Motoristas e cobradores da Companhia de Transporte de Porto Alegre, a Carris, aprovaram greve por tempo indeterminado a partir desta sexta-feira (03). A paralisação é contra a privatização da empresa e a extinção dos cobradores de ônibus na cidade.
O projeto que prevê a extinção gradativa do posto de trabalho foi aprovado durante sessão marcada por protestos e violência na Câmara Municipal de Vereadores, na noite de quarta (1º), por 21 votos a favor e 12 contra.
O projeto sequer estava na pauta do dia da Câmara e foi incluído após um requerimento da vereadora Comandante Nádia (DEM). Houve tumulto quando a Guarda Municipal foi chamada para impedir a entrada dos trabalhadores da Carris no plenário. Justificativa para a truculência foi que a ação tinha o objetivo de impedir aglomeração. Só depois do tumulto que foi permitido que parte do grupo acompanhasse a votação nas tribunas.
A greve dos funcionários foi aprovada em assembleia realizada na tarde desta quinta-feira (2), em frente à sede da companhia, na zona leste da capital gaúcha. Após a assembleia, o grupo saiu em caminhada pela Avenida Bento Gonçalves.
Com faixas e cartazes contra a privatização da Companhia e a extinção da função de cobrador, dezenas de trabalhadores saíram da garagem da empresa, na Rua Albion, no bairro Partenon, para protestar e anunciar a paralisação dos serviços de transporte por tempo indeterminado. Os rodoviários gritaram palavras de ordem como “Carris unida, jamais será vencida” e “Greve Já”, e apontaram que a aprovação do projeto gera clima de preocupação com a perspectiva de demissões em massa.
RETROCESSO
Em seu Twitter a ex-vereadora e ex-deputada Manuela D’Ávila declarou que “numa longa e tumultuada sessão, que acabou com violência contra os trabalhadores do transporte público que tentavam diálogo, a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou a extinção dos cobradores de ônibus. Uma medida que vai impactar a cidade, visto que os cobradores são essenciais no dia a dia, não apenas recolhendo a passagem, mas também orientando passageiros, ajudando PCDs na hora de entrar e sair do transporte, organizando o ônibus. Enfim, mais um retrocesso do governo [Sebastião] Melo”, afirmou.
Para o vereador Pedro Ruas (PSol), “em plena pandemia, extinguir postos de trabalho é crueldade e não traz nenhum benefício à sociedade, pelo contrário”. “Quando ele tira o cobrador dos ônibus ele tira o segundo condutor, aquela pessoa que auxilia o cadeirante ou outra pessoa que tenha necessidades especiais”, afirmou.
“Foi um show de horrores”, afirmou a vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB). “Mello sustenta a discussão na base do grito, cortando o ponto dos que fizeram greve. Na Câmara, sua base teve pressa de acabar com os empregos: forçou para que a votação acontecesse e agrediu os trabalhadores que protestavam”, denunciou a vereadora que também foi vítima de assédio durante a votação.
ASSÉDIO
Durante a votação, a vereadora Bruna denunciou que foi assediada pelo deputado bolsonarista Alexandre Bobadra (PSL). A parlamentar abriu uma denúncia formal junto com a Comissão de Ética da Câmara por importunação sexual, assédio moral e quebra de decoro.
“Acabei de ouvir do vereador Alexandre Bobadra que tenho ‘tesão’ nele, uma típica demonstração do machismo que nós mulheres somos submetidas. Já entrei com uma representação à mesa diretora contra essa que é mais uma manifestação da violência política de gênero”, disse Bruna, em suas redes sociais.
“Que a Câmara de Vereadores é um espaço hostil às mulheres eu já sabia. Talvez alguns homens desse lugar é que não sabem que sou do tipo das que não leva desaforo para casa. Medidas estão sendo tomadas!”, completou a parlamentar.