A passagem do furacão Maria por Porto Rico, em 20 de setembro de 2017, provocou pelo menos 4.645 vítimas fatais e não 64 – como alegaram as autoridades -, devido “à falta de atenção do governo dos Estados Unidos e à frágil infraestrutura da ilha”. “Nossos resultados indicam que a cifra oficial é um menosprezo substancial da verdadeira mortalidade causada pelo furacão”, sublinha o levantamento realizado pela Universidade de Harvard.
Conforme a investigação independente publicada recentemente no “New England Journal of Medicine”, mesmo sendo 70 vezes superior ao número de mortos divulgado pelo governo, a projeção é ainda assim “provavelmente conservadora”, pois poderia alcançar 5.700.
A conclusão dos especialistas em saúde pública de Harvard é de que, nos três meses que se seguiram ao furacão, os habitantes do território estadunidense morreram a um ritmo “significativamente superior à média”, devido ao terrível abandono a que foram submetidos. “Em média, as pessoas ficaram 84 dias sem eletricidade, 64 dias sem água e 41 dias sem cobertura para os celulares”, relata o documento,
Para medir a real dimensão da catástrofe, os investigadores visitaram 3.299 casas em toda a ilha, onde entrevistaram vítimas e familiares. O relatório apurou que a população ficou completamente desassistida no período seguinte à tragédia e que pelo menos 33% das mortes – mais de 1.500 – poderiam ter sido evitadas, já que foram causadas pela falta ou atraso na assistência médica.
Mais de oito meses após a passagem do Maria, a população de Porto Rico denuncia a falta de investimento do governo estadunidense na recuperação da sua infraestrutura, os problemas com abastecimento de água e constantes apagões. As autoridades locais culpam Trump pelo abandono.
Para a prefeita da capital, San Juan, Carmen Yullin, a ilha não está preparada para suportar um novo furacão devido à falta de compromisso das autoridades norte-americanas: “Se pode matar as pessoas com uma arma ou se matar sendo negligente. Estamos morrendo e seguiremos morrendo”.