de março”.
“O governo não nega. O governo não nega que mandou para o ministro Pazuello investigar. O ministro Pazuello sai do ministério dois dias depois. Mas, antes disso, disse que passou para o Élcio, que é o número dois dele, que é o (ex) secretário executivo (da Saúde). O secretário executivo, que saiu um dia depois do ministério, disse: ‘apurei e não vi nada’. Em um primeiro momento, a prevaricação recai sobre o coronel Élcio Franco”, diz a parlamentar.
“A pergunta é: cadê o documento que o Pazuello mandou para o Élcio, mandando investigar? Cadê o e-mail, o ofício, a sindicância administrativa, o “WhatsApp”, do Élcio para os subalternos, para investigar? Todo mundo fala que investigou. No mundo do direito público, não existe ato sem materialidade, sem documento. Não basta a palavra: “mandei investigar”. Mandou? Quem você mandou? Quem foi acionado?”, acrescenta.
A senadora disse que “a primeira fase dela está concluída. Está comprovado a omissão dolosa – não é só culposa, é dolosa (quando há a intenção de provocar dano) – do governo federal no atraso das compras de vacinas”. “Com base em uma tese focada em imunidade de rebanho por contaminação, houve toda uma situação de atrasar a compra de vacinas, de não fazer campanhas publicitárias, de não estimular o distanciamento social, o uso de máscaras e tudo mais… Isso é crime”, denuncia a senadora.
“Quando nós estávamos concluindo essa primeira fase, surge, da boca de um deputado federal bolsonarista, portanto de dentro do governo, uma denúncia seriíssima de que, além do negacionismo e dessa conduta negligente, imprudente, até dolosa, de alguns, em relação à condução da pandemia, havia também fortes indícios de crimes, no plural, de corrupção na compra de vacinas, também no plural. Óbvio que, nessa segunda fase, nós ainda estamos investigando”, explicou.
Lembrada como um possível nome que pudesse expressar “uma terceira” via para o pleito de 2022, Simone diz ter certeza “que terá uma terceira via (em 2022)”. “E seja quem for, eu estarei com ela. Óbvio que teremos dois ou três nomes ali, e nós depois, lá na frente, em um projeto de terceira via, para fazer com que o país possa voltar a ter esperança”.
“Eu tenho muita preocupação com a polarização desses dois nomes (o ex-presidente Lula, do PT, e Bolsonaro). O Brasil precisa de paz para crescer e se desenvolver. Enquanto se briga aqui por espaços políticos, as pessoas voltaram a passar fome. Diante desse cenário (…), nós não temos como optar pelo passado ou pelo presente. Nós temos que fazer uma opção pelo futuro”, afirmou.