
O sequestro por 50 dias, sob a desumana política de ‘tolerância zero’ do regime Trump, do menino brasileiro de 5 anos, Thiago, que foi separado na fronteira da mãe, Ana Carolina, deixou marcas profundas e, como denuncia a mãe, “ele está assim desde que o peguei de volta”.
Para Trump foi apenas um expediente para angariar votos de certo eleitorado nas intermediárias de novembro, criminalizar imigrantes, fabricar bodes expiatórios e pressionar por verbas para seu muro na fronteira sul.
Thiago não quer falar com ninguém, relata a mãe. A regressão sofrida no cativeiro fora tal que pediu para voltar a mamar no peito. Tornou-se retraído. Muitas vezes se esconde num armário para evitar interagir. Da ‘família adotiva’ aonde foi largado nesse tempo todo, apenas diz que “eles não gostavam de mim”. “Ele não quer falar com ninguém”, diz Ana Carolina.
Para as crianças, e as famílias, um trauma, duro e persistente, cuja superação não é certa, nem fácil. Até Trump ser forçado, pelo repúdio interno e internacional, a suspender as separações de famílias, as crianças seqüestradas já eram quase 3.000. Centenas ainda continuam nessa situação.
Um dos maiores pesadelos dessas crianças é voltarem a perder os pais. Ansiedade e medo também visível no caso de Thiago.Quando foi a um restaurante e a mãe se ausentou da mesa por um momento, logo se inquietou, perguntando onde estava a mãe e olhando em volta. Porque demorou tanto, ele lhe perguntou, assim que reapareceu.
A filha de sete anos de um salvadorenho recentemente reunida a ele, sempre chora quando ele sai de casa, porque acha que não vai voltar. “Ela está com medo”, disse Jose Dolores Munoz, em espanhol. “Ontem eu a deixei chorando, ela ficava me dizendo: ‘Você não vai voltar. Você está mentindo. Você está me deixando’”.
Há crianças que se apavoram ao ver um policial, temendo que vá lhes tirar a mãe ou o pai. Outros transtornos se manifestam. Um menino de três que foi separado de sua mãe, agora passa o tempo fingindo que está algemando e vacinando as pessoas à sua volta – uma repetição daquilo por que passou.
Sequer o reencontro com o pai ou a mãe restaura a tranqüilidade e a alegria. Como relatou Ana Carolina, quando conseguiu ter o filho de volta, ela chorou e o abraçou no aeroporto de Filadélfia. “Meu coração batendo forte no peito”, acrescentou. “Mas ele ficou como se estivesse congelado”.
Ela contou, também, como Thiago chorou, no dia seguinte à captura na fronteira, quando teve de lhe dizer que seria separado dela. Chorou até dormir. Outro menino precisou ser hospitalizado, após a aterrorizante notícia, depois de um ataque de pânico.
Ainda na detenção, Ana Carolina foi informada de que o filho não queria tomar banho, nem comer. Ela sequer sabia onde ele estava – era Los Angeles – mas pôde, então, falar ao telefone com ele, que chorou sem parar.
Ela procurou animá-lo, dizendo que logo ficariam juntos, mas várias semanas se passaram. Após pagar fiança e ser liberada no início de julho, com a ajuda de um advogado recuperou a guarda do filho. Ela pensa em pedir a ajuda de um terapeuta. Thiago começa a se soltar, com o primo Rogério, de 8 anos. Mas há ainda um longo caminho à frente para as pequenas vítimas do terrorismo de Trump.