“O que levou ao crime foi a opinião política divergente. A vítima estava defendendo o Lula e, o autor, defendendo o Bolsonaro”, disse o delegado
Um apoiador de Jair Bolsonaro (PL) assassinou cruelmente com golpes de faca e machado, durante uma discussão política, outro homem que defendia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade de Confresa, interior de Cuiabá.
O autor do crime passou por audiência de custódia e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva de Rafael de Oliveira, 24. A decisão da prisão preventiva é assinada pelo juiz Carlos Eduardo Pinho Bezerra de Menezes e foi proferida em audiência de custódia na tarde desta quinta.
Ele confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política. Oliveira defendia Bolsonaro e Santos, Lula. Conforme a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e depois do crime ainda filmou o corpo.
O assassinato ocorreu na madrugada desta quinta-feira em uma fábrica de cerâmica localizada na zona rural do município de 32 mil habitantes. A vítima e o autor trabalhavam juntos no corte de lenha para uma cerâmica em uma propriedade na zona rural de Confresa.
“Eles haviam acabado de jantar e fumavam um cigarro juntos, quando começaram a discussão [por motivação política]. Os dois estavam sozinhos no barraco onde moravam”, disse o delegado responsável pelo caso, Victor Oliveira, em entrevista ao g1 e à TV Centro América.
“Verifica-se que há prova da materialidade e indícios suficientes de autoria delitiva, conforme demonstrado nos depoimentos dos policiais que realizaram a prisão de Rafael de Oliveira, aliado ao interrogatório do custodiado que em sede policial confessou a prática delitiva”, diz trecho da decisão do juiz.
O magistrado ainda classificou o ocorrido como “reprovável” e citou que a intolerância poderá regredir a sociedade aos tempos da barbárie.
“Lado outro, verifica-se que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa, ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável”, disse.
Em depoimento na delegacia da cidade, segundo a polícia, o servidor confessou o assassinato alegando que, em dado momento, a discussão entre os dois ficou acalorada e ambos trocaram socos.
Diante das agressões, o rapaz alegou que acabou “saindo de si” e matou seu colega com golpes de faca no rosto da vítima.
De acordo com o delegado Higo Rafael Ferreira de Oliveira, a polícia foi acionada na manhã de quinta por conta de um encontro de cadáver. O suspeito tentou fugir, mas foi encontrado e conduzido para a delegacia, onde confessou o crime.
Ainda de acordo com o delegado, após assassinar Santos, Oliveira tentou decapitá-lo com um machado. Efetuou um golpe no pescoço, porém não obteve êxito.
A Polícia Civil apreendeu o celular de Oliveira e encontrou vídeos e fotos da vítima após assassiná-lo.
A reportagem tentou entrar em contato com a defesa de Oliveira, mas não obteve sucesso.
INTOLERÂNCIA
No feriado de 7 de setembro, em Cuiabá, um jovem de 22 anos foi espancado pelo padrasto por ter postado um meme de Bolsonaro num grupo de aplicativo de mensagens da família.
De acordo com a polícia, o agressor não teria gostado da publicação e chegou em casa já agredindo o enteado com socos e chutes e fazendo ameaças de morte. A mãe do jovem, ainda conforme a polícia, disse que o padrasto estava embriagado.
Em 9 de julho, o petista Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos e pai de quatro filhos, foi morto a tiros por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Jorge José da Rocha Guaranho, em Foz do Iguaçu (PR).
Arruda comemorava o seu aniversário com temática do PT em uma associação esportiva da cidade, quando Guaranho entrou com seu carro no local gritando “Aqui é Bolsonaro”. Após discussão, o bolsonarista baleou Arruda, que morreu após ser socorrido.
A Polícia Civil do Paraná concluiu o inquérito e não houve motivação política para o crime e o indiciou por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e causar perigo comum. Em 10 de agosto, Guaranho recebeu alta hospitalar e posteriormente foi preso e levado para penitenciária de São José dos Pinhais.
Em 31 de agosto, em Goiás, um policial militar atirou em um homem depois de discussão política dentro de uma igreja da Congregação Cristã no Brasil em Goiânia.
Segundo familiares de Davi Augusto de Souza, ele questionou o fato de a igreja distribuir um texto para os fiéis não votarem em candidatos que atuam pela “desconstrução das famílias”.
Após discussão, o PM Vitor da Silva Lopes o atingiu com o tiro na perna. O policial alega que foi atacado por Davi e seus familiares e teria atirado na perna do homem para se defender.