O fóssil de um dinossauro ancestral das aves, que viveu entre 110 e 115 milhões de anos atrás, voltou para o Brasil após ser pirateado por contrabandistas e ficar exposto em um museu de história natural na Alemanha.
Uma cerimônia realizada nesta segunda-feira (12) marcou o retorno do fóssil Ubirajara jubatus ao Brasil, em uma solenidade com representantes dos governos do Brasil e da Alemanha no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Atualmente em Brasília, o fóssil de dinossauro seguirá para o Ceará, onde fará parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri (URCA). Com o tamanho de uma galinha e revestido por penas, o fóssil está em duas placas (positiva e negativa) medindo uma placa 47 centímetros (cm) por 46 cm x 4 cm, pesando cerca de 11,5 kg. A segunda placa mede 47 cm x 46 cm x 3 cm, com peso aproximado de 8,0 kg.
“Sem dúvida, estamos diante de um momento histórico: um réptil que viveu há 110 milhões de anos e passou cerca de 30 anos fora, retorna ao seu sítio”, disse a ministra Luciana Santos.
“A repatriação foi um esforço dos pesquisadores e pesquisadoras do nosso país. É um patrimônio brasileiro que está de volta após uma cooperação bem-sucedida com a Alemanha”, afirmou a ministra.
O reitor da Universidade Regional do Cariri, Francisco do O’ de Lima Junior, destacou a concretização da decisão tomada por autoridades alemãs em meados do ano passado. “Nos dá de brinde essa convivência, essa cooperação, por reconhecer que para a gente ter autodeterminação política, ética, vale também o reconhecimento do nosso patrimônio, então aqui a Universidade Federal do Cariri, em nome da nossa comunidade acadêmica, nós queremos agradecer toda nossa cooperação que já se desenvolve no conjunto de pesquisa em andamento”.
UBIRAJARA
O Ubirajara jubatus é o dinossauro mais antigo da Bacia do Araripe, conhecida como centro paleontológico, entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, e considerado uma espécie que antecedeu as aves.
O fóssil foi retirado ilegalmente do Brasil nos anos 1990 e há cerca de três anos, foi identificado no Museu Estadual de História Natural de Karlsruche, na Alemanha, após publicação científica.
Em 2021, o movimento #UbirajaraBelongsToBR teve bastante repercussão nas redes sociais e exigia a repatriação do fóssil. Em setembro do ano passado, o museu afirmou que a peça era propriedade do governo alemão e que havia adquirido o dinossauro antes da entrada em vigor da Convenção da Unesco, que regula a transferência de propriedade de bens culturais, de 1970.
Mas, de acordo com a imprensa, o Museu de História Natural já admitiu ter feito declarações falsas sobre a origem do fóssil, o que acelerou o processo de repatriação. A negociação entre o governo brasileiro e alemão incluiu a apresentação de documentos comprobatórios sobre o Ubirajara e também sobre outros fósseis já identificados.
Desde 1942, a legislação brasileira exige a autorização prévia para qualquer extração de fósseis e a fiscalização feita por instância federal. O tráfico desses materiais tem sido um problema, principalmente na bacia do Araripe. Nos últimos três anos, o Ministério Público Federal já atuou no repatriamento de dezenas de outros fósseis que estavam na Europa, no Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica, ou que eram comercializados em sites de leilões na Itália e França.
“Hoje é um dia para agradecer. Falamos de anos de procura e negociação de uma peça fundamental que explica os primórdios de vida na Terra. O Ubirajara é de grande representatividade para a população do Ceará, Nordeste e Brasil”, acrescentou o governador do Ceará, Elmano de Freitas.
Luciana Santos destacou ainda a importância da cooperação científica mantida com a Alemanha há mais de 50 anos e apontou que espera por outros eventos semelhantes de repatriação de bens da União. “Espero que esse reconhecimento por parte da Alemanha seja inspiração para outros países que detêm, em circunstancias não elucidadas, outras espécimes da biodiversidade paleontológica brasileira”.