Os acampamentos de golpistas instalados por bolsonaristas em frente ao Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro, e em frente à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e ao Círculo Militar, na Zona Sul da capital paulista, foram desmontados na tarde desta segunda-feira (9).
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), anunciou nesta segunda (9), a desmontagem do acampamento bolsonarista montado em frente ao Comando Militar, no centro da capital fluminense. A ação deve contar com o apoio da Guarda Municipal, Exército e Polícia Militar.
“Até a noite de hoje, a prefeitura do Rio irá, em colaboração com o Exército e com a Polícia Militar, promover a retirada de todos os objetos e barracas que ocupam o espaço público tomado por manifestantes que atentam contra a democracia na praça Duque de Caxias”, escreveu nas redes sociais.
A decisão foi anunciada por Paes após uma reunião com o secretário de Ordem Pública, Brenno Carnevale, e com o comandante da Guarda Municipal, José Ricardo Soares da Silva.
O prefeito já havia suspendido todas as folgas e licenças da Guarda Municipal para garantir a ordem pública na cidade para casos de ações golpistas de bolsonaristas. “Seremos firmes contra qualquer tentativa de terrorismo no Rio”, garantiu o prefeito.
Paes criticou as autoridades de segurança do Distrito Federal por sua reação ao ataque à Praça dos Três Poderes no último domingo (8), por golpistas ligados ao bolsonarismo. Afirmou que é preciso ser “duro com os terroristas”.
“Não dá pra chamar de falha de segurança não”, referindo-se aos atos terroristas em Brasília, “é conivência e apoio de um lado e falta de capacidade de exercer a autoridade de outro”.
Alguns bolsonaristas já começaram a desmontar o acampamento golpista no Centro do Rio de Janeiro. A base estava montada desde meados de novembro.
Por volta das 10h, faixas com dizeres anti-democráticos eram recolhidas das grades que cercavam barracas e tendas na Praça Duque de Caxias, em frente ao Comando Militar do Leste (CML), na Avenida Presidente Vargas. Às 13h30, algumas pessoas ainda desmontavam as estruturas para deixar o local.
Durante a retirada, os radicais agrediram e ameaçaram jornalistas. Um fotógrafo recebeu tapas enquanto registrava a movimentação.
“Eu estava fazendo as imagens fotográficas aqui na Central, com a desmontagem desse acampamento bolsonarista quando fui, literalmente, agredido por alguns que não gostaram da minha atitude em relação às fotos que foram tiradas”, disse Marcos Vidal, que é repórter fotográfico da Agência Futura e estava trabalhando para o jornal Folha de São Paulo.
A desocupação atendeu a uma ordem do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo dos atos antidemocráticos no Supremo Tribunal Federal (STF), na mesma decisão, Moraes afastou Ibaneis Rocha do cargo de governador do Distrito Federal.
Na peça, Moraes determinou “a desocupação e dissolução total, em 24 horas, dos acampamentos realizados nas imediações dos Quartéis Generais e outras unidades militares para a prática de atos antidemocráticos e prisão em flagrante de seus participantes”.
Segundo o ministro, os bolsonaristas acampados cometeram os seguintes crimes: atos terroristas, inclusive preparatórios; associação criminosa; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; ameaça; perseguição e; incitação ao crime.
A ordem de Moraes veio em resposta ao ato terrorista do último domingo, quando bolsonaristas radicais arrombaram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF.
Por pelo menos duas vezes, golpistas reunidos em frente ao CML interromperam a circulação dos bondes do VLT e afetaram o trânsito da Avenida Presidente Vargas.
Um desses atos ocorreu em 6 de novembro, domingo seguinte ao segundo turno das eleições. Outro foi no dia 15 de novembro. Desde então, o número de bolsonaristas radicais vinha oscilando, mas o acampamento jamais foi desfeito.
No entanto, a linha do governador bolsonarista Claudio Castro (PL) era a de conversar. Mais cedo, em entrevista ao Bom Dia Rio, o governador afirmou que estava “conversando” para que os golpistas saíssem.
“Estamos falando com o Comando Militar do Leste (CML) desde ontem. Há uma recomendação do Ministério Público Federal neste sentido também. Mas aqui no Rio é diferente, pois eles não estão em uma via pública, mas em um espaço dentro do CML. Então estamos conversando para que a decisão seja cumprida”, disse Castro.
Desocupação em São Paulo
Em São Paulo, forças de segurança foram enviadas ao local para fazer a retirada dos golpistas. Eles não foram levados para a delegacia.
Cerca de 50 de apoiadores de Bolsonaro estavam desde o ano passado no local, pedindo intervenção militar. A presença deles já foi alvo de inúmeros ofícios enviados à SSP por parte de alguns deputados, que relataram o clima de insegurança por conta de ameaças e agressões.
Pela manhã, duas viaturas do Corpo de Bombeiros chegaram ao local e iniciaram as conversas com os bolsonaristas acampados. Sem resistência, os participantes de atos golpistas concordaram em remover as barracas e desfazer as obstruções na Avenida Sargento Mario Kozel Filho, local da concentração.
Um cerco foi montado por policiais para isolar, nas duas entradas da via, o acesso de pedestres e veículos. Profissionais da imprensa também foram impedidos de acompanhar o desmonte na avenida.
“Se entrar para filmar, vai apanhar”, ameaçava uma senhora, às vistas de PMs. Com o celular na mão, outra filmava os profissionais: “Olha só quanto urubu”.
Uma bolsonarista chegou a pedir que um fotógrafo apagasse as imagens registradas. Houve xingamentos e ameaças, mas o princípio de tumulto foi contido.
De saída, outro golpista fez ameaças: “Se eu tivesse armado, matava todo mundo aqui. Cambada de vagabundos! Ia preso com honra”.
“DIÁLOGO”
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL), conhecido como Capitão Derrite, um dos principais bolsonaristas do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou em entrevista coletiva nesta segunda-feira que as forças de segurança do estado cumprirão a ordem do STF para dissolver os acampamentos golpistas em frente aos quartéis através do diálogo.
“A gente vai, através do diálogo, informar aos manifestantes que existe uma ordem judicial. Ao longo da tarde de hoje esse diálogo já vai ser iniciado, na esperança de que seja realizado (o desmonte dos acampamentos) sem o uso escalonado da força”, disse Derrite.
“As ações que aconteceram em Brasília não encontram similaridade com as manifestações aqui em São Paulo. Aqui em São Paulo nós temos um cenário de tranquilidade”, afirmou o secretário.
No fim de semana, no entanto, a PM paulista precisou agir para evitar que bolsonaristas bloqueassem uma distribuidora de combustíveis no município de São José dos Campos. Derrite disse que o episódio foi um “pequeno foco” de problema, logo controlado.