O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), afirmou que o legislativo precisa demarcar uma linha clara sobre a qual o atual chefe do executivo não pode avançar na relação de equilíbrio entre os poderes.
“Se não fizermos isso, Bolsonaro vai avançar e marchar sobre a democracia”, advertiu.
O deputado tem sido alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, que tenta jogar sobre ele a culpa da aprovação do aumento bilionário Fundo Eleitoral, apesar dos partidos que apoiam o governo no Congresso Nacional terem votado em peso a favor do projeto.
“Bolsonaro não respeita ninguém nem respeita a instituição da Câmara. A hora de reagir é agora. A Câmara precisa demarcar uma linha no chão de até onde ele pode ir. Precisa colocar um cercadinho para mostrar até onde ele pode ir e dali ele não pode passar”, afirmou Ramos.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o deputado lembra que não é o primeiro a ser alvo das mentiras do presidente da República. “Hoje sou eu, ontem foi Joice Hasselmann (PSL-SP), anteontem foi Alexandre Frota (PSDB-SP) e, recentemente, foi a Luisa Canziani (PTB-PR). Se não reagirmos, amanhã será Arthur Lira e a Câmara dos Deputados inteira”, observou.
Na segunda-feira (19), durante encontro com apoiadores, Bolsonaro falou novamente sobre o aumento do Fundo Eleitoral incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), alegando que o vice-presidente da Câmara, que presidiu a sessão que aprovou o texto, teria atropelado o regimento da Casa. “Agora cai para mim sancionar ou vetar”, reclamou.
Marcelo Ramos rebateu a acusação, destacando que o acordo para incluir no Orçamento os R$ 5,7 bilhões para o fundo foi costurado numa reunião de líderes na casa do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP/AL), que é um aliado de Bolsonaro, sob coordenação dos líderes do governo no Senado e na Câmara.
“Então, se não fosse o governo Bolsonaro, não existiria fundão. Na votação do destaque do partido Novo, para derrubar o valor do fundo, ainda que tenha sido uma votação simbólica, sem o voto individual de cada deputado, teve a orientação partidária. E só quem encaminhou a favor do destaque e contra o fundo foram Novo, PSOL, Cidadania, Podemos e Rede. Os partidos da base do presidente Bolsonaro e o líder do governo Bolsonaro (Ricardo Barros) não se manifestaram a favor do destaque”, disse.
O deputado não descarta dar andamento a um pedido para afastar o presidente, se assumir o comando da Casa. Ele está analisando o pedido de impeachment ampliado, que reúne as denúncias de crimes de responsabilidade dos mais de 120 pedidos que já foram protocolados, e afirmou que uma leitura preliminar indica haver indícios consistentes.
“Ameaçar não fazer eleição me parece um indício. Ameaçar a ordem democrática ao participar de atos que pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) é algo que precisa de uma análise mais profunda”, comentou.
Vice-presidente da Câmara, o deputado admitiu a possibilidade de levar adiante um pedido para afastar Bolsonaro. Porém, só poderia avaliar a situação no caso de assumir o comando da Casa na ausência do titular.
“Se eu estiver no exercício provisório da presidência da Câmara, no caso de afastamento por algum motivo do presidente Arthur Lira, essa é uma análise que eu vou fazer quando essa situação se der. Uma coisa é dizer se sou a favor ou contra. Outra é a minha avaliação se, enquanto no exercício da presidência, posso ou não tomar essa decisão”, disse.