“O isolamento que o Ocidente tentou impor à Rússia resultou no auto-isolamento do próprio Ocidente do resto do mundo. Agora testemunhamos o processo no terreno, principalmente durante visitas a diferentes países”, afirmou a porta-voz oficial da diplomacia russa, Maria Zakharova, em programa da rádio Sputnik.
“Aconteça o que acontecer, por muito que eles intimidem [outros países], quaisquer que sejam as instruções que enviem, quaisquer que sejam as condições que estabeleçam, por muito que andem atrás de ministros e presidentes de vários países, eles se colocam em uma posição ainda mais tonta, aproximando-se ainda mais de um beco sem saída”, salientou, referindo-se ao conjunto de sanções e medidas que foram impostas a Moscou usando a justificação da operação militar russa na Ucrânia.
A diplomata acrescentou que Washington e os governos que lhe seguiram estão criando ainda mais dificuldades para si mesmos, enquanto seus políticos não possuem ferramentas políticas nem diplomáticas para reverter a situação.
“Entendo que para eles talvez tenha sido uma espécie de jogo final. Talvez na realidade tenham aumentado as suas apostas tanto que era preciso apostar tudo, até aquilo que eles não têm. Pensavam que podiam arriscar inclusive com o seu próprio nome. Apostaram tudo – e perderam a aposta”, afirmou a diplomata.
“Agora não entendem que essa aposta começou a jogar contra eles mesmos, cada dia e cada vez mais”, acrescentou.
A declaração de Zakharova veio após o representante oficial do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, incomodado pelo périplo africano do chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, declarar que a Rússia está se tornando um país “pária”.
EUA ESQUECE QUE NÃO É O MUNDO INTEIRO
Já o antigo vice-secretário-geral da ONU, Sergei Ordzhonikidze, assinalou: “A declaração do Departamento de Estado dos EUA demonstra, provavelmente, o que eles gostariam de ver nos assuntos internacionais. Trata-se da sua visão. Eu diria que se trata de uma visão míope em relação aos assuntos mundiais, já que a conjuntura real mostra que não há nenhum isolamento. As relações com o Ocidente têm de fato piorado de forma significativa, mas o Ocidente sempre se esquece de que ele não é o mundo inteiro, ele está longe de representar todo o mundo. Há também os países da América Latina, Ásia e África”.
O analista acrescentou que, tendo em conta os contatos internacionais os quais a Rússia tem mantido, incluindo a reunião do líder russo com as autoridades do Irã e Turquia, junto com as visitas do ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, à Ásia e África, os países asiáticos e africanos “não consideram a Rússia como um Estado pária”.
Nos próprios Estados Unidos os problemas causados pelas medidas contra a Rússia são apontados: “As populações da Alemanha, Itália, França, Espanha e outras nações da Europa Ocidental, no entanto, reconhecem que não há efetivamente nenhuma ameaça convencional para eles da parte de Moscou e começam a perguntar com estridência crescente, por que eles devem sacrificar sua própria segurança econômica, lutar para colocar comida em suas mesas e lutar para aquecer suas casas durante o inverno para que seus governos possam apoiar a Ucrânia em uma guerra que não é necessária para os europeus?”, questionou Daniel L. Davis, membro sênior de Prioridades de Defesa e ex-tenente-coronel do Exército dos EUA, em artigo no portal 19fortyfive.
Após o início da operação militar russa de desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, o Ocidente aumentou a pressão das sanções contra Moscou: ativos russos de centenas de bilhões de dólares foram congelados, com certos bancos russos tendo sido desligados do sistema SWIFT de compensações interbancárias e muitas marcas comerciais tendo abandonado o país. A União Europeia já aprovou sete pacotes de sanções, através dos quais impôs o embargo ao carvão e petróleo russos. Tudo isso resultou em problemas econômicos para o próprio Ocidente, ao provocar o aumento da inflação, especialmente a elevação nos preços dos alimentos e combustíveis.