Decisão foi tomada antes da intromissão no órgão, pretendida por Bolsonaro. Relatório confirmou ilícitos do filho (01) do presidente
O governo Bolsonaro não só jogou para debaixo do tapete os escândalos de corrupção da família, como passou a perseguir quem denunciava as falcatruas.
Primeiro acabou com o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que flagrou o Queiroz com os cheques da Michelle e os milhões desviados da Assembleia Legislativa do Rio, depois foi para cima dos servidores da Receita Federal, que detectaram a lavanderia que Flávio Bolsonaro montou para legalizar o dinheiro roubado.
Até a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foi usada escandalosamente para ameaçar os servidores da Receita que denunciaram a lavagem de Flávio&Cia. Em agosto de 2020, a defesa de Flávio teve reuniões com a Presidência da República, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e a própria Receita para pressionar a direção do órgão. (detalhes abaixo)
Inventaram ações supostamente ilegais dos servidores contra o atual senador. Chegaram a pedir o afastamento desses servidores. Em dezembro de 2021, por pressão de Bolsonaro, Paulo Guedes mudou a direção da Receita Federal. Ele tirou José Tostes Neto e colocou em seu lugar Julio Cesar Vieira Gomes, com a aval de Flávio.
Bolsonaro já havia destroçado o Coaf e mudado a direção da Polícia Federal, tanto no Rio como a direção geral. A “famíglia” se considerava blindada. A defesa de Flávio conseguiu até que a corregedoria do fisco investigasse os servidores.
Os criminosos diziam que dois órgãos da Receita Federal no Rio – o Escritório de Corregedoria da 7ª Região Fiscal (Escor07) e o Escritório de Pesquisa e Investigação da 7ª Região Fiscal (Espei07) – teriam acessado ilegalmente os dados fiscais do senador e embasado, por caminhos extraoficiais, a produção do relatório do Coaf que originou, em 2018, a investigação contra o filho do presidente.
Esse era o caminho soprado pela equipe de defesa do senador para que os marginais conseguissem a anulação das provas obtidas contra eles.
Deram com os burros n´água. A corregedoria da Receita Federal acaba de concluir que não houve nenhuma irregularidade na atuação dos servidores do órgão. A corregedoria decidiu antes da mudança no cargo, pretendida por Bolsonaro. O nome cotado para assumir a corregedoria é o do auditor-fiscal João José Tafner. Ele participou de atos de campanha em 2018 e é visto por membros da Receita como um entusiasta do governo.
A quadrilha argumentava que a Receita teria agido ilegalmente encomendado relatórios do Coaf e que essa atitude significava quebra de sigilo. O caso foi arquivado pela corregedoria sob o argumento, entre outros, de que o Coaf – órgão federal de inteligência financeira vinculado ao Banco Central – demonstrou que é ele quem repassa informações ao fisco, não o contrário.
A Receita afirma que não encontrou indícios de que o relatório do Coaf que trouxe à tona o escândalo das “rachadinhas” tenha envolvido ato ilegal de auditores fiscais do Rio de Janeiro.
O relatório do Coaf mostrou que Fabrício Queiroz, amigo de pescaria de Bolsonaro e “faz tudo” de Flávio, movimentou R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 e R$ 7 milhões quando o estudo avaliava de 2014 até 2017.
Sem conseguir explicar os milhões movimentados na conta do assessor, os funcionários fantasmas que nunca pisaram na Assembleia Legislativa do Rio, a lavagem de dinheiro envolvendo até membros das milícias, como o pistoleiro profissional Adriano da Nóbrega, que tinha sua mãe e ex-mulher registradas no gabinete, os cheques no valor de R$ 42 mil na conta da primeira dama, o filho (01) do presidente passou a usar o poder do pai para tentar anular as provas.
Os promotores de Justiça apontaram Fabrício Queiroz como operador do esquema. Além de Flávio e Queiroz, foram denunciados outros 15 ex-assessores de Flávio. As acusações eram pela prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e organização criminosa.
Em novembro do ano passado, porém, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou todas as decisões tomadas pela primeira instância da Justiça do Rio de Janeiro nas investigações do caso. Por 4 votos a 1, a Quinta Turma da corte, responsável pela análise do assunto, entendeu que o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio, não tinha poderes para tomar decisões sobre o filho mais velho do presidente, o que devolveu o caso à estaca zero.
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