Acusou a mídia de “sempre apoiar a bandidagem” e citou a morte de policiais no Ceará para justificar o uso de câmara de gás lacrimongêneo em Umbaúba-SE
Ao comentar, nesta segunda-feira (30), a morte por asfixia de Genivaldo de Jesus Santos ocorrida na quarta-feira (25), na cidade de Umbaúba, em Sergipe, numa abordagem feita por integrantes da Polícia Rodoviária Federal, Jair Bolsonaro (PL) acusou a mídia de “sempre apoiar a bandidagem”.
“Tenho certeza, será feito justiça, né? Todos nós queremos isso aí, sem exageros e sem pressão por parte da mídia, que sempre tem um lado: o lado da bandidagem”, disse.
“Como, lamentavelmente, grande parte de vocês se comportam, sempre tomam as dores do outro lado. Lamentamos o ocorrido, vamos com serenidade fazer o devido processo legal para não cometermos injustiça e fazermos, de fato, justiça”, acrescentou Bolsonaro, que se esforçou para manter distância da vítima.
Ele não manifestou nenhum gesto de solidariedade com a família do motoboy assassinado. Nenhuma palavra de conforto. O mesmo comportamento frio, desrespeitoso e insensível manifestou aos familiares e amigos das mais de 660 mil vítimas da Covid-19, durante a pandemia.
O sujeito não tem nenhuma identificação com o próximo. Só ódio e desprezo. Bolsonaro fez um grande esforço para caracterizar a vítima, que estava sob custódia do Estado, e foi morto numa câmara de gás, como um “outro lado: o lado do bandido”.
O episódio em que Genivaldo, de 38 anos, um motoboy, casado, pai de um menino de 7 anos, descrito pelos vizinhos e amigos como um homem simpático, brincalhão e querido pela população de Umbaúba, foi colocado à força no porta-malas de um camburão e morto por asfixia após os agentes jogarem uma bomba de gás lacrimonêneo no interior do veiculo onde ele estava preso, chocou o Brasil e o mundo.
Bolsonaro resolveu simplesmente, e sem nenhuma justificativa plausível, comparar a vítima, que nunca teve uma condenação ou processo na Justiça, com uma pessoa que matou dois policiais no Ceará. Genivaldo se aposentou cedo por causa de uma esquizofrenia que tratava há duas décadas.
As pessoas que estavam no local da abordagem alertaram os agentes envolvidos que ele poderia morrer em decorrência daqueles procedimentos, mas, segundo essas testemunhas, elas foram ameaçadas e alertadas para não se meterem na abordagem.
Mesmo sendo advertidos de que o motoboy era conhecido, os elementos que usavam indevidamente a farda da Polícia Rodoviária Federal prosseguiram torturando Genivaldo até a morte. Eles o mantiveram preso no interior do veículo respirando a fumaça da bomba de gás jogada em seu interior.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) de Sergipe apontu “morte por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda”. Genivaldo foi parado pelos agentes simplesmente por não estar usando capacete.
Só uma mente doentia como a de Bolsonaro pode insinuar que Genivaldo, um pai de família, um cidadão de Umbaúba que nunca foi preso, era um marginal, ao comparar o episódio que tirou covardemente a sua vida com um outro fato, sem paralelo, ocorrido há duas semanas no estado do Ceará, onde dois policiais rodoviários federais foram mortos numa abordagem.
“Eu lamento o ocorrido há duas semanas, aproximadamente, por dois policiais rodoviários federais, que ao tentar tirar um elemento da pista, ele conseguiu sacar a arma de um deles e executou um deles. A GloboNews chamou esse bandido de suspeito. E o outro policial, de outra esfera, ao abater esse marginal, vocês realmente foram numa linha completamente diferente”, afirmou.
Nem o comando da Polícia Federal foi tão cínico quanto Bolsonaro. Eles não compactuaram com os elementos que desonraram a farda e cometeram esse crime hediondo. A corporação da PRF emitiu um posicionamento, dizendo enfaticamente que “assiste com indignação os fatos ocorridos’ em Umbaúba e que não compactua com as medidas adotadas durante a abordagem, nem com ‘qualquer afronta aos direitos humanos”.
Com a intenção de manchar a imagem da Polícia Rodoviária Federal, tentando associá-la em bloco a criminosos comuns como estes que asfixiaram Genivaldo, Bolsonaro acusou a imprensa de “generalizar” os ataques. “Não podemos generalizar tudo que acontece no nosso Brasil. A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós, em momentos difíceis, são os primeiros a chegar”, afirmou Bolsonaro.