“Em dias de fome, doença, morte e luto, em vez de cuidar do povo que o elegeu, (Bolsonaro) se dedicou a defender o seu mandato”, denunciou líder comunitário.
A CPI da Covid-19 no Senado realizou, nesta segunda-feira (18), uma oitiva diferente. Ouviu filhos, maridos e esposas vítimas da pandemia. São sete pessoas na audiência: Mayra Pires Lima, enfermeira em Manaus; Geovana Dulce e Katia Shirlene Castilho dos Santos, órfãs por causa da Covid-19; Rosane Brandão, viúva por causa da Covid-19; Arquivaldo Bites Leite e Marcio Antônio; e Antonio Carlos Costa, da ONG Rio de Paz.
Katia Shirlene dos Santos contou aos senadores como foi perder os pais para a Covid-19. O pai de Katia morreu em março deste ano em decorrência da Covid-19. A mãe faleceu em abril.
Emocionada, Katia afirmou que a dor dela é grande, “mas a vontade de justiça é maior”. “O sangue dessas mais de 600 mil vítimas escorre nas mãos de cada um que subestimou esse vírus”, disse Katia Shirlene aos senadores.
CRONOLOGIA DA MORTE
Ao narrar cronologicamente os fatos do diagnóstico, internação e morte dos pais, ela afirmou que a mãe possuía o plano de saúde da Prevent Senior e, ao receber a informação da morte do pai, não pode comparecer ou ajudar com os preparativos funerários, pois acompanhava a mãe no hospital.
Segundo ela, a irmã teve de ajudar a encontrar o corpo do pai, que falecia em meio a alta de óbitos por Covid-19 no país.
“Não acompanhei sepultamento do meu pai. Minha irmã procurou o corpo do meu pai. Era tanto corpo que o rapaz falou que precisava de ajuda e ela teve que colocar o corpo do meu pai dentro do caixão.”
“O rapaz da funerária deixou o corpo do meu pai no chão porque ele tinha muitos corpos para procurar. Só conseguimos fazer uma oração rápida de despedida do homem que nos ensinou a sermos as mulheres que somos hoje. E isso não aconteceu só com meu pai, aconteceu com muitos brasileiros”, disse.
“KIT COVID” E APELO PELAS VACINAS
Ao relatar o tratamento da mãe, que faleceu em abril deste ano, Katia revelou que a família recebeu o chamado “Kit Covid”, conjunto de remédios sem comprovação científica para o tratamento da doença, em casa.
Após duas consultas por telemedicina, a mãe de Katia voltou ao hospital da Prevent Senior e foi internada na unidade da Mooca, em São Paulo. No mesmo dia da internação da mãe, o pai de Katia faleceu por Covid-19.
“Fizeram exames e viram que pulmão estava 50% comprometido. E houve a transferência para unidade de Pinheiros. Nesse mesmo dia, minha irmã recebe ligação e recebe a informação de que o pai havia falecido”.
Ao finalizar o relato, Katia fez apelo emocionado: “tomem a vacina, por favor, aproveitem essa oportunidade. Meus pais não tiveram essa oportunidade”.
“Não queremos parabéns, queremos valorização”, disse à CPI enfermeira de Manaus, que perdeu irmã para Covid-19
Ela se referiu ao projeto que trata do aumento do piso salarial dos profissionais da enfermagem. Projeto é de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), apresentado em maio de 2020, e aguarda votação no plenário do Senado
A enfermeira manauara Mayra Pires Lima fez relato à CPI da Covid-19 no Senado, nesta segunda-feira (18), sobre a rotina dela como profissional de saúde durante a crise de falta de oxigênio na capital do Amazonas, além de compartilhar a história da irmã, que morreu pela Covid-19 e deixou três filhos órfãos.
“No Amazonas, tivemos uma situação bastante difícil. Quando eu me formei, tinha grande sonho de ajudar em outras calamidades. Hoje, eu falo que eu vivi uma guerra, atendi pacientes às vezes sem proteção nenhuma”, declarou.
