
A previsão da retomada da energia elétrica estava prevista para esta sexta-feira (19), por conta do temporal que atingiu o Rio Grande do Sul na última terça-feira (16). No entanto, os moradores dos municípios da área em que a energia é privatizada pela CEEE Equatorial podem ter que aguardar um prazo ainda maior pela normalização do serviço.
A concessionária que abastece a capital gaúcha repete o exemplo que a também privatizada Enel fez com os paulistas, mantendo milhares de consumidores às escuras por dias após as chuvas.
Em entrevista ao programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha, o superintendente da companhia estimou que o restabelecimento total da energia elétrica deve ocorrer até domingo (21). Ao todo, são 266 mil consumidores afetados, incluindo os da RGE.
“A nossa expectativa, caso não venha acontecer nenhum evento climático extremo como esse, é concluir os serviços até o final de semana [domingo]. Lógico que a gente tem trabalhado fortemente para tentar antecipar”, disse o superintendente da concessão.
Na quarta-feira (17), a direção da concessionária estimou, à RBS TV, a previsão de restabelecimento total da energia “até sexta, sábado”. A dificuldade na retomada do fornecimento do serviço se dá, segundo a CEEE Equatorial, na intensidade do temporal que atingiu o estado, provocando estragos na rede elétrica.
“Nós temos presenciado grandes danos ocasionados ao nosso circuito. Árvores que caíram, que derrubaram estruturas, que quebraram cabos. Esse tipo de reparo aponta para necessidade de uma equipe especializada, e o tempo é maior”, pontuou o superintendente.
Conforme balanço divulgado na manhã desta sexta, 81 mil clientes da CEEE Equatorial ainda estão sem luz. A maior parte é da Região Metropolitana. “Eventos desse porte, mundo afora, demoram entre uma semana e duas semanas para que o problema seja totalmente resolvido”, disse.
Na área da RGE, 185 mil clientes aguardam a retomada do serviço. Região Metropolitana (131 mil), Vale do Rio Pardo (17 mil), Vale do Taquari (16 mil), Central (8 mil) e Vale do Sinos (6 mil) concentram o maior número de consumidores afetados, segundo a concessionária.
CPI
Assim como foi em São Paulo, com o apagão em que a ENEL levou mais de uma semana para reparar a energia no estado, onde os parlamentares paulistas criaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu, na última quinta-feira (18), o primeiro pedido de CP) contra a CEEE Equatorial, para apurar os desmandos da falta de energia para o povo gaúcho.
Os vereadores, comandados pela vice-líder do governo na Casa, Cláudia Araújo (PSD), levaram menos de um dia no recesso para se articular em torno de uma comissão. Mesmo lideranças do MDB, partido do prefeito Sebastião Melo, assinaram o documento, que aponta dez causas principais para investigar a empresa.
O estopim foi a lenta resposta da empresa aos estragos da tempestade que deixou parte da cidade às escuras até então.
No estado, 266 mil clientes ainda estão sem luz. Na capital, 17 bairros seguem sem luz e a empresa, que chegou a se gabar de trazer uma equipe da filial maranhense da Equatorial, só garante que o restabelecimento da energia virá no domingo.
A Equatorial assumiu o controle da distribuição estatal CEEE em um leilão ocorrido em 2021, por módicos 100 mil reais. Como parte da privatização proposta pelo governador Eduardo Leite (PSDB), a parte de transmissão foi vendida por 2,6 bilhões de reais à sino-brasileira CPFL, e o setor de geração de energia por 928 milhões para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
A CEEE Equatorial não é a primeira a sofrer com a ação legislativa após demora no atendimento à população. No final do ano passado, a Enel São Paulo foi alvo de duas comissões, na Assembleia Legislativa (Alesp) e na Câmara Municipal da capital paulista, após deixar partes da metrópole às escuras por mais de uma semana.
A CPI em âmbito estadual havia sido aberta antes do apagão e foi concluída ainda no ano passado, com a conclusão de que a empresa foi de fato negligente no cumprimento de suas obrigações. A CPI municipal espera receber o presidente da Enel em um depoimento em 2024.
Já na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS), o líder e vice-líder do Partido dos Trabalhadores (PT), os deputados Luiz Fernando Mainardi e Miguel Rossetto pretendem começar a colher assinaturas dos colegas de parlamento oara instaurar a CPI. São necessárias, no mínimo, 19 assinaturas para protocolar a proposta de CPI no primeiro dia de retorno dos trabalhos dos deputados na Assembleia.
Miguel Rossetto justificou a proposta de CPI, destacando a necessidade de a Equatorial responder pelo péssimo serviço prestado e a importância da Assembleia investigar e agir para garantir a qualidade e regularidade da energia elétrica para todos os municípios atendidos pela concessionária.
O histórico problemático da empresa, desde a privatização da CEEE-D em março de 2021, com lance de R$ 100 mil e sem concorrência, se repetiu na tempestade desta semana. O prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB), chegou a apelar nas redes sociais para o restabelecimento na energia pela CEEE Equatorial.
Ao propor a CPI, Rossetto ressalta a repetição da situação com graves prejuízos econômicos e para a população. A falta de luz afeta casas, estabelecimentos comerciais, escolas, hospitais e até as estações do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), causando a falta d’água na cidade por falta de energia para drenagem e macrodrenagem.
“A Assembleia deve abrir uma CPI para investigar esse péssimo serviço prestado pela Equatorial, tomar iniciativas fortes para garantir o direito da população com qualidade e regularidade”, afirma Rossetto. A CEEE Equatorial é responsável pela distribuição de energia elétrica para cerca de 1,7 milhão de consumidores em 72 municípios no Rio Grande do Sul.
Em manifestação na quarta (17), o governador Eduardo Leite (PSDB) cobrou uma melhor relação da CEEE Equatorial com as autoridades e com a sociedade.
“O que a empresa precisa fazer, além de garantir o atendimento e o restabelecimento o mais rápido possível, é também se relacionar adequadamente. Eu fiz um contato com o presidente do Grupo CEEE Equatorial aqui para demandar exatamente isso”, afirmou o governador.