Manifestantes e amigos do jornalista Dom Phillips foram até a Praia de Copacabana neste domingo (12) para cobrar uma resposta nas investigações sobre o paradeiro do britânico e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, que estão desaparecidos há uma semana. Os dois desapareceram no Vale do Javari, no Amazonas.
“Desespero total quando a gente soube e uma esperança de que eles estariam perdidos na floresta. Hoje uma certeza de eles não estarem mais entre nós”, disse Maria Lúcia, sogra de Dom, que esteve no ato.
Marcos Faria Sampaio, cunhado de Dom, lembrou durante o ato das causas e luta de Dom pela defesa da Amazônia e das tribos indígenas locais. Além do amor que o jornalista mostra com a família.
“É um sentimento muito ruim, de muita tristeza e muita incerteza. A gente dorme imaginando o que pode ter acontecido e acorda sem informação nenhuma. É muito angustiante. Pra gente tem sido assim. Para a gente e para a família do Bruno. A maior parte das informações que recebemos é da imprensa”, disse.
“Ele sempre falava: ‘Meu Deus é a natureza’. É um apaixonado e louco pelo Brasil. Os projetos dele eram sempre voltados para povos brasileiros. Agora ele estava em Salvador e dava aulas gratuitas de inglês. É muito triste tudo que está acontecendo para a gente”, completou Marcos.
A atriz Lucélia Santos, ativista da causa ambiental há muitos anos, fez questão de participar da manifestação. Ela afirmou que está desolada com o sofrimento das famílias de Dom e de Bruno, mas que espera que tudo isso escancare os absurdos cometidos na Amazônia há muitos e muitos anos: “A Amazônia é um lugar onde há muito narcotráfico, invasão aos territórios dos povos originários, garimpo ilegal nessas terras, madeireiros, garimpeiros, grileiros de terras. Tudo isso acontece na Amazônia há muito tempo. A gente que é dessa luta já fala sobre isso há mais de três décadas e para mudar isso tem que ter vontade política. Proteção territorial e, sobretudo, respeito à Constituição, que é tudo ao contrário do que esse governo tem praticado”.
MEDIDAS CAUTELARES
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) decretou no último sábado (11), uma série de medidas cautelares em favor do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips, que estão desaparecidos há seis dias. A instituição adotou a postura após considerar que os dois estão em uma situação de gravidade e urgência de risco de dano irreparável.
Essa decisão internacional sobre o caso foi tomada após pedido enviado pelas organizações como: ARTIGO 19, Instituto Vladimir Herzog, Repórteres sem Fronteiras, Alianza Regional por la Libre Expresión e Información, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Tornavoz e Washington Brazil Office (WBO)
Segundo o documento, diante da gravidade e negligência do governo brasileiro em dar respostas ao desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Araújo no Amazonas, a CIDH se viu obrigada a emitir a Resolução 24/2022, por meio da qual avalia que o indigenista brasileiro e o jornalista britânico se encontram em situação de perigo.
Na resolução, a Comissão solicita ao Brasil que redobre seus esforços para determinar a situação e o paradeiro de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, a fim de proteger os seus direitos à vida e à integridade pessoal, e que possam continuar realizando seus trabalhos de defesa de direitos humanos ou exercendo suas atividades jornalísticas, e que informe sobre as ações adotadas a fim de investigar com a devida diligência os fatos alegados que deram origem à adoção desta medida cautelar e, assim, evitar a sua repetição.
A diretora-executiva da ARTIGO 19, Denise Dora, espera que a pressão internacional faça com que o governo brasileiro aumente os esforços na busca pelos desaparecidos.
“Estamos prestes a completar uma semana dos desaparecimentos, então cada minuto e reforço na busca importam. O governo brasileiro precisa ser responsabilizado a manter a segurança e a vida daqueles que lutam pelos direitos humanos no país”, afirma. “Permaneceremos em alerta e dando seguimento no âmbito internacional até que as recomendações da CIDH sejam integralmente cumpridas”, completa.
O Estado brasileiro foi notificado e deve informar, dentro do prazo de sete dias, sobre a adoção das medidas cautelares requeridas e atualizar periodicamente essas informações.
BUSCAS
As buscas por Dom Phillips e Bruno Pereira seguem no Vale do Javari. A perícia feita em uma embarcação apreendida encontrou vestígios de sangue, segundo o delegado do município de Atalaia do Norte, Alex Perez. As amostras serão analisadas para saber se se trata de sangue humano ou animal.
A embarcação foi usada por Amarildo da Costa de Oliveira, 41, suspeito de envolvimento no desaparecimento da dupla. Na quinta-feira (9), o Tribunal de Justiça do Amazonas decretou a prisão temporária por 30 dias de Amarildo, solicitada pela Polícia Civil após investigadores ouvirem testemunhas sobre o caso.
Conhecido como “Pelado”, Amarildo, de 41 anos, já está preso desde terça-feira (7), mas por outro motivo. Durante as investigações sobre o sumiço dos dois, as autoridades encontraram com ele uma porção de droga e munição de uso restrito.