“Perdemos ótimos médicos obstretras, perdemos colegas para depressão e suicídio. Na enfermagem, tivemos 82 óbitos, fora os que ficaram sequelados”, relatou.
PISO SALARIAL DOS PROFISSIONAIS DA ENFERMAGEM
“A gente via postagens sobre ‘os nossos heróis’; nós não queremos parabéns, queremos valorização”, disse, fazendo coro pela aprovação do PL (Projeto de Lei) 2.564/20, que visa aumentar o piso salarial dos profissionais da enfermagem.
O projeto, de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), apresentado em maio de 2020, aguarda votação no plenário do Senado.
O projeto tem grande apelo. Todavia, o governo é contrário ao texto, pois entende que aprovação da matéria vai gerar efeito cascata, tanto no setor público, quanto no setor privado.
Melhorar a remuneração dos profissionais da saúde, sobretudo neste momento da vida brasileira, que mais esses profissionais têm sido demandados, se faz necessário.
SEM LEITO DE UTI
Mayra relatou que precisou cuidar da irmã no hospital em que trabalha enquanto ela própria estava se recuperando de infecção pela Covid-19, que deixou sequelas respiratórias.
Segundo a enfermeira, a irmã precisava ser encaminhada às pressas para um leito de UTI, mas a disponibilidade não foi aberta a tempo.
“A minha irmã não volta, não consegui viver o meu luto. A minha irmã era uma pessoa especial na nossa família e tinha uma alegria que não tem como substituir”, afirmou.
Mayra também destacou a situação dos órfãos da Covid-19, incluindo os três sobrinhos dela — dois deles gêmeos de 1 ano.
“Os meus sobrinhos têm a nós, mas e as crianças que não têm família? Será que a gente se preocupa com isso? Queria questionar o que se está se fazendo por essas crianças e por essas famílias”, disse.
“A gente vive uma vida triste com uma ou outra coisa alegre”, disse jovem que perdeu pais para Covid-19
Depoimento dá a dimensão da dor e das dificuldades porque passam as vítimas da Covid-19 Brasil afora. Governo tem dívida enorme com essas pessoas
A jovem Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, relatou aos senadores da CPI da Covid-19 no Senado, nesta segunda-feira (18), como ela se tornou uma das órfãs da pandemia e ficou com a guarda da irmã mais nova, de apenas 10 anos, após o falecimento dos pais.
A CPI ouviu nesta segunda-feira depoimentos de vítimas da Covid-19. Mais que depoimentos cuja simbologia transcendem o caos econômico, social e sanitário que o Brasil ora vive.
Os depoimentos dão a dimensão da dor e das dificuldades porque passam as vítimas da Covid-19 Brasil afora.
Segundo ela, a mãe contaminou-se e rapidamente evoluiu para estágio grave da doença, falecendo após dias de intubação.
O pai, que já se tratava de câncer, contraiu a Covid-19 e conseguiu se recuperar, mas teve a situação do câncer agravada e não resistiu. Os dois faleceram com 14 dias de diferença.
“Hoje, a gente vive uma vida triste com uma ou outra coisa alegre”, disse Giovanna, emocionada. Ela requereu a guarda da irmã, de 10 anos, para que ambas pudessem ficar juntas após a perda dos pais.
Aos senadores, Giovanna destacou que o projeto de amparo aos órfãos é “essencial” e também pediu por soluções que englobem o tratamento à saúde mental dos afetados pela pandemia.
AGENDA DA CPI NESTA SEMANA
De acordo com o site da CPI foi cancelada a reunião marcada para esta segunda-feira (18) que ouviria Nelson Mussolini, do CNS (Conselho Nacional de Saúde), e Elton da Silva Chaves, do Conasems (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde).
Eles representam as entidades na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), órgão consultivo do Ministério da Saúde.
Foi mantida a audiência pública nesta segunda-feira para ouvir o depoimento de “vítimas diretas e indiretas” da pandemia. Serão ouvidos Mayra Pires Lima, Giovanna Gomes Mendes da Silva, Rosane Maria dos Santos e Márcio Antonio do Nascimento e Silva.
