A Polícia Civil agiu com rapidez para identificação do responsável pela contratação de carros de som que espalharam mentiras sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19 em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre. Na quarta-feira (26), dois automóveis equipados com alto-falantes “desfilaram” pelas ruas da cidade, fazendo campanha contra a imunização da população pediátrica. Em um deles, conforme difundido pelas redes sociais, continha a frase: “Precisamos entender que não é obrigatória a vacina experimental em nossos filhos”.
O autor da ação criminosa é o empresário Hélcio Hugendobler. Ele admitiu que pagou para que dois carros de som circulassem pelos bairros da cidade, espalhando desinformação sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos de idade. Hugendobler, que é seguidor de Bolsonaro, recebeu o apoio de outro bolsonarista, o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), que gravou um vídeo, ao lado do empresário nesta quinta-feira.
Na gravação, o empresário negacionista diz que a “ideia” surgiu para “esclarecer e tirar dúvidas dos pais”. “Nós temos o direito, os pais de todo o Brasil têm direito de decidir se vão vacinar os filhos ou não”, afirmou.
Já Bibo, alegou que o Brasil hoje “viu um cidadão e empresário que simplesmente resolveu pagar, do seu bolso, carros de sons para esclarecer sobre a vacinação infantil… porque a imprensa só trabalha para ganhar dinheiro e é contra o governo Bolsonaro”. “E esse patriota aqui trabalha para esclarecer a população sobre seus direitos”, completou o deputado antivacina.
Bolsonarista e financiador de campanhas políticas alinhadas ao presidente da República, Hugendobler também foi pré-candidato a vereador pelo PRTB nas últimas eleições, mas não chegou a concorrer. Ele é dono de lojas de autopeças na cidade gaúcha.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) esclarece que as vacinas para crianças entre 5 e 11 anos contra a COVID são submetidas aos mesmos testes e rigor do que os imunizantes para adultos, e são seguras e eficazes. Ou seja, as doses não são experimentais.
Tanto os motoristas que conduziam os veículos como o empresário podem responder por apologia ao crime. Eles infringiram medida sanitária preventiva, em meio à pandemia que já causou a morte de mais 620 mil brasileiros. Ou seja, com base no artigo 268 do Código Penal, os infratores violaram determinação do poder público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa.
Como não foram presos em flagrante, os condutores foram liberados após serem levados à delegacia. Eles ficaram de boca fechada. O delegado Rafael Sauthier, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hmburgo, responsável pelas investigações, disse que ainda não está definido o ato infracional para os dois. “Ainda não decidimos se serão enquadrados e qual o enquadramento. Vamos tomar depoimento do empresário e dos divulgadores das mensagens, antes”. disse.
O prefeito em exercício do município, Márcio Lüders (MDB), afirmou que a prefeitura vai solicitar que os autores da mensagem sejam denunciados ao Ministério Público. Ele ressaltou a segurança da imunização crianças, pois os imunizantes foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Caso façam de novo essas mensagens, vamos apreender os veículos outra vez. Espalhar fake news é crime”, alertou Lüders.
Hugendobler está envolvido também em outras irregularidades. Ele participou da invasão da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo em 15 de setembro de 2021, para protestar contra votação da nova planta de valores do IPTU municipal. Ele também responde criminalmente pelo furto de um equipamento de som. No ano passado, o larápio e a esposa confirmaram ao jornal NH que ajudaram a bancar os custos da viagem de apoiadores de Bolsonaro para os atos antidemocráticos e golpistas de 7 de setembro, realizados em Brasília.