Para a senadora do Cidadania, negociação de Pazuello deixa claro “a tentativa de criar um esquema com empresas em detrimento da negociação direta com os laboratórios”
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse que a reunião, em março, entre o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com empresários que queriam vender CoronaVac três vezes mais caro do que o Instituto Butantan deixa claro “a tentativa de criar um esquema com empresas em detrimento da negociação direta com os laboratórios”.
“A participação de Pazuello reforça uma praxe do alto escalão do Ministério da Saúde. O atraso nas vacinas não foi negacionismo, foi arranjo para viabilizar a corrupção em plena pandemia”, disse a senadora.
No dia 11 de março, Eduardo Pazuello se reuniu com representantes da empresa de Santa Catarina, a Word Brands, para negociar a importação de doses da CoronaVac pelo triplo do preço que tinham sido contratadas junto ao Instituto Butantan.
Quando depôs na CPI da Pandemia, Pazuello disse que não se reuniu com empresas que ofereciam vacina porque não era sua função e que isso seria errado.
“Eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor. Eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro”, afirmou Pazuello à CPI.
Entretanto, depois da reunião de março ele até gravou um vídeo com os empresários contando que um memorando de entendimento já tinha sido assinado.
“Nós estamos aqui reunidos no Ministério da Saúde, recebendo comitiva liderada pelo John. Uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, numa compra direta com o governo chinês. E já abre também uma nova possibilidade de termos mais doses e mais laboratórios. Vamos tratar na semana que vem. Mas saímos daqui hoje já com memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato”, afirmou Pazuello no vídeo.
A compra não foi efetivada por conta da troca de ministros, segundo apurou a CPI da Pandemia. Com a saída de Pazuello, entrou Marcelo Queroga.
Com o Instituto Butantan, cada dose foi contratada por US$ 10. Com os atravessadores que Eduardo Pazuello recebeu, seria US$ 28 por dose.
O braço direito de Eduardo Pazuello, Élcio Franco, também recebeu empresas atravessadoras para negociar vacinas a preço mais alto.
Franco se reuniu com os representantes da Davati Medical Supply, que dizia ter 400 milhões de doses da AstraZeneca para vender.