Invasores de terras pediram para Eduardo Bolsonaro pressionar pela expulsão das 260 famílias sem-terra que estão alojadas em um lote do assentamento
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se reuniu com diretores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para defender os interesses de um grupo que invadiu terras destinadas ao assentamento de mil famílias em Itanhangá, no Mato Grosso do Sul.
Mais de mil lotes de terras de um assentamento no Mato Grosso do Sul foram ilegalmente ocupados por um grupo de fazendeiros ligados ao deputado Neri Geller (PP-MT). Cada lote deveria ser destinado para uma família.
Mesmo depois de uma operação da Polícia Federal que levou mais de 50 pessoas para a prisão, os lotes continuam ocupados pelos criminosos.
O grupo criminoso pediu para Eduardo Bolsonaro pressionar pela expulsão das 260 famílias sem-terra que estão alojadas em um lote do assentamento. Ao todo, o assentamento tem 1.050 lotes.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) concluíram que “foram transferidos ilegalmente mais de mil lotes para cerca de pouco mais de 80 fazendeiros e grupos familiares”, que agora estão sendo defendidos por Eduardo. O caso foi denunciado para a Justiça Federal em 2021.
O interesse dos fazendeiros e grileiros apoiados por Eduardo Bolsonaro nas terras se dá pela sua valorização. Cada lote de 100 ha vale entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões.
Segundo reportagem do UOL, no dia 10 de março, Eduardo Bolsonaro, junto do deputado estadual Gilberto Cattani (PL-MT), reuniu-se com dois diretores do Incra, Giuseppe Vieira (Desenvolvimento e Consolidação de Projetos de Assentamento) e Eleusa Gutemberg (Governança Fundiária), e com uma procuradora do órgão para pressionar pela retirada de um grupo de sem-terra que ocupa um lote do assentamento.
O presidente do Incra, Geraldo Melo Filho, não esteve presente na reunião com Eduardo por conta do falecimento de seu pai poucos dias antes. Ainda assim, a assessoria do deputado estadual Cattani disse que o presidente do órgão “entrou em contato” com ele e “garantiu prioridade no atendimento na demanda que veio de Mato Grosso”.
Segundo o próprio Incra, esteve na pauta da reunião a “obrigatoriedade para o cliente da reforma agrária estar no CADúnico; Marco temporal da regularização fundiária; PA [Projeto de Assentamento] Japuranã; PA Itanhangá e PA Tapurah”.
O interesse dos fazendeiros e grileiros apoiados por Eduardo Bolsonaro nas terras se dá pela sua valorização. Cada lote de 100 ha vale entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões.
O MPF avalia que essas terras estão “sobremaneira valorizadas, já que o assentamento se encontra localizado em região intensamente explorada pelo agronegócio, contando com lotes grandes, planos e com altos índices de produtividade, gerando a cobiça de um sem número de produtores rurais e de políticos locais, todos dispostos ao uso da força para estender seus domínios sobre as terras dantes voltadas à implementação da reforma agrária”.
O deputado estadual Gilberto Cattani disse pelas redes sociais que entregou para Eduardo um “dossiê” contra as 260 famílias que estão na região e fez um “pedido de socorro”.
O bolsonarista falou que os sem-terra são do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o que é mentira. Mesmo na gravação que fez onde moram as 260 famílias, não é possível encontrar nenhum símbolo do movimento. O MST confirmou que as famílias se organizaram de forma independente.
O Incra se recusou a fornecer os documentos que Eduardo Bolsonaro e Cattani entregaram durante a reunião.
Cattani confirmou que Eduardo o ajudou a levar a pauta para o Incra. Os dois querem “que defenda os produtores rurais, e não essa bandidagem do MST”.