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O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) denunciou ao Ministério Público Federal (MPF), o farsante Gerson Lavísio que atuava como médico em diferentes Organizações Sociais da Saúde em São Paulo e orientou a amputação da perna de uma vítima de acidente na Via Dutra, no interior do Estado.
Segundo o Cremesp, Gerson formalizou o pedido de inscrição junto à autarquia, com apresentação de diploma falso.
O falso médico foi contratado pela empresa terceirizada Enseg apenas com o número de protocolo do pedido de inscrição no Cremesp, e estava prestando serviços na CCR Dutra. “Vale ressaltar que Gerson não possuía número de CRM e, portanto, não estava habilitado para atuar, de modo que não poderia ser contratado pela entidade”, ressalta o Cremesp.
“O Conselho investigará a contratação de Lavísio por parte da Enseg e de demais instituições aonde o mesmo atuou, e adotará as providências cabíveis”, afirma a nota.
O farsante que se passava por médico, socorreu vítimas de acidentes de trânsito na rodovia mais movimentada do país. Além de mentir sobre sua formação, ele ainda fez uma lista de vítimas se passando por pastor evangélico, missionário na África, coach cristão e namorado, com mais de uma companheira ao mesmo tempo. Ele usava as redes sociais para convencer algumas das vítimas, ostentando uma vida que não tinha. Nos últimos quatro meses, ele também receitou medicamentos a pacientes de ao menos dois postos de saúde paulistas.
O programa “Fantástico”, da TV Globo, denunciou a atuação do criminoso. A reportagem narrou o ocorrido em um acidente entre três caminhões na Dutra onde uma das vítimas ficou com as pernas presas às ferragens. Gerson trabalhava como médico socorrista, contratado por uma empresa terceirizada. Ele estava de plantão em uma base em Lavrinhas, no interior de São Paulo e, ao chegar, segundo testemunhas, determinou a amputação da perna da vítima, um caminhoneiro, ainda na estrada.
Policiais rodoviários descobriram que Gerson não era médico ao acessar o site do Conselho Regional de Medicina. O número do CRM, registro profissional da categoria, que ele apresentou, era de um médico que já morreu e seu diploma era falsificado.
Durante reportagem do Fantástico, os colegas que trabalhavam na estrada com Gerson, contratado no início de março, ficaram desconfiados desde o primeiro plantão. Um deles, que não quer se identificar, conta: “A conduta que ele tomava não era de um médico. Por exemplo, quando é problema de coluna, a gente tem que aplicar um analgésico ou até mesmo um remédio via oral, mas o que que ele fez? Ele aplicou um calmante 10mg na veia. O usuário ficou desfalecido já, não estava nem andando mais. E também teve um paciente que precisou ser suturado. Ele fez a sutura, mas os pontos que ele fez estavam todos irregulares, ele não conseguia fazer o laço do ponto. E fez tudo errado”.
A incapacidade não impediu que Gerson fosse contratado como médico por três empresas diferentes, e isso só nos últimos quatro meses. Em um posto de saúde em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, ele atendeu 18 pacientes em dezembro do ano passado, inclusive idosos e crianças. Usava o registro de outro Gerson – este sim, formado em medicina – e, após ser denunciado, foi detido e liberado após prestar depoimento. Isso, no entanto, não o fez parar com a farsa.
“Continuava ainda se passando por médico, mesmo após todo o relato, boletim de ocorrência. E também acho que (este caso) é uma forma de cobrar essas empresas, essas instituições, muitas terceirizadas, que contratam esses profissionais médicos, para ter uma maior vigilância, né? Será que checaram o registro médico? Bateram os dados? É muito grave isso. É um sentimento de insegurança, de certa forma de impotência também. E de medo, medo por poder ser um familiar meu que poderia estar nas mãos dessa pessoa, desse criminoso”, lamenta o médico que teve o CRM roubado, Gerson Butgnoli Junior. Gerson também se passou por pastor e atraía pessoas em busca de conselho espiritual e costumava pregar como convidado em algumas. Ele é acusado de pedir contribuições para viagens missionárias que nunca teriam acontecido.