Uma mulher foi expulsa, na madrugada deste sábado (29), de um avião da Gol que faria a rota entre Salvador e São Paulo. Imagens que circulam nas redes sociais mostram a jovem, identificada como Samantha Vitena, questionando, dentro do avião, a abordagem de três homens. Testemunhas falam que a companhia teve uma atitude racista.
Como os bagageiros estavam cheios, a mulher foi orientada a despachar a mochila. Neste momento, começou uma discussão porque a passageira sinalizou que seu notebook estava dentro da mochila e seria prejudicado se fosse despachado.Um tripulante da Gol teria dito: “Se você não despachar, a gente não sai daqui. Ou você despacha ou você sai do voo”.
Depois da discussão, o voo ficou cerca de uma hora parado, até que três homens com identificação da Polícia Federal entraram na aeronave.
“Chegaram de modo truculento e disseram que a levariam por ordem do comandante. Um deles falou: ‘Se a senhora não se retirar desse voo agora, não vamos decolar. A senhora tem que sair!’. Foi uma angústia, um terror, uma violência”.
VÍDEO
No vídeo que viralizou na internet, é possível verificar o momento em que os agentes chegam para retirar Samantha do voo.
Na gravação ela relata: “Agora vem três homens pra me tirar do voo sem falar o motivo. Perguntei qual o motivo de estarem me tirando desse voo e ele (um dos comissários) disse que não vai falar e, que se eu não sair desse voo, ele vai pedir pra todo mundo sair e que eu estaria cometendo um crime”, afirmou.
Samantha comenta no vídeo, inclusive, que um dos comissários teria dito que uma possível descida não prevista do avião seria culpa dela por não despachar a bagagem.
“Os comissários não moveram um dedo pra me ajudar. Falaram que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa seria minha porque não quis despachar. A culpa não é porque o voo está mais de duas horas atrasados e tem mais de uma hora que coloquei a mochila e, mesmo assim, o voo não decolou. Mas a culpa seria minha.”
No vídeo que circula nas redes sociais, Samantha pede para que os homens expliquem porque ela está sendo retirada do voo. O homem pega no braço dela dizendo que ela será conduzida.
De acordo com um advogado, Fernando Santos, que acompanha o caso, Samantha foi ouvida pela polícia após ser expulsa do voo e ficou sabendo que sua retirada da aeronave foi motivada por “perturbação da ordem a bordo”, acusação que teria sido feita pelo comandante do avião.
“Agora vamos trabalhar para que a gol e todas as pessoas que lesaram os direitos de Samantha sejam responsabilizadas”, comentou. Santos afirma que Samantha voltou para São Paulo em outro voo da Gol, que chegou na manhã deste sábado (29), e está com a família.
A jornalista Elaine Hazin, testemunha no voo, classificou o episódio como sendo um fato “extremamente violento de racismo”. Ela comentou que depois de uma hora de atraso no voo a tripulação “ignorava completamente” o desespero de Samantha.
Ela relatou que mesmo após a mochila de Samantha ser colocada no bagageiro, os três homens da Polícia Federal foram truculentos na abordagem e ameaçaram algemá-la.
“Samantha era uma ameaça por ser uma mulher, ser preta, ter voz. Ela foi levada pela polícia, eu quase fui levada junto por defendê-la, me agrediram, me ameaçaram. A mãe de Samantha chorava desesperada ao telefone por não saber o destino de sua filha. Eu chorava também. Outras mulheres e homens se desesperavam”, comentou Elaine.
DEMONSTRAÇÃO DE RACISMO E MISOGINIA
Em nota, o Ministério das Mulheres considerou o caso de Samantha Vitena uma demonstração de racismo e misoginia no Brasil. A pasta, que se manifestou na tarde deste sábado sobre a situação, afirmou que esta é uma violência estrutural às mulheres negras no Brasil e pedirá providências à Polícia Federal (PF).
“O episódio contra Samantha Vitena em um voo de Salvador na madrugada deste sábado demonstra o racismo e a misoginia que atingem de forma estrutural as mulheres negras em nosso país”, afirma a pasta.
“A cena é uma afronta a Samantha e a todas as mulheres negras. Pediremos providências à companhia aérea e à PF, que devem desculpas e explicações após a abordagem”, destaca a nota do ministério.