O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Pandemia, disse que o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, cometeu falso testemunho por ter falado à Comissão que não se reuniu com empresários que ofereciam vacinas.
Ainda assim, “falso testemunho é o menor dos crimes dele”, disse Randolfe.
Pazuello se reuniu, em março, com representantes de uma empresa atravessadora que ofertavam a vacina CoronaVac pelo triplo do preço maior que o do Instituto Butantan.
“Ficamos estupefatos com o vídeo do senhor Eduardo Pazuello recebendo um intermediário da vacina CoronaVac, com o Brasil já tendo iniciado a vacinação com o Instituto Butantan”, declarou Randolfe.
“Mais de 3 mil mortos por dia [no Brasil] e o ministro da Saúde estava recebendo intermediários que não tinham vacina”.
Quando depôs na CPI da Pandemia, Pazuello alegou que não recebeu os representantes da farmacêutica Pfizer, que ofereciam 70 milhões de doses desde a metade de 2020, porque não era atribuição sua, mas do setor administrativo do ministério.
A vacinação no Brasil poderia ter começado ainda em dezembro, não fosse a recusa do governo Bolsonaro em atender as repetidas propostas da Pfizer.
“No mínimo no falso testemunho à CPI está clara a caracterização penal do ministro”, afirmou Randolfe Rodrigues.
A CPI da Pandemia decidiu que não vai interromper seus trabalhos durante o recesso parlamentar, mas suspendeu os depoimentos. Os membros da Comissão estão investigando os documentos que foram entregues pelas testemunhas e investigados.
Randolfe Rodrigues informou que a Comissão irá se dividir para conseguir investigar os diversos pontos que precisam ser elucidados e que pedirá para a Polícia Federal o apoio de pelo menos mais dois delegados.
Entre os dias 26 e 29 de julho, a direção e os membros da CPI vão se reunir com juristas para “organizarmos o lastro jurídico constitucional necessário para o relatório final da CPI”, disse Randolfe.
Entre os pontos que são investigados pelos grupos dentro da CPI estão:
1) O negacionismo de Jair Bolsonaro e outros membros do governo, que divulgaram fake news e defenderam teses que já tinham sido descartadas pela comunidade científica;
2) A propaganda feita pelo governo Bolsonaro de que medicamentos como cloroquina e ivermectina deviam ser usados no tratamento contra a Covid-19, o que não têm nenhum embasamento científico;
3) A contratação de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, por parte do Ministério da Saúde, junto à atravessadora Precisa Medicamentos. Os invoices enviados para o MS tinham graves irregularidades e foram mostrados para Jair Bolsonaro, que não acionou a Polícia Federal para investigar;
4) Outras empresas atravessadoras, como a World Brands, que foi recebida por Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde, com oferta de CoronaVac, e a Davati Medical Supply, que se reuniu com o ex-secretário executivo do MS, Elcio Franco, para oferecer doses da AstraZeneca com preços nas alturas. A suspeita da CPI é que essas empresas superfaturavam o preço das doses para distribuir propina no governo Bolsonaro;
5) Os desvios de verba pública nos hospitais federais no Rio de Janeiro;
6) A empresa VTCLog, que foi contratada pelo Ministério da Saúde para fazer a logística de medicamentos por um preço 18 vezes maior do que o recomendado pelos técnicos da Saúde;
7) O Instituto Força Brasil, que conseguiu agendar uma reunião entre o Ministério da Saúde e a Davati para negociar a venda de vacinas. O Instituto, que divulga em seu site fake news sobre o coronavírus e critica o uso de máscaras, é dirigido por um bolsonarista.