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Desde o início do governo Jair Bolsonaro em 2019, a presença de células de grupos neonazistas cresceu 270,6/% no país, segundo um mapa elaborado pela antropóloga Adriana Dias, de janeiro de 2019 a maio de 2021. O estudo identificou a existência de 530 núcleos extremistas no Brasil, um contingente que pode chegar a 10 mil pessoas.
Estimulados pelos discursos de ódio e extremismos contra as minorias representativas, amparados pela falta de punição, eles desferem seu ódio a essas pessoas. “Eles começam sempre com o masculinismo, ou seja, eles têm um ódio ao feminino e, por isso, uma masculinidade tóxica. Eles têm antissemitismo, eles têm ódio a negro, eles têm ódio a LGBTQIAP+, ódio a nordestinos, ódio a imigrantes, negação do holocausto”, declarou Adriana, que é estudiosa do tema, em entrevista ao Fantástico da Rede Globo.
Também em entrevista ao programa, a juíza federal Cláudia Dadico, que também estuda o assunto, acredita que a falta de punição e de uma legislação clara sobre esse tema e contra o discurso de ódio no Brasil, compõem obstáculos para a punição desses criminosos. A magistrada destaca que esses discursos não podem ser confundidos com liberdade de expressão.
“Os casos que tenho acompanhado da Polícia Federal tem tido realmente um esforço grande no sentido de investigar e punir. O que ocorre é que muitas vezes alguns operadores do direito têm uma compreensão da liberdade de expressão que acaba, de certa forma, obstaculizando a punição desses crimes, que claramente não se situam dentro do campo da liberdade de expressão’, disse.
Nessa mesma direção, o promotor de justiça do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado do Rio de Janeiro (Gaeco-RJ), Bruno Gaspar, ressalta que “a liberdade de expressão não é ilimitada. Ela não autoriza manifestação discriminatória ou preconceituosa.”
Os núcleos nazistas se concentravam na região Sul do Brasil, mas segundo a antropóloga Adriana, as células se espalharam para as cinco regiões do país. Ela cita as regiões Centro-Oeste e Sudeste, com destaque para Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No Rio, inclusive, uma operação da polícia que se destinava a prender um homem acusado de pedofilia, resultou numa das principais apreensões de material nazista no país. Policiais encontraram uma vasta coleção de pôsteres, roupas, medalhas e acessórios nazistas, além de armas. Metralhadoras, fuzis e pistolas, tanto originais da época como atuais, tinham munição e estavam funcionando, segundo a perícia.
O dono do aparato é Aylson Proença Doyle Linhares, de 58 anos. No seu passaporte, encontrado pela polícia, há registros de viagens anuais à Alemanha, algumas com meses de duração. A polícia investiga se há alguma organização por trás dele e se peças do seu arsenal seriam vendidas.
Em Janeiro de 2020, o então secretário especial da Cultura do governo de Jair Bolsonaro, foi demitido do cargo após forte pressão social por suspeita de apologia ao nazismo. Roberto Alvim, em um dos seus pronunciamentos, proferiu uma fala cuja autoria foi atribuída ao ministro da propaganda nazista de Adolph Hitler, Joseph Goebbels. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim no vídeo.
“A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse Goebbels em pronunciamento para diretores de teatro, de acordo com o livro “Goebbels: a Biography”, de Peter Longerich.