As vítimas de assédio sexual do ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, se revoltaram com a recente fala de Bolsonaro em um podcast, em que o presidente afirma que não há nada de contundente nos depoimentos das funcionárias de que houve algum abuso por parte dos diretores da Caixa.
Através de advogadas que as representam, um grupo de funcionárias afirmou em nota que é “estarrecedor que para o Mandatário da nação não sejam contundentes atos relatados e atribuídos ao presidente de uma instituição do porte da Caixa, que deveria ter instrumentos de controle e governança eficientes, consistentes em violações profundas aos corpos, às imagens e à intimidade de servidoras do órgão”.
Diante de depoimentos feitos à Justiça, como o de uma servidora que afirmou que em viagens de trabalho, Pedro Guimarães tinha o hábito de pedir que ela fosse até o quarto dele levar um carregador, “à noite, e ele estava com as vestes inadequadas, vestido de uma maneira muito informal de cueca samba canção, e quando cheguei pra entregar, ele deu um passo para trás me convidando para entrar no quarto”, Bolsonaro disse que “não vi nenhum depoimento mais contundente de qualquer mulher”.
No podcast, Bolsonaro disse ainda: “Vi depoimentos de mulheres que sugeriam que isso poderia ter acontecido. Está sendo investigado também”, afirmou.
“É motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para ‘massagens’, ‘banhos de piscina’ ou idas a ‘saunas’ sejam naturalizados e tidos, repetimos, como ‘não contundentes’ pelo Chefe do Poder Executivo”, afirmam as funcionárias.
As servidoras afirmam ainda que “é motivo de indignação e revolta que, ao minimizar a dor e o sofrimento já expressos em inúmeros depoimentos perante a Corregedoria da Caixa, o Ministério Público do Trabalho e, no âmbito criminal, o Ministério Público Federal, as vítimas tenham sua palavra posta em dúvida em contribuição ao processo de revitalização que um Presidente da República deveria ter como compromisso combater”.
A nota afirma ainda: “Seria contundente, senhor Presidente da República, se o fato ocorresse com sua esposa ou filha? Acreditamos que sim. Pois saiba que além de mulheres, também somos esposas, filhas, mães e profissionais que foram abusadas, lesadas e agredidas pela conduta de alguém que deveria ser líder, mas que optou por ser algoz. E, assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade. Mas não nos calamos e não iremos nos calar. A verdade, apenas a verdade, é suficientemente contundente para fazer justiça e para que outras mulheres não sofram o mesmo que nós.”
Tanto Pedro Guimarães – indicado por Bolsonaro para a presidência da Caixa desde o primeiro momento do seu governo – quanto outros diretores e vice-presidentes envolvidos no verdadeiro lamaçal em que transformaram a instituição pediram demissão do cargo depois que os casos foram revelados e estão sendo investigados pela Justiça.