O governo de Jair Bolsonaro gastou, em 2022, mais dinheiro do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para compra de “kits de robótica” para 11 cidades do que com a construção e reformas de creches em todo o país.
Até o dia 21 de abril, o FNDE, que é ligado ao Ministério da Educação, gastou R$ 35 milhões com a compra de “kits de robótica” para apenas 11 cidades, sendo oito de Alagoas e três de Pernambuco.
Ao mesmo tempo, gastou apenas R$ 30 milhões com obras de educação infantil. Esse dinheiro foi dividido entre 206 municípios em todo o país.
O levantamento foi feito pela Folha de S.Paulo, analisando os gastos do Plano de Ações Articuladas (PAR), programa que fez a compra dos “kits de robótica”, e do Proinfância.
Para atingir a meta, estipulada para 2025, para que metade das crianças de até três anos devem estar matriculadas em creches, ainda faltam ser abertas 2,2 milhões de vagas em creches.
A entrega dos “kits de robótica” aconteceu até mesmo em escolas que sofrem com a falta de infraestrutura básica, como oferta de água potável.
Os kits foram vendidos para o FNDE para uma empresa de Maceió chamada Megalic, cujos donos são ligados ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A Megalic comprou os kits de um fornecedor de São Paulo, pagando R$ 2,7 mil pela unidade. Para o FNDE, vendeu por R$ 14 mil cada unidade, representando um superfaturamento de 420%.
O FNDE está sob o comando de Marcelo Ponte, que foi indicado para o cargo por Ciro Nogueira, presidente do PP e ministro da Casa Civil de Bolsonaro.
Sua gestão está marcada por diversos escândalos, que demonstram que o FNDE virou um balcão de negócios.
O governo Bolsonaro paralisou o envio de recursos para mais de 3,5 mil em reformas de escolas ou inacabadas, mas autorizou o anúncio de 2,2 mil novas obras de “escolas fake”.
O que o FNDE tem feito é enviar apenas uma pequena parcela dos recursos necessários para a construção de novas escolas para que os prefeitos anunciem novas construções, enganando a população.
Na cidade de Altos (PI), duas construções de escola estão inacabadas, com o “esqueleto” da obra a céu aberto. Mesmo assim, o governo Bolsonaro, ao invés de concluir essas duas obras, enviou R$ 200 mil para construir uma nova creche. Porém, serão necessários R$ 3,1 milhões para que a obra seja efetivamente concluída.
A nova creche será, portanto, a terceira obra inacabada em Altos.
As construções falsas de novas escolas e creches estão acontecendo em municípios que têm prefeitos do mesmo partido de Ciro Nogueira, o PP.
O FNDE também está envolvido no escândalo que derrubou o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro. Gravações do ministro mostram que ele, por um “pedido especial” de Jair Bolsonaro, o órgão enviava recursos para os municípios escolhidos pelos pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura.
Os dois pastores cobravam uma propina que variava de R$ 40 mil até R$ 300 mil para os prefeitos que quisessem receber recursos do FNDE.