Também está marcada para terça-feira (19) reunião para ouvir Elton da Silva Chaves, do Conasems.
Na quarta-feira (20), o relatório final das investigações da CPI vai ser lido pelo relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Últimos dois anos foram os mais difíceis desta geração, disse à CPI líder da ONG Rio da Paz
“Em dias de fome, doença, morte e luto, em vez de cuidar do povo que o elegeu, se dedicou a defender o seu mandato”, criticou
Ao abrir os depoimentos à CPI da Covid-19 no Senado, nesta segunda-feira (18), previstos na audiência pública que recebe, na Casa, parentes de vítimas e demais afetados pela Covid-19, o líder Antônio Carlos Costa, da ONG Rio da Paz, declarou que o momento era a oportunidade para parte da sociedade civil expressar a “dor” que vivia.
“Temos subido e descido o morro levando cesta básica, e, em razão das sandices do governo federal, tivemos que ir às ruas para pedir para aquele que ocupa o mais alto posto que trate a população com respeito e dignidade”, disse Antônio Carlos.
O líder da ONG carioca criticou o presidente Jair Bolsonaro ao longo da declaração inicial que fez à CPI:
“O que vimos foi a antítese de tudo que se esperava de um presidente. Não soubemos de favela que tenha visitado ou hospital que tenha se dirigido aos profissionais de saúde”, afirmou.
“Em dias de fome, doença, morte e luto, em vez de cuidar do povo que o elegeu, se dedicou a defender o seu mandato”, criticou Antônio Carlos.
“Faço questão de ressaltar sua impressionante falta de empatia para que nunca mais sejamos governados dessa maneira por quem quer que seja”, declarou o líder comunitário.
EXPLICAÇÕES DO MS SOBRE DOSES DE VACINAS REPRESADAS
Antes dos depoimentos, a CPI aprovou requerimento que solicita ao Ministério da Saúde explicações sobre as mais de 25 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19.
Essas estariam, no momento, represadas nos centros de abastecimento da pasta. Como pode isso?
O que ocorre no ministério, que esse tipo de problema, depois de quase dois anos de pandemia, parece ainda não ter plano logístico para fazer escoar as vacinas? Com a palavra, o ministro Marcelo Queiroga.
AGENDA DA CPI NESTA SEMANA
De acordo com o site da CPI, também foi cancelada a reunião marcada para esta segunda-feira (18) que ouviria Nelson Mussolini, do CNS (Conselho Nacional de Saúde), e Elton da Silva Chaves, do Conasems (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde).
Eles representam as entidades na Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), órgão consultivo do Ministério da Saúde.
Foi mantida audiência pública desta segunda-feira para ouvir o depoimento de “vítimas diretas e indiretas” da pandemia. Serão ouvidos Mayra Pires Lima, Giovanna Gomes Mendes da Silva, Rosane Maria dos Santos e Márcio Antonio do Nascimento Silva.
Também está marcada para terça-feira (19) reunião a fim de ouvir Elton da Silva Chaves, do Conasems. E, finalmente, quarta-feira (20), o senador Renan Calheiros (MDB-AL) inicia a leitura do longo relatório que produziu ao longo desses sete meses de trabalho da CPI.
GOVERNISTAS BOICOTARAM REUNIÃO
A reunião desta segunda-feira, carregada de simbologias e emoções, desnudou um fato corriqueiro no comportamento do governo e do bolsonarismo no enfrentamento da pandemia: sob a liderança de Bolsonaro, os governistas demonstraram que não têm qualquer sentimento com as vítimas da pandemia.
Os senadores que defendem o governo simplesmente boicotaram a reunião. Nenhum compareceu.
Eles não prestigiaram as homenagens que a CPI prestou às vítimas da Covid-19. Serão cobrados por isso. São eles: Marcos Rogério (DEM-RO), Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC), Marcos do Val (Podemos-ES) e Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).