“Devemos rejeitar as narrativas disseminadas durante um chá das 5 em Paris, Londres ou Oslo e verbalizadas por ambientalistas abastados ou acadêmicos distantes da realidade amazônica”, afirma o presidente da Ciesp/Pará
Eng. JOSÉ MARIA DA COSTA MENDONÇA (*)
Analisando superficialmente a Amazônia (precisamente o bioma Amazônia que abrange 49,2% do território brasileiro) e a seleção de Belém, a porta de entrada deste bioma, como anfitriã da Conferência das Partes de número 30 (COP30), em 2025, aparentemente o território “está bem na foto”. No entanto, examinando mais detalhadamente, percebemos que embutido a essa escolha, que tem como “pano de fundo” a defesa do meio ambiente, o desejo dos países do chamado “1º mundo” de manter o Brasil como caudatário não protagonista do cenário global futuro, mantendo a Amazônia subdesenvolvida, dependente e submissa. Essa estratégia é respaldada por inúmeras barreiras à infraestrutura na nossa região.
Para aqueles que enxergam a política global com olhos cor de rosa, é interessante analisar o que aconteceu quando o Brasil despertou para a necessidade de explorar petróleo e gás em sua plataforma equatorial, prática que já vem ocorrendo nos países vizinhos. Fantasiaram a descoberta de “bancos de corais vivos” na área, alegação que foi contestada por pesquisadores respeitados da Universidade Federal do Pará (UFPA). Curiosamente, o mapa que indicava esses corais terminava exatamente na divisa do Amapá com a Guiana Francesa, levantando a suspeita de que os corais fantasiosos não falavam francês.
“Fantasiaram a descoberta de ‘bancos de corais vivos’ na área, alegação que foi contestada por pesquisadores respeitados da Universidade Federal do Pará (UFPA). Curiosamente, o mapa que indicava esses corais terminava exatamente na divisa do Amapá com a Guiana Francesa, levantando a suspeita de que os corais fantasiosos não falavam francês”
Mas é importante observar que essa obtusa discussão sobre a exploração de petróleo na plataforma continental equatorial brasileira, precisamente nas bacias Pará-Maranhão e Pará-Amapá, também chamada, intencionalmente, de bacia da foz do Amazonas, justamente para causar as polêmicas citadas, escancarou uma verdade importante. O especialista em energia, Professor Alan Kardec, que também é presidente da Companhia Maranhense de Gás (Gasmar), expôs essa realidade no seu artigo ‘_Kissinger e a Margem Equatorial_’: – “em nossa opinião, há duas propostas hoje no Brasil sobre a exploração de petróleo e a importância estratégica da Margem Equatorial: uma que é a adesão pura e simples ao discurso que tem como eixo central o que Kissinger cognomina “projeto europeu”, enquanto a segunda é dos que abraçam um projeto nacional de defesa do Brasil e de combate à desigualdade no Arco Norte – a parte do Brasil situada acima do paralelo 16”. Reiteramos nosso apoio a esse posicionamento – a discussão é política, não ambiental. Devemos rejeitar as narrativas disseminadas durante um chá das 5 em Paris, Londres ou Oslo e verbalizadas por ambientalistas abastados ou acadêmicos distantes da realidade amazônica.
Vale a pena recordar que há décadas – mais de 30 anos ou quase 50 anos – estamos tentando conseguir o derrocamento no Pedral do Lourenço, um obstáculo de apenas 43 km que, uma vez desfeito, viabilizaria a plena navegação na hidrovia do Tocantins, reduzindo os custos de transporte entre a mesorregião de Marabá e o porto de Vila do Conde. No entanto, basta uma visita na área para perceber que os ribeirinhos do local estão sendo catequizados para se manifestarem contra o projeto. Um jovem trabalhador da região se posicionou: “a explosão dos pedrais matará os peixes e prejudicará toda a ictiofauna do rio” – sinceramente, gostaria que fosse conhecimento, mas a experiência diz que isso é doutrinação.
Enquanto ficamos nessa discussão sem sentido, na região Sudeste, em São Paulo, o estado mais desenvolvido do Brasil, já estão em andamento projetos de derrocamento de pedrais na hidrovia Tietê-Paraná. Esse contraste reforça o paradoxo da nossa região: rica com uma sociedade pobre.
Outro exemplo absurdo é o que vem ocorrendo com o impedimento da construção da Ferrogrão, ferrovia que ligará o centro produtor de grãos aos terminais portuários do rio Tapajós, cujo projeto segue paralisado. Enquanto no resto do mundo as ferrovias são consideradas soluções de transporte eficientes e ecológicas, por serem um meio de transporte com poucas paradas intermediárias, pouca interação com o território por onde passam – chamadas de túneis ecológicos ou caminhos ambientais – na Amazônia elas são proibidas de serem construídas em nome do meio ambiente.
Poderíamos listar inúmeros outros projetos na Amazônia que permanecem paralisados, mascarados sob o pretexto ambiental e de proteção de comunidades tradicionais. No entanto, a verdadeira razão é não permitir uma infraestrutura que poderia impulsionar o desenvolvimento da região e do país como um todo.
Como sociedade, precisamos nos unir contra essas práticas injustas. Talvez o advento da COP 30 nos faça levantar e lutar pelo nosso futuro. Enquanto isso, permanecemos de cócoras, submissos, pobres e dependentes.
(*) Presidente do Centro das Indústrias do Pará – CIP