A “Capital da Ciência do Brasil” recebeu, no último sábado (11), o lançamento do livro e do documentário “Mulheres na Ciência em São Carlos: reflexões, trajetórias e histórias”, de autoria da professora Mirlene Simões. A data era simbólica: o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.
O livro retrata a trajetória de seis importantes cientistas de São Carlos, cidade do interior de São Paulo que leva o título da “Capital da Ciência do Brasil”. A professora de Sociologia da Unesp Araraquara Mirlene Simões, idealizadora do projeto, espera que o livro possa inspirar mais meninas e mulheres a se dedicarem à ciência.
“O projeto tem como objetivo central, fazer com que a preservação da memória das mulheres cientistas sejam passadas para além dos muros da universidade e que cheguem para toda cidade. Com isso, nós estamos diretamente relacionadas à produção do conhecimento no sentido de fazer com que as futuras gerações percebam que essas mulheres trilharam caminhos que eram bastante difíceis e complicados e que se tornaram pesquisadoras de referência internacional”, disse em declaração ao HP.
O Teatro Municipal “Alderico Vieira Perdigão” ficou completamente lotado para o lançamento do livro e do vídeo documentário produzido pelo Instituto Angelim e que explora os percursos e jornadas de mulheres que foram pioneiras em suas áreas para inspirar muitas gerações.
Entre as cientistas homenageadas no livro está Maria Aparecida Soares Ruas, 75 anos, professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), do campus de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), onde foi a primeira mulher a comandar o Departamento de Matemática.
Outra pesquisadora homenageada é a socióloga Maria Aparecida de Moraes, de 78 anos, professora voluntária da pós-graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Mais quatro cientistas homenageadas completam a lista: Cibele Saliba Rizek (ciências sociais); Lúcia Cavalcante de Albuquerque Willians (psicologia); Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (ciências humanas – educação) e; Yvonne Primerano Mascarenhas (físico-química).
Para Mirlene, o livro tem uma linguagem diversa e acessível para que todos possam entender e se identificar.
“O objetivo de chegar com uma linguagem dialógica, uma linguagem mais simples e com a permissão da tecnologia, porque o livro dá acesso a vídeo e também algumas pequenas animações, com a proposta de que as mulheres jovens, estudantes do ensino médio se identifiquem com essas mulheres e saibam que o conhecimento e a área de pesquisa e de ciência está aberta pra qualquer pessoa, inclusive pras mulheres. Assim, é demonstrado que a possibilidade da diversidade de gênero na universidade ela está mais do que nunca aberta a todos”, continuou.
Autoridades municipais e federais prestigiaram o evento, assim como professores e pesquisadores, reitores e ex-reitores da USP e da UFSCar e as vereadoras Raquel Auxiliadora e Laíde Simões. A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, primeira mulher a ocupar o cargo nessa área, foi representada pela assessora Elisângela Lizardo de Oliveira.
“O trabalho das mulheres cientistas é mais árduo do que dos homens cientistas, uma vez que elas têm dupla, tripla jornada de trabalho. Elas precisam desenvolver suas pesquisas, publicar artigos, cuidar das suas casas e da família, mesmo assim as mulheres são maioria na produção científica, nos grupos de pesquisas, mas não são maioria como líderes dos projetos de pesquisa e especialmente nos financiamentos. Sem uma luta constante contra o obscurantismo, certamente não poderíamos estar hoje aqui homenageando essas brilhantes mulheres”, disse a representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O secretário de Governo, Netto Donato, representando o prefeito Airton Garcia, falou da importância desse reconhecimento. “Sem a divulgação de muitas referências femininas na ciência e com o preconceito ainda existente na sociedade, as meninas se sentem pouco motivadas a buscarem uma carreira na área científica, portanto essa iniciativa do Instituto Angelim é importantíssima para inverter o quadro atual. Em nome do prefeito Airton Garcia parabenizo todas as homenageadas, mulheres com contribuições significativas nas diversas áreas de pesquisa e que evidenciam o nome de São Carlos no mundo”, disse Donato.
CONTRIBUIÇÃO À CIÊNCIA
Ao longo dos anos, muitas mulheres têm ajudado a construir a Ciência no Brasil e no mundo. A importância da participação feminina levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a criar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.
Dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostram que de cada dez cientistas em São Carlos, quatro são mulheres.
Os livros serão distribuídos em escolas da rede pública de São Carlos acompanhados de rodas de conversas com os estudantes. Outra parceria foi com a Fundação Pró Memória de São Carlos com a impressão de exemplares do livro que serão entregues em escolas e instituições e personalidades que são agentes multiplicadores em frentes diversas da sociedade.
“Após esse lançamento, vamos circular e passar por todas as escolas da cidade, fazendo um debate, fazendo uma roda de conversa com os jovens, levando o livro, distribuindo o livro e passando o vídeo documentário com a intenção que a gente tenha mais mulheres na ciência, mais mulheres na academia, produzindo conhecimento, principalmente naquelas áreas que ainda a desigualdade entre gênero é muito grande”, concluiu Mirlene.